As formas afro-portenho e afro-montevideano são de recomendar, mas os acordos ortográficos – tanto o de 1945 como o de 1990 – não são claros quanto ao uso de hífen nestes compostos, que consistem em combinar dois gentílicos (entendendo gentílico de forma muito lata).
No acordo de 1945 (Base XXVIII, c)), referem-se apenas «nomes em que se combinam simetricamente formas onomásticas (tal como em bispo-conde, médico-cirurgião, etc.): Áustria-Hungria, Croácia-Eslavónia», donde se infere que a combinação dos gentílicos correspondentes terá de exibir o hífen: austro-húngaro. No acordo de 1990 (Base XV, 1), faz-se menção mais clara a estes compostos (suprimem-se os exemplos irrelevantes para este esclarecimento): «Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido: [...] afro-asiático, afro-luso-brasileiro, [...] luso-brasileiro, [...].»
Contudo, a verdade é que o elemento afro, como outros – luso-, hispano-, nipo- – nem sempre se hifeniza, como comprova o caso de afrodescendente – e nos outros casos, lusodescendente ou hispanofalante. (cf. Vocabulário Ortográfico do Português no Portal da Língua).
Note também que no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (ACL) se regista lusodescendente, com a variante luso-descendente, formas das quais se infere que afrodescendente é forma legítima, se bem que a par de afro-descendente. Tudo isto leva a supor que afro- e outros gentílicos reduzidos têm hífen se denotam origem geográfica, etnia ou nacionalidade quando associados em compostos a adjetivos do mesmo tipo; daí afro-asiático, afro-árabe e afro-americano. Nestes casos, o significado de afro-, como os de outros radicais (geralmente) reduzidos (luso-, hispano-, franco-, austro-...) oscila entre «que é de [região, etnia, país]» e «que está na origem de [grupo étnico/nacional]».
Nos dicionários mais recentes elaborados em Portugal (ACL, Infopédia, Priberam), a prática é hifenizar as formas reduzidas de adjetivos pátrios e etnónimos quando se coordenam com formas completas de adjetivos e etnónimos do mesmo tipo: afro-asiático, luso-francês, nipo-brasileiro, hispano-árabe.
Perante estes exemplos, e embora gentílicos como portenho e montevideano se refiram a cidades (Buenos Aires e Montevideu, respetivamente), e não a regiões, países ou grupos humanos (casos de Ásia, França, Brasil, Árabes), afigura-se legítimo aconselhar o hífen em afro-portenho e afro-montevideano.
Convém observar, não obstante, que esta é uma área em que conviria uma clarificação por parte das entidades que acompanham a aplicação das normas ortográficas – quer a vigente, quer mesmo a que antes de 2009 se aplicava em Portugal.