Pergunta:
Quero parabenizar o site.
Recorro a vocês para encontrar uma resposta que não encontrei em nenhum outro lugar na rede. É sobre alguns fenômenos linguísticos que tenho observado e para os quais não encontrei definição ou nome. São casos em que a regra sintática é quebrada com um propósito. Não são meramente erros.
Na frase «Ele correu pegar a bola», o verbo correr assume uma transitividade que não lhe é própria. Um fenômeno parecido ocorre com «Vá ao quarto correndinho buscar meu telefone», em que o verbo no gerúndio recebe um diminutivo. Claro que as duas frases quebram normas gramaticais, mas não são meros erros, elas têm um propósito, atribuem uma expressividade à construção.
Gostaria de saber se há figuras de linguagem em que esses dois fenômenos possam ser enquadrados. Inclusive, gostaria de saber se há mais exemplos desse mesmo fenômeno.
Obrigado.
Resposta:
Sobre a primeira frase («Ele correu pegar a bola»), o verbo correr não muda de transitividade. A figura de linguagem presente nessa construção é a elipse da preposição para, indicativa de finalidade: «Ele correu para pegar a bola.» Existem vários exemplos no Corpus do Português em linguagem luso-brasileira (literária, jornalística, oral) desse uso: correr + verbo no infinitivo. Em todos se percebe a mesma elipse.
No entanto, caso seja um uso regional, que desconhecemos, talvez se possa aventar a possibilidade de enálage (confira a sua definição aqui), em que o verbo correr, intransitivo, passa a auxiliar, à semelhança de ir, mantendo-se o valor semântico básico de movimento/direção: «Ele correu (foi) pegar a bola.»
Acerca do diminutivo no gerúndio («Vá ao quarto correndinho buscar meu telefone»), não parece haver uma figura de linguagem específica, mas talvez se possa justificar tal uso alegando-se eufemismo, figura que consiste em suavizar, amenizar uma ideia.
Afinal, o uso de correndinho parece suavizar o sentido do verbo correr, sugerindo uma ação rápida, mas realizada com leveza e delicadeza. Esse diminutivo atenua o tom do imperativo, tornando o pedido mais gentil, talvez até afetuoso, em contraste com a rigidez de uma ordem direta como «Vá correndo!».
Certamente há outros exemplos com o sufixo -inho ligado a verbo e a outras classes gramaticais, nos quais cada uso pode corresponder a um efeito de sentido diferente:
– Hoje cedo estava chovendinho aqui.
– Veja como ele está todo dormindinho