Aberturas - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Aberturas
Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. As notícias têm dado conta da ebulição social e política registada nos últimos dias em França, país donde chegam igualmente ecos muito diferentes, com interesse para uma reflexão sobre o futuro da língua portuguesa. Com efeito, no Baromètre des Langues (Barómetro das Línguas), cuja 4.ª edição foi lançada em dezembro de 2022, numa publicação do Ministério da Cultura francês, apresentam-se dados sobre a relevância dos idiomas da atualidade relativamente a um conjunto de vários fatores. Trata-se de uma lista ordenada de 634 línguas, em que o português aparece bem colocado, em 9.º lugar, o qual, no entanto, não será tão confortável como seria desejável. Um ponto forte é o número de falantes, mais de 221 milhões, mas o valor atingido quanto ao índice de desenvolvimento humano* (0,633) está abaixo do do turco e pouco acima do tagalo, nas Filipinas. É de concluir que a promoção do português passará  também pela melhoria das condições de vida dos seus falantes.

* O índice de desenvolvimento humano (IDH) «é uma medida resumida do progresso a longo prazo em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde» (PNUD no Brasil). O objetivo da sua criação «foi o de oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento» (ibidem).

2. O Barómetro das Línguas menciona também a língua galega, que alcança um surpreendente 33.º lugar, à frente, por exemplo, do eusquera (ou basco) – cf. notícia em Nòs Diario , em 09/03/2023. A propósito da situação do galego, apresenta-se na Montra de Livros, o livro Pola Nosa Lingua (Pela Nossa Língua), do historiador e geógrafo Xosé María Lema, muito crítico a respeito da política linguística adotada pelo governo autonómico entre 2009 e 2019.

3.  Entre as várias aceções do verbo antecipar, há uma que o faz sinónimo de antever ou prever. Será um uso correto? Esta é uma das seis novas perguntas feitas ao Consultório. Além do tópico referido, incluem-se, portanto, outros, como a sintaxe verbal – a do verbo combater e a de ir num verso camoniano –, a forma "num" (variante regional de não), o uso de noz como nome não contável («bolo de noz») e as diferenças de significado que a colocação dos advérbios também e provoca numa frase.

4. Estudos feitos no domínio da neurociência revelam que a pronúncia regional e os sotaques podem ser fator de comportamentos de discriminação, em maior grau até do que a cor da pele. Na rubrica Diversidades, divulga-se o apontamento que o jornalista francês Michel Feltin-Palas dedicou a este tema, incluindo um relato bíblico, o do xibolete, termo hoje usado no sentido de «sinal de identificação, senha», mas que também ocorre para denotar «a característica que permite associar, frequentemente com intenção discriminatória, um indivíduo a determinado grupo».

5.Uma referência final sobre os novos temas dos programas à volta da língua portuguesa  transmitidos pela rádio pública de Portugal:

– Em Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, 10/03/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, pouco depois do noticiário das 9h00*), conversa-se com António Branco, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e diretor-geral de Portulan Clarin, sobre os avanços da tecnologia aplicada à língua portuguesa e os seus desafios nas políticas linguísticas;

– Em Páginas de Português, difundido na Antena 2, no domingo, 12/03/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 18/03/2023, às 15h30*), entrevista-se Cristina Martins, linguista e professora da Universidade de Coimbra, acerca do ensino de Português como Língua Não Materna. No programa, participa ainda a professora Carla Marques com um apontamento sobre as regras de concordância;

– O programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2 (segunda a sexta, às 09h50* e 18h50*), tem, de 13 a 17/03/2023, como convidado Jorge Bacelar Gouveia, professor de Direito da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, para falar sobre a linguagem associada à área da sua especialidade.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. língua mirandesa encontra-se em risco de se converter numa língua morta. A segunda língua oficial portuguesa, assim reconhecida desde 29 de janeiro de 1999, tem falantes nas regiões do concelho de Miranda do Douro e das freguesias de Angueira e Vilar Seco, pertencentes ao concelho de Vimioso. Esta língua, que integra a família do asturo-leonês, tem sido alvo de diferentes medidas que visam a sua defesa e difusão, como é o caso da criação de uma disciplina escolar, que pretende oferecer às camadas mais jovens um contexto de aprendizagem formal, ou a criação da Biquipédia (a Wikipédia em mirandês), entre outras. Não obstante, um estudo recente, desenvolvido pela Universidade de Vigo, veio mostrar que o mirandês não parece ter o seu futuro assegurado porque a percentagem de jovens que o usam quotidianamente corresponde apenas a cerca de 2% dos seus falantes. A importância que uma língua minoritária assume na identidade de um país é uma realidade a considerar no desenho de uma política de língua madura e responsável, pelo que os resultados do estudo ora divulgado deverão obrigar os responsáveis políticos a uma séria reflexão em torno desta questão, antes que se revele tarde demais para qualquer medida que possa efetivamente ter algum efeito positivo. 

A língua mirandesa tem, ao longo dos anos, merecido a atenção do Ciberdúvidas em textos de natureza variada, que aqui recordamos: «O Mirandês: dialecto ou língua?», «'Carreirones pa la nuossa lhéngua'», «Do solstício e da língua mirandesa», «'Buonos dies'. Aqui fala-se Mirandês, a língua dos avós e das crianças», «Dues Lhénguas», «L mirandés na blogosfera», «Estatuto e número de falantes do mirandês», «O porquê de o mirandês ter sido considerado língua», «Mirandês: letras de uma língua que se apaga», «É preciso proteger o mirandês»

Cf. Hoije ye l die de la fiesta de la Lhéngua Mirandesa + Mirandês assinala 26 anos como segunda língua oficial de Portugal + Mirandês: uma língua não morre enquanto andar no sentir e no falar

2. Qual o uso mais correto: «cedo demais» ou cedo de mais»? Com esta questão, que, não raro, se coloca em diferentes situações de escrita, se abre a atualização do Consultório. Nesta rubrica, ficam igualmente disponíveis respostas de âmbito ortográfico («Oríon, Orião e Orionte» e «Bovinicultura e bovinocultura»), semântico-lexical (««Cerca de» e «por volta de»» e ««De tarde», «à tarde»») e sintático («O pronome nos como constituinte sintático», «A sintaxe de «vir de carro» (transportes)» e «Oração subordinada substantiva completiva: «descobre como funciona a narrativa»»). 

3.  O uso de anglicismos para descrever situações continua a imperar na esfera pública, como o comprova a utilização de termos como chairman ou CEO, usados a propósito da exoneração dos dois principais administradores da TAP (companhia de aviação portuguesa), como assinala José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, neste seu apontamento para o Pelourinho

4.  A sigla LGBT, o seu significado e as suas variantes, constituem o foco do apontamento de Sara Mourato, colaboradora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. 

5. No seu apontamento difundido no programa Páginas de Português, na Antena 2, a professora Carla Marques recorda qual a designação a dar em português europeu ao número 1 000 000 000.

6.  A relação entre os lapsos de linguagem e aspetos do processamento cognitivo da linguagem é sistematizada em alguns dos seus traços pela jornalista Clara Soares no seu artigo transcrito da revista Visãocom a devida vénia.

7. O problema do assédio sexual na Universidade de Lisboa assume-se como a matéria central do artigo da professora universitária Margarita Correia, que reflete sobre o encontro Assédio na ULisboa: conceitos, causas, intervenientes, organizado pelo Movimento U (publicado originalmente no Diário de Notícias e transcrito com a devida vénia). 

8. Entre os acontecimento de relevo para a língua, recordamos que a 6 de março se assinalou o Dia Europeu da Terapia da Fala, o que deu matéria para algumas reflexões em torno da importância desta área da saúde.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em março de 2020 as atenções centravam-se no novo coronavírus, denominado SARS-CoV-2, agente de uma nova doença – a covid-19 –, que rapidamente alastrou a todo o planeta e levou a Organização Mundial de Saúde  a declarar a situação de pandemia (ler "Covid-19 ou doença do coronavírus", em 11/03/2020). Três anos depois, estudos realizados em 14 países muito diferentes, como o Brasil, a Índia, o Irão ou o Canadá, revelam que as medidas de distanciamento físico abalaram a saúde psíquica de quantos perderam entes queridos. Fala-se, portanto, de «luto pandémico» como aquele que impede uma pessoa de recuperar de sentimentos de profunda perda, solidão e desamparo. Outra denominação para esta vivência é «luto suspenso», como se detalha na nova entrada da rubrica A covid-19 na língua.

2. No Consultório, as novas respostas são em número de dez e abordam os seguintes tópicos: a análise da concordância com os quantificadores «a maioria de» e «a metade de»; as orações substantivas relativas introduzidas por preposição; a locução «tal qual»; o significado do anglicismo bot; a expressão «atestado médico»; as orações adverbiais gerundivas; as noções de dêitico pessoal e dêitico temporal; o conceito de «modalidade avaliativa»; o uso nominal de não-sei-quantos; e aspetos da história de lusitano como sinónimo de português.

3. Sobre o eurocentrismo nos manuais escolares de História em Portugal – especificamente sobre as representações dos povos originários do Brasil ilustradas num deles –, escreveu no jornal Público de 2 de março de 2023 a professora e investigadora Cristina Roldão. O artigo fica disponivel, também, na rubrica ControvérsiasE em O Nosso Idioma, transcreveram-se dois outros textos, igualmente com a devida vénia aos autores e respetivas publicações:

– no mural Língua e Tradição (Facebook, 27/02/2023), transcreve-se  as considerações da advogada e professora de Português Lara Brenner à volta das confusões que os chamados "falsos amigos" lexicais do inglês causam no uso de palavras como literalmente, aplicar e realizar;

– um apontamento do tradutor e professor universitário Marco Neves publicado no blogue Certas Palavras , no dia 28/02/2023, a respeito das origens da pontuação e da sua importância como conjunto de sinais auxiliares da escrita e da leitura.

4. Na informação mediática tem tido relevo a decisão tomada por certas editoras no sentido de expurgarem os livros dos escritores Roald Dahl (1916-1990) e de Ian Fleming (1908-1964) de palavras racistas e sexistas. A propósito deste tema, inclui-se nas Controvérsias o artigo de opinião que a  economista Maria João Marques, assinou no jornal Público em 01/03/2023, considerando que esconder tais expressões é fazer com que os leitores «[fiquem] arredados do princípio fundamental da leitura: um texto é sempre construído, e só assim se percebe, dentro do seu contexto.»

5. Da Região Administrativa Especial de Macau, chega a notícia da intervenção que, na Assembleia Legislativa daquele território, fez o deputado José Chui Sai Peng, para defender medidas promotoras da tradução para português da produção académica e tecnocientífica da China (in Sapo, 27/02/2023). Salientando a importância do legado linguístico de Macau e o seu contributo para o projeto Grande Baía, lançado pelo governo de Pequim, Chui Sai PENG considerou que o facto de os recursos académicos, científicos e tecnológicos chineses estarem geralmente apenas em chinês e inglês «não favorece a entrada da sabedoria chinesa nos países de língua portuguesa». Pormenores nas Notícias.

Na imagem, "The grotto of Camoens, Macao" ("A gruta de Camões, Macau"), in Thomas Allom e George Newenham Wright, China, in a series of views, displaying the scenery, architecture, and social habits, of that ancient empire [em tradução livre, A China, num conjunto de visões da paisagem, da arquitetura e dos hábitos sociais desse império antigo], Fisher, Son  Co., 1843.

6. Quanto aos temas de três dos programas dedicados à língua portuguesa na rádio pública de Portugal:

– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 03/03/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, pouco depois do noticiário das 9h00*), a professora Sandra Duarte Tavares dá indicações sobre como aperfeiçoar as competências linguísticas e refere-se ao gentílico da cidade marroquina de Tânger. No programa participa ainda a linguista brasileira Edleise Mendes com uma crónica sobre o conceito de translinguagem.

– Em Páginas de Português, transmitido na Antena 2, no domingo, 05/03/2023, às 12h30* (com repetição no sábado seguinte, 11/03/2023, às 15h30*), analisa-se um texto sobre políticas da língua portuguesa elaborado pelo ChatGPT com a linguista e professora universitária Margarita Correia, que comenta igualmente o impacto da Inteligência Artificial (AI) na aprendizagem do português. Inclui-se também um apontamento da professora Carla Marques sobre a diferença entre bilião e «mil milhões».

– De segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50*, na Antena 2, emite-se Palavras Cruzadas, um programa realizado por Dalila Carvalho.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O mundo tomou conhecimento de mais uma história de horror vivida nas costas de Itália: uma embarcação de madeira que transportava cerca de 200 migrantes ilegais naufragou ao largo da costa da comuna italiana de Crotona. Mais de 60 pessoas morreram, incluindo crianças e um recém-nascido. A situação ocorrida, resultante de mais uma ação criminosa do tráfico ilegal de migrantes, voltou a ser descrita como uma «tragédia humanitária». Esta é, recordamos, uma construção não aceitável porque encerra uma contradição nos termos uma vez que o adjetivo humanitário descreve alguém «dotado de bons sentimentos» ou alguém que «procura o bem geral da humanidade». Nesta lógica, carece de sentido qualificar uma tragédia como humanitária, sendo aconselhável a opção por construções como «tragédia humana» ou «trágico acidente». 

Este assunto foi já tratado no Ciberdúvidas em diversas ocasiões: «Como é que uma tragédia pode ser humanitária!?», «Porque é incorreta a expressão crise humanitária?» ou «A tragédia que voltou a ser "humanitária"...».

2. Em certas regiões de Portugal subsistem ainda as formas medievais dormide e fazede, pertencentes ao modo imperativo dos verbos dormir e fazer e que convivem com as formas do português moderno, tal como se explica nesta resposta. A atualização do Consultório inclui ainda questões lexicais ligadas à ortografia («O nome butelo») ou à neologia («O neologismo zerésimo») e trata aspetos de natureza sintática relacionados com a concordância («Quanta luz é o suficiente...») e com a classificação de orações subordinadas e das palavras que as introduzem («O advérbio interrogativo quando»). Por fim, uma proposta de tradução do anglicismo «save the date».  

3. A identificação da classe de palavras a que pertence que na frase «Comprei uma maçã que estava podre» constitui-se como matéria para o apontamento de Inês Gama, colaboradora do Ciberdúvidas (emitido no programa Páginas de Português, na Antena 2). 

4. A questão da aprendizagem em diferentes fases da vida é objeto de análise no artigo intitulado «Será que burro velho não aprende línguas?», da autoria da professora universitária e linguista Margarita Correia (publicado no Diário de Notícias e aqui partilhado com a devida vénia). 

5. A polémica em torno da decisão de alterar a linguagem considerada ofensiva nos livros de Roald Dahl chega a uma nova fase, com a editora a anunciar que decidiu manter duas publicações: uma com o texto original e outra com adaptações linguísticas. Caberá, deste modo, aos leitores a decisão de ler uma ou outra obra (notícia aqui, partilhada com a devida vénia). 

6. Destaque ainda para: 

– A revista Filamentos, uma publicação bilingue (português e inglês) de artes e letras relacionadas com a diáspora açoriana, da responsabilidade da Universidade Estadual da Califórnia;

– A ação Políticas de  língua para emigrantes-imigrantes – Situação da língua portuguesa no mundo e em Portugal, que conta com a participação das professoras Margarita Correia e Micaela Rámon, com lugar na Biblioteca Lúcia Craveiro da Silva (dia 28 de fevereiro de 2023, pelas 18h, com transmissão via zoom (https://us06web.zoom.us/j/86087927144). 

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em 24 de fevereiro de 2022 desencadeava-se o conflito que hoje é tema permanente nas notícias: a guerra russo-ucraniana, cada vez mais ameaçadora para a paz no mundo. As opiniões veiculadas pelos media dividem-se quanto aos acontecimentos dos últimos doze meses na Ucrânia: na perspetiva ocidental, trata-se de uma invasão, mas, do prisma russo, é uma intervenção militar em defesa da Rússia. Em O Nosso Idioma, chama-se a atenção para a ambivalência e as subtilezas das palavras referentes a este cenário beligerante, numa reflexão da professora Carla Marques.

Na imagem, recriação do chamado «símbolo da paz», desenhado por Gerard Holtom (1914-1985) para a Campanha pelo Desarmamento Nuclear, movimento fundado em 1958 (fonte: Andri Tegar Mahardika, Pixabay).

2. Ainda em O Nosso IdiomaCarla Marques assina outro apontamento, acerca da recorrente forma incorreta «foi abusado/a», enquanto uma associação vocabular menos habitual  («destilar ensinamentos») dá o mote a Sara Mourato para um conjunto de considerações sobre a semântica do verbo destilar. Transcrevem-se igualmente, com a devida vénia, um artigo do professor universitário Marco Neves, que evidencia a mistura linguística inerente à história do português – uma «língua bastarda» como as outras (Certas Palavras, 21/02/2023); e a crítica do advogado e académico Jorge Bacelar Gouveia à adoção da língua inglesa nos cursos de Direito existentes em Portugal (in Público, 16/02/2023).

3. Sucedâneo é sinónimo de substituto, mas, a respeito da substituição de pessoas em certas funções, pode falar-se de «funcionários sucedâneos»? A questão faz parte da atualização do Consultório, que inclui outras sete perguntas, num total de oito: uma laranja «corta-se em dois» ou «em duas»? A expressão «infantaria maquinizada» está correta? Diz-se «bebidas é connosco» ou «são connosco»? Como se identifica uma «oração de suplementação»? O que significa «ser ressolha»? Porque se escreve acidente, e não "accidente"? O verbo "proagir" existe?

4. A repressão política cala a palavra. Na Montra de Livros, apresenta-se o novo número da revista Veredas, publicação da Associação Internacional de Lusitanistas, no qual se apresenta o dossiê temático «Prisões e confinamentos: escrita do cárcere», em torno da produção literária em ambientes sem liberdade de expressão.

5. Também o masculino genérico, isto é, o emprego de formas do masculino plural para referir indivíduos de diferentes géneros, tem implicações repressivas e efeitos de exclusão –  defende Clara Não, num artigo divulgado no jornal Expresso, em 20 de fevereiro de 2023, e agora acessível em Controvérsias.

6. As vantagens e os perigos do desenvolvimento dos chatbots ou «programas de conversa» em Inteligência Artificial continuam a suscitar enorme interesse. Nas Diversidades, via jornal Público (19/02/2023), disponibiliza-se um trabalho da jornalista Karla Pequenino, que compara o funcionamento do ChatGPT e da nova versão do motor de pesquisa Bing.

7. A divulgação científica em linguagem inteligível é necessidade urgente, e, portanto, merecem sempre registo as iniciativas com esse intuito. Um bom exemplo é o já aqui mencionado Palavrões da Ciência, um programa difundido pela Internet, em podcast, da autoria de Marco Neves e de Cristina Nobre Soares. O episódio 5 (21/02/2023) é dedicado à Botânica e tem como entrevistada Francisca Aguiar, professora no Instituto Superior de Agronomia, que começa por explicar o que significa o termo angiospérmica. Relativamente a este e outros episódios, ver aqui.

8. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, são convidados:

– O professor Sweder Souza, coautor do livro Português Língua Não Materna: Contextos, Estatutos e Práticas de Ensino numa Visão Crítica, (U. Porto Press), em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 24/02/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*);

António Horta Branco, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e diretor-geral da Portulan Clarin, que explica os últimos avanços da tecnologia aplicada à língua, no  Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 26/02/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 4/03/2023, às 15h30*). Este programa inclui ainda um apontamento da consultora do Ciberdúvidas Inês Gama.

Entre outros programas dedicados a temas da língua portuguesa, registe-se, por último, Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido pela Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50 e às 18h50*. De 27 de fevereiro a 3 de março, convida-se a economista e professora de Economia Mariana Mortágua para falar de dinheiro digital, das criptomoedas e da negociação em bolsa através de algoritmos.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, enquanto prosseguem as greves, enche agora as manchetes o anúncio do pacote governamental dedicado à habitação. Vem, portanto, a propósito recordar que, do radical do verbo habitar, deriva habitação e outras palavras da mesma família como habitante, habitáculo, habitacional, habitável, inabitável ou desabitado; marginal a esta série de derivados é habitat, vocábulo de configuração menos usual (ver aqui). Do ponto de vista histórico, sabe-se que habitar já ocorria no século XV, como termo certamente introduzido por via erudita. Com efeito, habitar resulta diretamente do latim habĭto, «ter muitas vezes, trazer habitualmente» e «habitar, morar, residir», verbo que partilha, afinal, o radical escondido em haver, de habere, «ter, possuir, ser, estar senhor de, conter, encerrar, abranger, exibir», e em hábito, de habĭtus, «condição ou estado de algo; condição, hábito, aparência, compromisso». Na língua-mãe do português, parece, portanto, que à noção de morada se associa um forte  sentido de posse e até de identidade, suscetível de favorecer choques individuais e de grupo em matéria de direito ao (mesmo) espaço.

2. Nas oito novas respostas que atualizam o Consultório, dominam os tópicos de sintaxe, com esclarecimentos relativos a um caso de modificador apositivo, à sintaxe do advérbio não, ao uso de vírgula com adjuntos adverbiais, à colocação pré-verbal de orações subordinadas substantivas completivas e ao verbo crer seguido de oração com o verbo no conjuntivo. Completam este conjunto as respostas sobre as locuções «na ótica de» e «perder a vida», bem como a respeito do significado de revidendo.

3. Na Montra de Livros, duas apresentações:

– O volume Português Língua Não Materna: contextos, estatutos e práticas de ensino numa visão crítica, (U.Porto Press, editora da Universidade do Porto), que reúne estudos que evidenciam as particularidades de ensino-aprendizagem de Português Língua Não Materna em diferentes espaços geográficos.

– A nova edição do Vocabulário de Nomes Próprios, publicada pela UA Editora e organizada por João Paulo Silvestre (Universidade de Aveiro – UA), que dá assim visibilidade à amplitude da intervenção de Rafael Bluteau (1638-1734) entre os precursores dos estudos de onomástica em Portugal, em especial no tocante aos nomes próprios pessoais (antropónimos).

4. Em O Nosso Idioma, disponibiliza-se um  apontamento do revisor de textos e escritor brasileiro Gabriel Lago publicado no mural Língua e Tradição (Facebook, em 27 de janeiro de 2023), à volta da histórica semântica das locuções «graças a» e «apesar de».

5. O tema "Políticas de língua para emigrantes e imigrantes" vai ser discutido em 28/02/2023, pelas 18h00, no ciclo O Desassossego das Palavras, promovido pela Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva e realizado via Zoom. Nesta ação são intervenientes as professoras Margarita Correia (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) e Micaela Ramón (Universidade do Minho), com moderação do linguista e escritor José Moreira da Silva.

6. Relativamente a programas sobre temas da língua portuguesa, na rádio pública de Portugal, salientam-se:

Língua de Todos, todas as sextas-feiras na RDP África, que dedica a emissão de 17/02/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*) à relação da consciência sintática com a pontuação numa entrevista com a linguista e professora Ana Luísa Costa (Escola Superior de Educação de Setúbal e Centro de Linguística da Universidade de Lisboa).

Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, aos domingo, centra o programa de 19/02/2023, às 12h30* (repetido em 25/02/2023, às 15h30*) na obra Português Língua Não Materna: Contextos, Estatutos e Práticas de Ensino, numa Visão Crítica, (ver acima ponto 3) numa conversa com um dos seus organizadores, o professor Sweder Souza. Conta-se ainda com um apontamento gramatical da professora Carla Marques.

– Refira-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido pela Antena 2, de segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50*. Nas emissões de 20 a 24 de fevereiro, o tema são os tremores de terra.

* Hora oficial de Portugal continental. 

7. Como em 21 de fevereiro se festeja o dia de Carnaval – a chamada Terça-Feira Gorda –, a próxima atualização fica marcada para 24 de fevereiro.

Entretanto, deixam-se as ligações para material em arquivo sobre esta festa tradicional, a que muitos chamam também Entrudo: "Entrudo, novamente", , "A palavra confete", "Do Carnaval ao futebol", "O Carnaval e o futebol são o ópio do povo»", "Portugal, Alentejo, no Carnaval", "'Enfezar o Carnaval': etimologia", "'Enfezar o Carnaval', mais uma vez", "Partidas de Carnaval", "Sobre a origem de Quaresma", "Natal, Carnaval, Páscoa: palavras variáveis". Na imagem, capa de Roberto Nobre (1903-1969) para a revista Ilustração, n.º 52 (16 fevereiro de 1928).

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, foi dado a conhecer o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja, um documento que revela a chocante realidade dos abusos sexuais no seio da Igreja Católica, apontando 512 testemunhos validados e prevendo um horizonte potencial de pelo menos 4815 vítimas. A intensa discussão que o assunto tem gerado na esfera pública envolve, não raro, o uso da construção «foi abusado sexualmente». Recordamos que esta construção não é aceitável em português porque o verbo abusar não é transitivo direto, pelo que não aceita ser integrado numa frase passiva. Será possível expressar a mesma ideia por meio de estruturas como «foi vítima de abuso sexual», «que sofreu abusos», «foi violado», entre outras desta natureza. 

No acervo do Ciberdúvidas, vários textos abordam esta questão: «Três irmãs "foram abusadas" sexualmente», «Abusados, os alunos da Casa Pia?» ou «Ainda à volta do abusado» e «O uso de abusada e de abusiva».  

2.  A incorreção presente na frase «Ele lia todos os livros quanto podia» é o ponto de partida para uma reflexão proposta pela professora Carla Marques a propósito do uso do quantificador relativo quanto e do seu antecedente todo(s)/toda(s) ou tudo, na rubrica Dúvida da semana, divulgada no programa Páginas de Português, da Antena 2 e nas redes sociais do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. 

3. As expressões «(não ser) nada por aí além» ou «(não ser) nada para aí e além» podem ser usadas com o valor de «não é nada de extraordinário», o que se explica nesta resposta. Na nova atualização do Consultório, estão disponíveis igualmente respostas relacionadas com o significados do verbo levar, uso do verbo desculpar, o apelido Serelha, o significado de «estar com (uma) rebarba», a modalidade presente em «Ninguém entra cá», as construções «por trás», «por detrás» e «atrás de», os significados de «tomar a peito» e «levar a peito» e o uso de «enquanto não» com conjuntivo num verso de Miguel Torga.  

4. O desafio que a tecnologia coloca à língua portuguesa, que terá de se preparar para dar respostas às necessidades lexicais que a evolução nesta área exige, sob pena de ficar relegada para segundo plano, sendo substituída por outras que encontraram já formas de referir as novas realidades. Esta é uma reflexão com importantes notas para o desenvolvimento de uma política de língua, uma proposta conjunta de Ana Paula Laborinho, diretora da representação em Portugal da Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), e António Horta Branco, professor universitário e presidente da Associação Europeia de Recursos de Linguagem, apresentada no artigo divulgado no jornal Público (aqui transcrito com a devida vénia). 

5. A linguista e professora universitária Margarita Correia apresenta, no seu artigo publicado no jornal Diário de Notícias, algumas das iniciativas legislativas no âmbito da língua promovidas pela Eslovénia, uma situação que contrasta, de forma chocante, com a ausência de documentos desta natureza em Portugal, «um pequeno e velho país de 10 milhões, berço de uma das línguas mais faladas no mundo», tal como afirma a autora (partilhado com a devida vénia).

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A par das palavras dos campos lexicais de guerra e terramoto, em referência, respetivamente, à intensificação do conflito na Ucrânia e à catástrofe sísmica de 6 de fevereiro na Turquia e da Síria, nas notícias publicadas em Portugal são também recorrentes os termos associados às greves que se agudizam no país. Avulta, por exemplo, o nome sindicato, derivado de síndico, genericamente «defensor dos interesses de uma associação ou de uma classe», pela sufixação de -ato1. É formação motivada pelo francês syndicat, que evoluiu semanticamente até à aceção de «associação que tem por finalidade a defesa dos interesses profissionais» e deriva de syndic, cognato de síndico, ambos com origem na latinização do grego σύνδικος (súndikos), «o que dá assistência a alguém na justiça». É curioso notar a (paradoxal) polissemia de sindicato, que, além de «agrupamento de uma classe profissional para defesa dos seus interesses económicos, laborais e sociais», pode significar «agrupamento de capitalistas interessados na mesma empresa». A família de palavras de sindicato tem dimensão apreciável, com significados nem sempre convergentes: por um lado, há sindical, sindicalismo, sindicalizar, de evocação reivindicativa, e, por outro, sindicância, «averiguação de determinados factos». Por último, voltando a síndico, observe-se que, no Brasil, quer dizer o mesmo que «administrador de condomínio» em Portugal.

1 Toda a informação sobre sindicato, a sua etimologia e família de palavras foi recolhida nos dicionários Houaiss e Priberam. Fonte da imagem: "Trade Union", Wikipedia (versão em inglês).

2. É correto empregar a palavra vernáculo com o significado de «calão, gíria»? A resposta está no Consultório, onde se esclarecem ainda outras questões, num total de oito: garupa pode ser sinónimo de passageiro? Escreve-se «busto relicário» ou «busto-relicário»? Os judeus expulsos de Portugal e radicados em Amesterdão ainda falavam português no começo do século XX? Como saber se um verbo é transitivo ou intransitivo? Que função sintática tem dele em «a pele dele»? O nome de uma marca comercial pode escrever-se com inicial minúscula? E, na aceção de «ter semelhanças com outra pessoa», diz-se «puxar a alguém» ou «por alguém»?

3. A investigação experimental tem registado avanços importantes na compreensão dos processos associados à aprendizagem da leitura e da escrita pelas crianças. Na rubrica Montra de Livros, apresenta-se Ensino da Leitura e da Escrita Baseado em Evidências, uma publicação da Fundação Belmiro de Azevedo, que reúne um conjunto de textos que abordam sobretudo os contributos trazidos pela investigação em neurociências, psicolinguística e linguística para este domínio escolar.

4. O passado e o presente da língua portuguesa dão mote à atualização da rubrica O Nosso idioma, com dois textos transcritos, com a devida vénia, de outras publicações:

– A respeito da história linguística de Lisboa entre a Idade Média e o século XVII, disponibiliza-se o texto que o professor universitário e tradutor Marco Neves publicou no seu blogue Certas Palavras em 24/03/2022.

– No Jornal de Notícias em 08/02/2023, a discussão do peso do exame nacional de Português do ensino secundário no acesso à universidade motiva um artigo de opinião do empresário e cronista Manuel Serrão, que faz a seguinte consideração: «Não faz nenhum sentido, nem dá qualquer resultado, querer muito que a nossa língua seja falada e entendida em todo o Mundo, se não começamos a tratar disso desde logo aqui.»

5. No Reino Unido, o debate da linguagem neutra tem alcance teológico, com sectores da Igreja Anglicana a proporem que, para referir Deus em inglês, se adote o pronome neutro it em lugar do pronome masculino he. É o que revela uma notícia da revista Visão em 09/02/2023, agora incluída em Diversidades.

6. Relativamente a programas da rádio pública de Portugal sobre temas da língua portuguesa, salientam-se:

Língua de Todos, todas as sextas-feiras na RDP África, que dedica a emissão de 10/02/2023, às 13h20* (repete-se no dia seguinte, c. 09h05*) a algumas particularidades do português de Moçambique na oralidade e na escrita. A especialista convidada é a linguista moçambicana Inês Machungo.

Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, aos domingos. O programa de 12/02/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 18/02/2023, 15h30*), centra-se na relação da pontuação com o conceito de consciência sintática numa conversa com Ana Luísa Costa, professora na Escola Superior de Educação de Setúbal e investigadora do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. Conta-se ainda com um apontamento gramatical da professora Carla Marques.

– Finalmente, Palavras Cruzadas, um programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50 e às 18h50*. De 13 a 17 de fevereiro, o convidado é José Manuel Durão Barroso, antigo primeiro-ministro de Portugal e presidente da Comissão Europeia, para falar sobre a linguagem política nos diferentes cargos que ocupou.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Dois terramotos, um de magnitude 7,8 na escala de Richter e outro de 7,5, abalaram a Turquia e a Síria, provocando mais de 43 mil mortos, na mais recente estimativa avançada pela ONU e  a OMS. Este trágico acontecimento envolve palavras e expressões tais como sismo, «tremor de terra» ou «abalo sísmico», que, por vezes, oferecem dúvidas aos falantes no que respeita à sua significação. Esclareça-se que estes termos pertencem ao campo lexical da geologia e são considerados sinónimos, sendo usados para descrever a libertação súbita de energia que desencadeia movimento na superfície terrestre. Esta significação retoma valores como o movimento ou o abalo, que, do ponto de vista etimológico, se encontravam já na origem das palavras aqui assinaladas. Equivalentes às anteriores são também as formas terramoto (forma preferida no português europeu) e terremoto (forma mais antiga e preferida no português do Brasil). Para descrever estes fenómenos são ainda usados termos como epicentro (que designa a área superficial do sismo, onde a intensidade do abalo é máxima e onde o sismo atingiu a superfície em primeiro lugar) e magnitude (que refere a medida da quantidade de energia libertada por um sismo).  

     A este propósito, recordem-se estes textos disponíveis no Ciberdúvidas: «Terramoto/terremoto», «Sismos: hipocentro / epicentro», «Terramoto»? Ou será «terremoto»? Ou «sismo»?

2. Na rubrica Dúvida da semana, promovida nas redes sociais do Ciberdúvidas, a professora Carla Marques atenta, desta feita, nas diferenças entre as palavras parónimas eminente e iminente (apontamento divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2).  

3.  A pronúncia da palavra litígio não corresponde a um caso de dissimilação, como ocorre, por exemplo, em ministro, um fenómeno que se explica nesta resposta. No Consultório, poderão ainda ser acompanhadas as seguintes novas entradas: «A grafia de super-heteródino», «Sobre a sequência «...e mas»», «A ideia de «génio da língua»», «Palavras unívocas, equívocas e análogas», «A locução «até a»: «até àqueles dias»».

4. A questão competência plurilingue e das implicações e exigências desta realidade na formação de professores e na sua prática letiva dá matéria para o artigo de Margarita Correia, professora universitária e linguista (aqui partilhado com a devida vénia). 

5. A presença da literatura africana no sistema de ensino brasileiro é um tema de grande complexidade. Neste âmbito, o professor brasileiro Roberto Lota apresenta um artigo onde desenvolve uma radiografia à situação, evidenciando lacunas e problemas que urge resolver (artigo partilhado com a devida vénia). 

6.  Entre as notícias relacionadas com a língua, destaque para as seguintes:

– O exame da disciplina de Português do 12.º ano volta a ser obrigatório para a conclusão do ensino secundário em Portugal, uma medida que entrará em vigor a partir do próximo ano letivo;

– A realização de um curso de formação relacionado com a produção de materiais didáticos produzidos com base em canções (mais informações aqui);

– A publicação em linha Plural: português pluricêntrico, que se centra em temas como o pluricentrismo da língua portuguesa, a pedagogia da justiça social e o ensino baseado em projetos (disponível em acesso aberto);

– O EMDA 12 (Encontros mensais sobre discurso académico) terá como oradora a professora universitária Paula Cristina Ferreira, que abordará o tema (Com)textos: da planificação à produção textual (encontro zoom, com lugar no dia 13 de fevereiro, entre as 18h00 e as 19h30 - mais informações aqui). 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A comunicação mediática continua a dar conta da tensão entre os EUA e a China, da guerra na Ucrânia, dos conflitos laborais no Reino Unido e em Portugal, da inflação galopante e da imparável degradação ambiental. Mas destacam-se ultimamente os avanços em IA, abreviatura de Inteligência Artificial, ao ponto de a revista Nature revelar a publicação de artigos científicos em que é coautor o ChatGPT, um chatbot1 recente, suscitando reações entre o entusiasmo e a apreensão. Um tema que foi também notícia em Portugal, pelo destaque dado ao prémio Vencer o Adamastor, cuja primeira edição teve como vencedor Gonçalo Correia, dos quadros da Priberam e professor convidado do Instituto Superior Técnico, com um trabalho intitulado Modelos Neuronais mais Transparentes e Compactos Usando Esparsidade. Sobre esparsidade, que deriva de esparso, «solto, espalhado», observe-se que a palavra pode ocorrer como palavra não especializada com o significado genérico de «qualidade do que é esparso, do que se encontra disperso»; em IA, a palavra evoca a expressão «matriz esparsa», um conceito que provém da álgebra linear numérica e designa uma matriz algébrica que possui uma grande quantidade de elementos com valor zero (informação colhida na Wikipédia).

 1 Um chatbot é um «programa desenhado para simular uma conversa com utilizadores humanos, utilizado sobretudo em ambiente online» (Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa.). Mais informação  aqui.

Cf.Há uma ferramenta de Inteligência Artificial que simula conversas com pessoas que “já não estão entre nós” e tem mais de 3 mil utilizadores + Media e Inteligência Artificial: como é que o jornalismo sobrevive na era dos ''deepfakes" e da fragmentação do consumo digital? + As Iniciativas Regulatórias Europeias na Inteligência Artificial + Tradução Automática com IA vs Interpretação Profissional em congressos e eventos: a análise detalhada + Google reforça IA para combater anúncios falsos e desinformação política + OpenAI desenvolve modelo para clonar vozes. É possível evitar abusos? + Na luta contra a desinformação, Google vê a IA como vilã e heroína + Língua portuguesa entra na era da IA + Nicolelis explica por que não precisamos temer a Inteligência Artificial

2. Como se explica que um erro escolar seja aceite sem censura em textos de autores literários? A observação parece justificar-se perante as muitas dúvidas que suscita a colocação de vírgulas antes da conjunção e, mas encontra resposta no Consultório, onde outros tópicos são também esclarecidos: o significado de iteroparidade; o uso de alíneas em documentos jurídicos; o regionalismo «das horas que...» (Brasil); os advérbios de modo atenciosamente e cordialmente; a concordância verbal; o impartivo de introduzir; o futuro perfeito do conjuntivo. Finalmente, voltando ao domínio da informática, agora aplicada às línguas, pergunta-se: é possível um algoritmo que diferencie a escrita do Brasil da escrita de Portugal?

3. Ainda falando de ciência e tecnologia, diga-se que o termo algarismo é recorrente. Em O Nosso Idioma, transcreve-se, sobre a origem desta palavra, um apontamento do professor universitário e tradutor Marco Neves.

4. Na rubrica Diversidades, disponibiliza-se o artigo que a linguista e professora universitária Margarita Correia publicou no Diário de Notícias, em 30/01/2023, acerca da língua curda, da sua diversidade e das dificuldades encontradas para manter a unidade.

5. O desaparecimento de Cleonice Berardinelli, decana dos estudos brasileiros sobre a literatura de Portugal, é tema comum aos dois programas de rádio da Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Para recordar a figura e a obra da especialista, são convidados:

– o crítico António Carlos Cortez, em Língua de Todos, programa difundido na RDP África, na sexta-feira, 03/02/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c.  09h05*);

Gilda Santos, coordenadora do Real Gabinete Português de Leitura e discípula de Cleonice Berardinelli, em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 05/02/2023, às 12h30* (repetido em 11/02/2023, às 15h30*). 

Entre os programas que, na rádio pública de Portugal, versam sobre temas do português, refira-se ainda Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido pela Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50 e às 18h50*.

* Hora oficial de Portugal continental.

6.  Um registo final para o artigo de opinião do economista Luís Aguiar-Conraria, no semanário Expresso de 2/2023, que, comentando a decisão de inconstitucionalidade proferida pelo Tribunal Constitucional sobre a lei da eutanásia em Portugal, se apoia numa antiga resposta do Ciberdúvidas, a respeito das conjunções coordenativas e e ou.

Sobre este mesmo tema, cf. Abertura de 31/01/2023