1. Festejado em 5 de maio, desde a sua declaração pela Unesco em 2019, o Dia Mundial da Língua Portuguesa é assinalado por diversos programas de atividades. Em Portugal, vários artigos de opinião e mensagens de diferentes personalidades da vida política e cultural marcam também a data. São exemplos o artigo assinado por Francisco André, secretário de Estado português dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, no jornal Público; ou a conferência que o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, proferiu na Universidade de Varsóvia, onde, perante alunos e professores de Estudos Portugueses, declarou que «a língua portuguesa, como todas as línguas, é um instrumento da paz, da comunicação, da criação, da expressão e da interação entre as pessoas e os povos», sublinhando que é «muito importante que o Dia Mundial da Língua Portuguesa seja celebrado em todo o mundo e não apenas em Portugal» (cf. Diário de Notícias). Mas, falando da geografia do português, convém também lembrar a sua diversidade e os casos nacionais em que está longe de ser língua dominante, a ponto de pôr em causa, por exemplo, planos de cooperação universitária, conforme revela o professor universitário Miguel Chaves (ler "Queremos mesmo incluir os alunos da Guiné no ensino superior?", Público, 05/05/2023). A propósito das tendências centrífugas de evolução linguística no Brasil e em quatro países africanos – Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Angola –, refira-se o livro Novas Dinâmicas do Português: a África Atlântica e o Brasil, ao qual se dedica uma breve nota de apresentação na Montra de Livros.
2. Entretanto, igualmente em Portugal, a crise e a tensão políticas sobretudo decorrentes do caso da TAP ocasionam numerosos comentários na comunicação social. Num deles, o jornalista Eduardo Oliveira e Silva, procurando descrever a situação (Jornal I, 2/05/2023), desafiou o Ciberdúvidas a inscrever nos dicionários um neologismo: o verbo “sabordar”, aportuguesamento do francês saborder, «afundar de propósito o seu próprio navio» ou, figurativamente, «pôr fim voluntariamente a uma empresa». Em O Nosso Idioma, a professora Carla Marques dá o seu parecer sobre a viabilidade da adaptação de tal galicismo.
3. «Estar à espreita» significa o mesmo que «estar a espreitar»? A diferença não se afigura apreciável e encontra paralelo noutros casos em que o verbo estar pode ser seguido de verbo infinitivo (no Brasil, prefere-se o gerúndio) ou de uma locução formada por um derivado desse verbo: «estar a esperar/esperando» vs. «estar à espera», «estar a procurar/procurando» vs. «estar à procura). No Consultório, além deste caso de construções sinónimas (ou quase), comentam-se ainda outros sete tópicos: um topónimo do Havai, os nomes quinta e modo, o verbo proibir, a expressão «é de saudar», a diferença entre privativamente e «em privado», e, finalmente, o dito «má mãe, boa madrasta».
4. Na rubrica Diversidades, a tradução de um artigo de L'Express (24/04/2023) mostra como as línguas regionais estão muito longe da irrelevância, centrando-se num caso exemplar, o do bretão, a língua céltica da Bretanha (noroeste da França), idioma que está ser utilizado com sucesso nas superfícies comerciais, em convívio com o francês e o inglês.
5. Os media fazem eco da coroação de Carlos III, no Reino Unido. Sobre este acontecimento, em 6 de maio de 2023, vale a pena ler as recomendações da Fundéu para a redação jornalística em língua espanhola, as quais, na sua maioria, se transpõem sem dificuldade para o português. Refiram-se cinco dessas indicações: o novo rei deve ser mencionado pelo nome português, e, portanto, trata-se de Carlos III, e não de "Charles III" (embora, em Portugal, os filhos sejam conhecidos como William e Harry); o rei é o monarca do Reino Unido, e não apenas da Inglaterra; Carlos III e Camila são reis, mas apenas o primeiro é monarca; a cerimónia da coroação é enquadrada por um dispositivo de segurança chamado Operação Orbe Dourado (e não "Operação Orbe Dourada"); e, quanto à lista de canções associadas à cerimónia, fale-se de uma «lista de reprodução», e não de uma playlist.
6. Outros registos:
– a cerimónia de entrega do Prémio Camões 2021 a Paulina Chiziane, a coincidir com o Dia Mundial da Língua Portuguesa;
– em Lisboa, por iniciativa da Rede de Bibliotecas de Lisboa/Câmara Municipal de Lisboa, o 5L, Festival Internacional de Língua e Literatura, de 4 a 7 de maio de 2023;
– lançado pela editora Guerra e Paz, o Atlas Histórico da Escrita da autoria do conhecido divulgador de temas linguísticos Marco Neves.
7. Uma referência final para três dos programas dedicados à língua portuguesa na rádio pública de Portugal:
– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 05/05/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, pouco depois do noticiário das 9h00*), conversa-se com Zacarias Costa, secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), sobre a cooperação para a promoção do português no seio desta comunidade.
– Em Páginas de Português, transmitido na Antena 2, no domingo dia 07/05/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 13/05/2023, às 15h30*), a propósito das comemorações do Dia Mundial da Língua Portuguesa, entrevista-se também o secretário executivo da CPLP. Inclui-se ainda o apontamento da professora Carla Marques.
– De 8 a 12 de maio, às 09h50 e às 18h50*, no programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, o tema é as línguas e a linguagem política na União Europeia, em alusão à celebração do Dia da Europa em 9 de maio.
* Hora oficial de Portugal continental.