1. O mundo editorial de língua inglesa tem vindo a ser alvo de uma nova ordem de pensamento, que se orienta no sentido de remover de obras literárias todas as referências que possam chocar alguma «sensibilidade contemporânea«, sejam estas ofensas ao perfil físico ou depreciações que têm como base a etnia. A nova moral que se procura impor justificou já que se amputassem nos seus passos considerados mais ofensivos obras de Roald Dahl ou de Agatha Christie e que se retirassem do acesso público as obras da escritora juvenil Enid Blyton. Há quem considere que este é o dealbar de um novo tipo de censura, há quem defenda que este é o primeiro passo para uma nova consciência ética mais desperta para quaisquer problemas fundados nalgum tipo de discriminação. Alinhado com esta visão da sociedade tem surgido o termo woke, palavra inglesa, derivado do vernáculo stay woke, que significa «continue acordado/desperto, em estado de alerta contra a injustiça social, racial e outras», e que ainda não tem equivalente estável em língua portuguesa, mas que se poderia traduzir como alerta ou desperto. Este termo tem sido usado para designar o movimento progressista que defende a vigência do politicamente correto e do virtuoso na sociedade. Será talvez nesta ordem de pensamentos que se enquadra a recente demissão de uma professora norte-americana, em virtude de ter mostrado aos seus alunos a estátua de David, de Miguel Ângelo, considerada pornográfica por alguns encarregados de educação. Muitos se têm erguido contra esta nova forma de pensar, que consideram um modo de censura e de puritanismo excessivo, por não aceitar a diferença nem a discussão de ideias. A todos estes movimentos não é alheia a luta por uma linguagem inclusiva que, no Brasil, desencadeou uma reação adversa com a apresentação de um projeto de lei que proíbe o uso de linguagem neutra nas escolas. Esta proposta é objeto de análise por parte do especialista brasileiro em direito David Nogueira Lopes (artigo que partilhamos com a devida vénia).
Primeira imagem: imagem da estátua de David, de Miguel Ângelo, que tem sido divulgada nas redes sociais como forma de protesto contra o facto de se ter considerado a estátua pornográfica.
2. A colocação do pronome clítico com locuções correlativas dá matéria a uma das respostas do Consultório. A ela vem juntar-se uma questão sobre a distinção entre pronomes adjuntos (determinantes) e adjetivos e uma outra relacionada com o uso do apóstrofo com a preposição de. Nesta atualização, podem ainda consultar-se os seguintes tópicos: «O uso e classificação de salvo», «A grafia de musculoinvasivo», «O nome mastragança» e a delimitação de apóstrofes n'Os Lusíadas.
3. O significado da expressão «Resvés Campo de Ourique» é explicado por Inês Gama, colaboradora do Ciberdúvidas, num apontamento emitido no programa Páginas de Português, na Antena 2.
4. A enfermeira Carmen Garcia, colunista do jornal Público, reflete no seu artigo sobre a importância do estudo das obras literárias na sua formação e crescimento, enquanto demonstra a importância fulcral da literatura e de alguns autores, que lhe ficaram na memória (partilhado com a devida vénia).
5. Entre os eventos de interesse, destacamos os seguintes:
– A Semana da Leitura é assinalada em Portugal de 27 a 31 de março, com inúmeras iniciativas que decorrem um pouco por todo o país, das escolas à comunidade alargada (mais informações).
– Estão abertas inscrições para o 15.º Encontro Nacional da Associação de Professores de Português, subordinado ao tema "Português em jogo e em projeto", que decorrerá nos dias 11 e 12 de abril, em Lisboa, na Fundação e Museu do Oriente, e a distância.