Podemos considerar três tipos de passivas, de acordo com o que se defende na Gramática do Português: as passivas verbais, as passivas resultativas e as passivas estativas.
Antes de mais, é importante considerar as frases passivas verbais típicas, as quais se constroem com verbos transitivos que pedem um complemento direto e têm como argumento externo o sujeito. É o caso da frase ativa apresentada em (1), que se converte na frase passiva em (1a):
(1) «o João comeu um pão.»
(1a) «Um pão foi comido pelo João.»
É desta natureza a frase 1) apresentada pelo consulente, que aqui transcrevemos na forma ativa (2) e passiva (2a):
(2) «Os ratos infestaram a cidade.»
(2a) «A cidade foi infestada pelos ratos.»
Tal como se refere na Gramática do Português, «as orações passivas verbais descrevem tipicamente situações dinâmicas, i.e., em que uma das entidades envolvidas sofre alguma mudança. Por outras palavras, estas orações descrevem tipicamente eventos e não estados»1.
Por essa razão, em geral, os verbos estativos não são compatíveis com a forma passiva. Excetuam-se deste grupo os verbos estativos epistémicos (3) e psicológicos (4), ou seja, os verbos relativos ao conhecimento e os verbos que expressam sentimentos2:
(3) «O João já conhecia esta livro.»
(3a) «Este livro já era conhecido pelo João.»
(4) «O João amava a Rita.»
(4a) «A Rita era amada pelo João.»
Na Gramática do Português apresenta-se um segundo tipo específico de passiva: a passiva resultativa. Este é um caso muito particular que permite descrever situações como o resultado de uma dada mudança. Observemos as frases seguintes:
(5) «As casas devolutas foram seladas.»
(6) «As casas devolutas ficaram seladas.»
Como se verifica, as passivas verbais e as passivas resultativas descrevem diferentes fases das situações: em (5), temos uma frase passiva verbal (passiva típica), enquanto em (6) temos uma passiva resultativa, que descreve a situação das casas depois de terem sido seladas, descreve o resultado dessa ação. As passivas resultativas, ao contrário das passivas tracionais, constroem-se com o auxiliar ficar e não admitem a explicitação do complemento agente da passiva. Veja-se como (6a) é sentido como agramatical:
(6a) «As casas devolutas ficaram seladas pelos fiscais.»
Os verbos cujas formas participais são usadas como adjetivo podem ocorrer nestas passivas, recebendo o nome de passivas adjetivais. É o que ocorre na frase 2) apresentada pelo consulente (aqui transcrita como (7)):
(7) «A cidade ficou infestada pelos ratos.»
A passiva estativa é outro tipo particular de construção passiva. Nestas, é obrigatório que a forma de particípio do verbo se reconverta em adjetivo e o auxiliar poderá ser o verbo ser ou estar. O auxiliar ser usa-se para descrever-se situações estáveis, ao passo que o verbo estar descreve situações episódicas. Pertence a este tipo de passiva a frase 3) apresentada pelo consulente (transcrita como (8)):3
(8) «A cidade está infestada pelos ratos.»
(9) «A cidade foi infestada pelos ratos.»
Disponha sempre!
1. Duarte in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 437.
2. idem, ibid., p. 438.
3. Para mais informações sobre a construção passiva e os seus diferentes tipos, sugere-se a leitura do capítulo 13 da Gramática do Português (pp. 429-458).