1. No rescaldo das comemorações do 1.º de Maio, em Portugal, ficam as intenções e as palavras ditas. Entre aquelas que mais se destacaram por andarem tanto em discursos como nos cartazes das manifestações de rua, encontramos os lexemas trabalhador, trabalho, salário, precariedade e crise. Trabalhador e trabalho são palavras da mesma família que têm origem etimológica na forma latina tripalium, que designava uma ferramenta com três pernas, que era usada para imobilizar bois e cavalos, mas a mesma palavra designava também um instrumento de tortura. Uma etimologia que associa sofrimento e sacrifício à significação das palavras. Já a história da palavra salário é sobejamente conhecida: os soldados romanos recebiam o seu soldo em sal, o que levou a que se associasse à palavra o valor de pagamento pelo trabalho efetuado. Precariedade (e não *precaridade) é formado com base em precário, palavra que no latim designava o que era «obtido por meio de prece; tomado como empréstimo; alheio, estranho; passageiro». Destes sentidos adveio a ideia de algo que não é estável, que é incerto. Por fim, a palavra crise advém do latim crĭsis, is e este do grego krísis,eōs, com o significado de «momento de decisão, mudança». Esta palavra está associada à história da medicina, pois designava o momento decisivo, «para a cura ou para a morte». Todavia, o seu sentido mais ativo parece ser o de «conjuntura ou momento difícil». Emergem também neste 1.º de Maio expressões ainda pouco conhecidas, que tendem a impor-se: uma delas é «trabalho híbrido», que designa a nova modalidade de trabalho, que combina jornada em casa com jornada no escritório e que corresponde a uma modalidade adotada por muitas empresas desde o início do período pós-pandemia até ao presente. Numa época de profunda instabilidade social, política e económica, as palavras, com os seus percursos seculares, estão no centro dos acontecimentos descrevendo a realidade e servindo para dar voz a exigências, denúncias e novidades, como verdadeiras agentes da mudança. Uma nota final para recordar que as abreviaturas dos números ordinais se escreve com ponto após o número, seguido da letra colocada em expoente, tal como se explica aqui. «1.º de Maio» e não «1º de Maio», portanto.
No Ciberdúvidas, poderão reler-se vários esclarecimentos relacionados com estes temas. Por exemplo «O trabalho e o ócio», «Salário = soldo para comprar sal», «Precariedade e não “precaridade”», «Precariedade, pagar e salário «A etimologia da palavra crise» e «Um 1.º [de Maio] não é propriamente um 1º [de Maio]»
2. Será correto recorrer ao termo ex-cunhado para designar o irmão da pessoa de quem nos divorciámos? Este é o assunto tratado numa das respostas do Consultório, à qual se juntam outras cinco: "O significado e a origem do nome alcar", "'Um tal de' e 'um tal'", "Sujeito nulo subentendido e anáfora", "O uso do adjetivo assertivo" e "'Não consegues passar comigo aqui'".
3. Na Montra de Livros, divulgamos a recente publicação Discurso Académico: Conhecimento disciplinar e apropriação didática, uma publicação da Grácio Editor organizada por Paulo Nunes da Silva, Alexandra Guedes Pinto e Carla Marques, que reúne artigos relativos aos contributos apresentados no II Encontro Nacional de Discurso Académico, que teve lugar em 2021.
4. Miguel Faria de Bastos, advogado e estudioso de interlinguística, retoma a questão de o inglês poder ser considerado língua internacional, abordando o tema no contexto das instituições que poderão atribuir estatutos oficiais desta natureza às línguas.
5. A colocação do clítico quando é antecedido pelo pronome alguém motiva a revisão que retoma alguns dos atratores de próclise, apresentada pela professora Carla Marques (divulgada no programa Páginas de Português, na Antena 2).
6. A questão do uso de linguagem neutra nas escolas brasileiras volta a desencadear uma tomada de posição, desta feita por parte do arquiteto e escritor Eduardo Affonso. No artigo que aqui partilhamos com a devida vénia, o autor manifesta-se contra a adoção do género neutro, defendendo que «Os falantes são os donos da língua».
7. A manutenção ou a alteração do sotaque ao longo da vida são as questões equacionadas pela professora inglesa Jane Setter, num artigo cuja tradução aqui partilhamos, com a devida vénia.
8. Entre as notícias mais recentes, destacamos:
– A versão atualizada da Bibliografia Geral da Açorianidade, disponível aqui.
– A realização em Portugal das provas de aferição do 2.º ano, a partir de 2 de maio.