1. Portugal e todo o mundo de língua oficial portuguesa se regozijam com a escolha do político e antigo primeiro-ministro português António Guterres para novo secretário-geral da Organização das Nações Unidas, ou seja, da ONU. Esta forma constitui-se como sigla (junta as iniciais da denominação por extenso), mas emprega-se como acrónimo – isto é, como redução vocabular que é lida como palavra. Por isso, nem por sombras querendo estragar o ambiente de entusiasmo criado por esta nomeação – muito pelo contrário –, renova-se aqui uma recomendação: sempre que referirmos a ONU, é essencial pronunciar este acrónimo como uma palavra aguda (ou oxítona) – "onú". Transformá-la em palavra grave (ou paroxítona) – "ónu" –, como recorrentemente se vai ouvindo nos noticiários televisivos e da rádio portuguesas não é congruente com a forma gráfica em português.*
* Cf. ONU tem a tónica no "u" + A pronúncia de algumas siglas (ONU, SMU, IMPI) + Outra vez a pronúncia de ONU + A distinção entre siglas e acrónimos
2. Acontece precisamente o mesmo com o nome Nobel – nomeadamente nesta época da atribuição dos vários galardões à volta do «prémio Nobel» –, ouvindo-se, de novo, novamente se ouve a pronúncia defeituosa "nóbel" e, até, o plural «prémios "nobéis"». Aqui se de deixa, pois, de novo, a recomendação a quantos, na rádio e na televisão, dizem mal o nome Nobel. Tal como ONU, trata-se de uma palavra aguda e, portanto, soa "nobél". No caso, como acontece em português com qualquer palavra sem acento gráfico terminada em "el" – tal como anel e papel, por exemplo**.
** Cf. O plural de Nobel e a sua pronúncia + Fugiu o Nobel, ficou o erro + Bem-haja, José Saramago! + Prémio N[ó]bel ou Nob[él]? + A pronúncia de Nobel
3. A propósito dos muitos jovens que nem estudam nem trabalham, em contexto de crise económica, a designação «nem nem» ou nem-nem e o seu estigma vão criando raízes na perspetiva mediática e nos estudos internacionais – cf. notícia sobre o estudo Society at a Glance 2016 (= Panorama da sociedade 2016) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Como escrever e usar esta palavra? Atendendo a assim-assim (advérbio), nem-nem hifenizado perfila-se como boa opção; e, apesar de se dizer/escrever «os nem-nem», não será descabido aceitar que o plural deste neologismo seja nem-nens. O conceito começou por aparecer em notícias e estudos em inglês – associado a neet, nome comum que resulta da conversão da sigla correspondente a not in education, employment, or training, o mesmo é dizer «(que) não está a estudar, nem a trabalhar, nem em estágio». Voltando a atenção para uma língua-irmã, diga-se que, em espanhol, o inglês neet se traduz como nini* (ni trabaja ni estudia = «nem trabalha nem estuda»), cujo plural é ninis (cf. Fundación para el Español Urgente – Fundéu BBVA).
4. Na rubrica Ensino, disponibiliza-se um texto intitulado "Estudo autónomo programado em sala de aula: o caso do projeto Ciberescola.com" da autoria de Ana Sousa Martins, coordenadora da Ciberescola/Cibercursos da Língua Portuguesa. Trata-se de um artigo publicado na revista Nova Ágora (n.º 5, setembro de 2016), do Centro de Formação de Associação de Escolas Nova Ágora (Coimbra). Na mesma rubrica, fica também o acesso à comunicação que Carla Lourenço (Direção-Geral da Educação, Ministério da Educação) e Ana Sousa Martins apresentaram na 7th International Conference on Computer Supported Education (7.ª Conferência Internacional de Educação assistida por Computador), realizada em maio de 2015, em Lisboa.
5. O consultório discute nesta atualização se existe ou não diferença entre mão-cheia e mancheia, retoma o problema das regências antes de orações subordinadas («ter dúvidas de que esteja correto», ou «ter dúvidas que esteja correto»?) e recua à Idade Média galego-portuguesa para falar da locução «a eito».
6. Nos programas de rádio que o Ciberdúvidas produz para a rádio pública portuguesa:
– A língua portuguesa tem convivido, em Cabo Verde, com outras línguas africanas desde o século XV. Foi aqui que surgiu o primeiro crioulo africano de base lexical portuguesa. No arquipélago, as duas línguas têm convivido e têm vindo a evoluir. O programa Língua de Todos de sexta-feira, 7 de outubro (às 13h15****, na RDP África; com repetição no sábado, 8 de outubro, depois do noticiário das 9h00****), entrevista a professora cabo-verdiana, Ana Josefa Cardoso sobre a convivência das duas línguas em Cabo Verde e no sistema de ensino do país.
– Cleonice Berardinelli ultrapassou, em agosto, a marca dos cem anos de vida. Especialista em literatura portuguesa, Cleonice, ou dona Cleo, como é carinhosamente chamada pelos amigos, é uma personalidade incontornável nos estudos camonianos e pessoanos. Associando-se à celebração do centenário de vida de Cleonice Berardinelli***, o Páginas de Português de domingo, 9 de outubro (Antena 2, às 12h30****, com repetição no sábado seguinte às 15h30****), tem a participação do professor e escritor português António Carlos Cortez, para falar da importância deste nome incontornável no mundo académico em língua portuguesa.
*** Cleonice Berardinelli licenciou-se em Letras Neolatinas pela Universidade de São Paulo, em 1938 onde teve como professor de Literatura Portuguesa Fidelino de Figueiredo, e livre docente pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1959, com uma dissertação intitulada “Poesia e Poética de Fernando Pessoa”, a primeira tese sobre o autor feita no Brasil. Cleonice foi orientadora de 74 dissertações de mestrado e 42 teses de doutoramento.
**** Hora continental portuguesa.