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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O aumento da inflação um pouco por todo o mundo está a trazer à luz do dia inúmeras situações de pobreza, com os seus diversos contornos: da pobreza extrema, à pobreza relativa, passando pela pobreza energética ou pela pobreza material, entre outras manifestações de algum tipo de carência acentuada. A palavra pobreza, que traz consigo uma história relacionada com a produtividade em meio agrícola, deriva de pobre, que evoluiu do latim pauper-. Esta forma, por seu turno, formou-se pela junção do elemento pau-, que significava «pequeno», com pario, com o significado de «dar à luz», resultando numa palavra que adquiriu, assim, o valor de «o que produz pouco» e que era usada para descrever um terreno agrícola ou o gado quando eram pouco férteis. Através dos tempos, o seu significado alargou-se e ajustou-se à descrição de situações de carência em geral, sobretudo económica. O radical latino pauper- evoluiu para a forma popular pobr-, que está na base de muitas palavras da mesma família, como pobreza, pobretão ou pobrete, mas o radical culto manteve-se em palavras como paupérie, pauperismo ou pauperização

Primeira imagem: Misère accroupie (Mulher agachada), de Pablo Picasso, 1902. 

2. A rubrica A covid-19 na Língua continua a acompanhar a evolução da situação sanitária, registando a entrada das expressões «Doença X», «Fábrica de vacinas» e «Primeiro trimestre de 2023».

3.  A construção «transmitir em direto desde Bragança» dá o mote para o apontamento da professora Carla Marques sobre o uso da preposição no contexto em que se refere o local a partir de onde se fala ou difunde algo (divulgado no programa Língua de Todos, da RDP África). 

4. uso das preposições dá igualmente matéria para a reflexão de Inês Gama, colaboradora do Ciberdúvidas, desta feita, no contexto do ensino-aprendizagem do português como língua estrangeira.

5.  A busca por uma expressão com o significado de «castanho-arruivado» leva-nos à exploração da forma "fusco-rubro", cuja adequação se avalia nesta resposta. A atualização do Consultório permite ainda consultar as respostas relacionadas com os seguintes temas: «Verbo de estado com valor perfetivo num poema de Álvaro de Campos», «O uso pronominal do verbo orientar», ««50 anos da sua morte» vs. «50 anos após a sua morte»» e «Modo indicativo: perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito».

6.  Partilhamos, com a devida vénia, na rubrica Na 1.ª Pessoa, alguns textos relacionados com diferentes aspetos da língua portuguesa:

Miguel Esteves Cardoso, autor e cronista, ensaia uma tradução dos termos ingleses bullying e bully, na sua crónica divulgada no jornal Público;

– A língua inclusiva e os problemas que coloca dão matéria à reflexão do arquiteto e escritor brasileiro Eduardo Affonso, na crónica publicada no jornal O Globo;

– A jornalista Bárbara Reis analisa os usos da palavra ilação e a sua significação, enquanto justifica a sua recusa em usar este chavão, num artigo transcrito do jornal Público.

7. Entre as notícias relacionadas com a língua, destaque para a homenagem ao escritor angolano Pepetela, que terá lugar no festival Escritaria, que, este ano, terá uma edição em Benguela, Angola (notícia). 

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1. Na Europa, a atualidade é marcada por intensa contestação social. No Reino Unido, milhares de enfermeiros manifestaram-se contra os salários baixos e as condições de trabalho no setor da saúde. Na França, greves e manifestações paralisaram o país em 19/01/2023, por causa da alteração da idade da reforma de 62 para 64 anos. Em Portugal, a greve e as manifestações dos professores do ensino básico e secundário público preenchem notícias e colunas de opinião. Outra vez recorrente, a palavra greve, recorde-se, é um galicismo, com origem num antigo topónimo parisiense, Place de Grève (hoje Place de l'Hôtel-de-Ville), nome do lugar onde se reuniam os operários sem trabalho ou descontentes; esta situação motivou a expressão faire grève («fazer greve»), com o significado de «abstenção deliberada do trabalho» (Dicionário Houaiss)*. Na comunicação social, circula também a palavra negociação, cuja história não é menos interessante: vem (indiretamente) do vocábulo latino negotiu-, o qual se formou da junção de nec e otium (cf. ibidem). Daí a sua significação de base: «sem possibilidade de inatividade, de lazer», descrevendo, portanto, uma atividade difícil, árdua, trabalhosa. Atualmente, significa sobretudo «acordo, entendimento», mas mantém a ideia da dificuldade em chegar ao ponto desejado.

* Pode levar-se mais longe a etimologia de greve, porque o topónimo francês se desenvolveu a partir do nome comum grève, que denota «(um) terreno de areia e cascalho à beira-mar ou à beira-rio», de um termo pré-latino *grava, «areia, cascalho» (Dicionário Houaiss). Na sua origem, a Place de Grève era, portanto, um espaço urbano situado num terreno cheio de cascalho, à beira do rio Sena. Na imagem, os paços do concelho de Paris e a praça de Grève em 1610, numa representação do arquiteto Claude Chastillon (1559/1560-1616).

2. Na frase «não lhe desculpou a indelicadeza, esta senhora vaidosa», aceita-se a vírgula antes de «esta senhora vaidosa»? A resposta está no Consultório, onde se abordam outras cinco questões: a forma «o que» é uma locução? É incorreto dizer «estar em luto», em vez de «estar de luto»? Escreve-se «pró-União-Ibérica» ou «pró-União Ibérica»? Provavelmente é sinónimo de certamente? E está correta a frase «faz um ano em julho em que nos mudámos»?

3. Já aqui assinalado, aquando do seu lançamento, o Dicionário da Língua Portuguesa Medieval (DLPM), publicado em 2022 pela Editorial Caminho, é o livro apresentado na atualização da rubrica Montra de Livros. Trata-se do resultado de um projeto desenvolvido pelo Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa, sob a coordenação dos professores João Malaca Casteleiro (1936-2020), Maria Francisca Xavier (1944-2019) e Maria de Lourdes Crispim.

4. A herança cultural e linguística de Gregos e Romanos continua bem viva na cultura contemporânea, levantando sempre questões, como a da adaptação de nomes próprios do grego antigo ao português. É caso de Poseidôn (em carateres gregos, Ποσειδῶν), equivalente a Neptuno (ou Netuno) no panteão romano. Em O Nosso Idioma, transcreve-se com a devida vénia um apontamento do professor universitário, classicista, tradutor e escritor Frederico Lourenço (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra) no seu mural de Facebook, a respeito do aportuguesamento do referido nome – Posídon ou Posêidon?

5. Um registo da atualidade editorial: o lançamento do Dicionário Português-Árabe (Edições Colibri), da autoria de Abdeljelil Larbi, professor na Universidade Nova de Lisboa, e de Délio Próspero, investigador de língua e cultura árabes. Mais informação no Diário de Notícias (18/01/2023).

6. Um registo final aos três do programas dedicados a temas da língua portuguesa na rádio pública de Portugal:

– No Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 20/01/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), fala-se do ensino de Português em Cabo Verde e, num apontamento da professora Carla Marques, da pontuação e das suas subtilezas.

– No Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 22/01/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 28/01/2023, 15h30*), abordam-se a experiência de um curso realizado em Brasília sobre ferramentas computacionais para criação de textos, bem como o ensino da gramática na sala de Português, numa crónica da professora Ana Sousa Martins.

De segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50*, na Antena 2, transmite-se Palavras Cruzadas, um programa realizado por Dalila Carvalho.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Assinala-se a 19 de janeiro o centenário do nascimento do poeta português Eugénio de Andrade (1923-2005), marcante, na sua vasta obra literária, pela contenção no uso das palavras e pela busca incessante da forma precisa e depurada, resultado de um trabalho ímpar da língua. O autor de Sal da Língua deixou aos seus leitores uma herança poética riquíssima, onde é sempre desafiante regressar e onde se encontram frequentemente as palavras que dão voz aos arquétipos da sua poesia e ritmo à sua escrita: fonte, água, árvore, flor, brisa ou campo

   No acervo do Ciberdúvidas, podem ser recordados alguns dos poemas de Eugénio de Andrade. Vide, ainda: Voltar a ler Eugénio como se fosse a primeira vez +  Eugénio de Andrade + Recordar o centenário do nascimento, quando Eugénio foi senha da revolução de Tiananmen + Em louvor de Eugénio de Andrade + Documentário da RTP 

   Primeira imagem: Pintura de Eugénio de Andrade por Bottelho. 

2. A rubrica A dúvida da semana, divulgada nas redes sociais do Ciberdúvidas, tem complemento semanal no programa Páginas de Português, da Antena 2. Aí se apresenta uma explicação um pouco mais desenvolvida para a questão que coloca aos consulentes à segunda-feira (e cuja resposta pode ser consultada à terça-feira). Nesta semana, a professora Carla Marques trata a dúvida relacionada com a forma assumida pelo clítico na substituição do sintagma nominal na frase «Compras este livro mais tarde.»

3.  A correção da expressão «salvo engano» e o uso de minúscula nas preposições que integram os nomes próprios abrem a atualização do Consultório. A estas entradas juntam-se outras quatro respostas: «Aspeto perfetivo e aspeto imperfetivo», «O valor aspetual do gerúndio pedindo», «O verbo destrocar II» e «Locução coordenativa correlativa: «não só... mas também»».

4.  A linguista e professora universitária Margarita Correia explica a diferença entre os conceitos linguísticos de variação, variedade e variante, que, pode ler-se no seu artigo, «nomeiam conceitos diferentes, que a própria morfologia das palavras ajuda a entender» (texto publicado originalmente no Diário de Notíciasaqui transcrito com a devida vénia). 

5.  Edleise Mendes, professora universitária brasileira, trouxe à antena uma reflexão sobre as relações que se estabelecem entre a língua e os valores democráticos, um apontamento que parte da análise dos acontecimentos que tiveram lugar a 8 de dezembro de 2022 em Brasília (texto divulgado originalmente no programa Páginas de Português, da Antena 2).

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1. Em 15 de janeiro, soma-se outro ano no funcionamento deste espaço de divulgação, esclarecimento e discussão de temas da língua portuguesa. Cumprem-se, portanto, 26 anos desde que, em 1997, surgiu a primeira Abertura do Ciberdúvidas – "A língua é como um rio" –, para dar resposta, em acesso livre e gratuito, às interrogações e perplexidades dos falantes no uso diário da língua e de tudo à  volta do idioma oficial dos oito países lusófonos. As dificuldades têm sido numerosas, e o horizonte de 2023 também as anuncia, porque se torna urgente uma renovação gráfica e estrutural capaz de agilizar o processo de atualização e promoção destas páginas. Com efeito, a produção dos conteúdos em linha – quer no Consultório, quer nas demais 10 rubricas, desde O Português na 1.ª Pessoa (com sete sub-rubricas temáticas) à Antologia, passando por outras mais recentes e atuais como A covid-19 na língua –  debate-se com os desafios permanentes do avanço científico e da inovação tecnológica, com a consequente diversidade dos canais de divulgação, exigindo assim recursos financeiros e humanos adequados, condição que anda atualmente longe do Ciberdúvidas. Felizmente que, para enfrentar contrariedades desalentadoras, há sempre um fator de estímulo e esperança: o apoio constante e firme de quantos nos acompanham em qualquer parte do mundo onde se fale português, em toda a sua diversidade geográfica, com consultas pertinentes e palavras generosas de incentivo. A todos os consulentes do Ciberdúvidas, o nosso obrigado.

2. «A língua portuguesa não tem de ser e não é um entrave à internacionalização do ensino superior», defendeu a linguista e professora universitária Margarita Correia, referindo-se ao papel das universidades na promoção do português, para lançamento da discussão do painel “Internacionalização da universidade e o português como língua do conhecimento”, que integrou o programa do Encontro Nacional Universidade: chave para o futuro, organizado pelo Iscte em 07/12/2022. O texto integral da sua intervenção passa a estar disponível em O Nosso idioma.

3. O adjetivo coetâneo significa exatamente o mesmo que contemporâneo? Nem sempre, como se revela no Consultório, onde também se abordam outros tópicos, designadamente, a respeito dos sufixos -ita e -ida, e o uso genérico do pronome tu. Atenção especial é dada à sintaxe, com comentários referentes a construções com a expressão «ter medo de», o verbo portar-se e o verbo ensinar.

4. Em Espanha, na chamada América Latina e noutros pontos do globo, fala-se espanhol... ou castelhano? Um trabalho da jornalista Berna González Harbour publicado no jornal El País em 09/01/2023, aborda esta questão recorrente, dando conta de várias perspetivas. Na rubrica Diversidades, traduz-se, com a devida vénia, o texto original, ao qual se associa uma imagem curiosa, a do neologismo casteñol, uma alternativa sintética e jocosa à disputa entre as duas palavras, que pode adaptar-se ao português como castenhol.

5. No mural do Ciberdúvidas no Facebook, prossegue o passatempo "A Dúvida da Semana", que suscita bastante interesse, assinalando-se a grande participação dos consulentes, com visualizações, "gostos" e comentários. Destaca-se nos últimos dias o contributo de Ana Boléo, que tomando a melodia da canção de "Sei lá", de Bárbara Tinoco, lhe mudou criativamente a letra, tendo por mote os usos da  vírgula. A nova versão pode ser escutada no TikTok.

6. Dois registos da atualidade, ao encontro de quantos defendem maior acompanhamento e afirmação da língua portuguesa:

– O Instituto de Lexicologia e de Lexicografia da Academia das Ciências de Lisboa tem nova presidência, na sequência da eleição da linguista e lexicógrafa Ana Salgado (Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa), que se torna assim a primeira mulher a ocupar o cargo.

– A pressão da língua e literatura anglo-saxónicas em Portugal é tema da crónica que o diplomata e escritor Luís Filipe Castro Mendes assina no Diário de Notícias de 10 de janeiro de 2023. Partindo de uma anedota, o autor conta que, entre candidatos à carreira diplomática e perante uma questão sobre Eça de Queirós, alguém terá respondido assim: «Ah, Senhor Embaixador, eu nunca leio romances portugueses, só leio obras em língua inglesa.» O texto integral encontra-se aqui.

7. A respeito de três dos programas que, na rádio pública de Portugal, são dedicados à língua portuguesa:

Para falar do conceito de diplomacia linguistica, entrevista-se a professora e linguista Margarita Correia, em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 13/01/2023, às 13h20*.

♦ Acerca da necessidade de criar e fixar terminologias científicas nos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Gladys Almeida, professora da Universidade de São Paulo, é a convidada de Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 15 de janeiro de 2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 21 de janeiro de 2022, às 15h30*). O programa inclui ainda um apontamento da professora Carla Marques sobre temas gramaticais.

Em Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido pela Antena 2, o tema das emissões de 16 a 20 de janeiro (segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50*) são os erros falsos e mitos do português, em conversa com novo convidado, o professor universitário e tradutor Marco Neves.

* Hora oficial de Portugal continental.

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1. Instabilidade parece ser o termo que melhor define este início de 2023: caracteriza a política, tanto em Portugal como no Brasil; descreve os fenómenos atmosféricos que têm abalado várias regiões de Portugal; retrata a evolução da guerra entre a Ucrânia e a Rússia; marca ainda o caminho de evolução da covid-19 no mundo. Por esta última razão também a rubrica A covid-19 na língua continua a registar novas entradas que ficam associadas ao caminho do novo coronavírus, com a chegada ao «Ano três» e a criação do Pango (o sistema internacional de classificação de linhagens do coronavírus), onde se incluem as novas duas sublinhagens respetivamente designadas XBB.1.5 e XQ

Primeira imagem: Pintura de Di Cavalcanti vandalizada no Palácio do Planalto, no Brasil.  

2. O uso da vírgula com orações relativas está associado ao valor que estas veiculam na frase, como explica a professora Carla Marques no seu apontamento divulgado no programa Páginas de Português (Antena 2), justificando a incorreção no uso da vírgula na frase «O jovem que chegou ontem, ficou a descansar.» Esta é também a frase que está na base da rubrica Dúvida da semana (desafio linguístico do Ciberdúvidas nas redes sociais). 

3.  No Consultório, registamos sete novas respostas. Entre elas destacamos as que se relacionam com questões ortográficas, nomeadamente a grafia de Benjamim e a forma correta de microsserviço. Retomamos também a questão da concordância do verbo ser em duas situações: numa construção pseudoclivada («Quem canta assim é») e na expressão de localização temporal. Analisamos ainda a possibilidade de flexão no plural da locução «como tal» e o possível sentido da expressão «neutro universal». Por fim, elencamos os códigos dos estados dos EUA

4.  A jornalista Luciana Leiderfard recorda o caminho literário de António Mega Ferreira (recentemente falecido), evocando as obras publicadas, com um destaque particular para o Roteiro Afetivo de Palavras Perdidas, o último livro que o autor deixou aos seus leitores, no qual recupera palavras perdidas numa perspetiva pessoal carregada de emoção (artigo aqui transcrito com a devida vénia). 

5.  Entre as notícias relacionadas com a língua destacamos:

– A divulgação da Palavra do Ano de 2022 em Angola, que este ano é cuiar, um termo coloquial, eventualmente originário do quimbundo kuya, que significa «agradar», «estar ou ser animado» ou «ter sucesso» (informação Infopédia; ver notícia aqui);

– A tomada de posse, a 9 de janeiro, do novo Diretor Executivo do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), João Laurentino Costa Pinho Neves, que foi eleito para o biénio 2023-2024; 

– A abertura da terceira edição do concurso “Contos do Dia Mundial da Língua Portuguesa”, uma iniciativa da Porto Editora, em articulação com o Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. e o Plano Nacional de Leitura (PNL2027). A este concurso poderão concorrer alunos dos cursos de Língua e Cultura Portuguesas da rede Camões, I.P. no mundo por meio da apresentação de um conto inédito em português (até 28 de fevereiro). 

 

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1. Os tempos continuam conturbados, tornando o ano novo mera formalidade, pois são várias as palavras das manchetes de 2022 que se mantêm em 2023. Entre elas, figura o vocábulo guerra, o mais votado em Portugal na edição de 2022 de A Palavra do Ano (ver Notícias), em alusão direta ao conflito russo-ucraniano. Entretanto, a Rússia anuncia uma trégua nas hostilidades com a Ucrânia nos dias 6 e 7 de janeiro, coincidindo com a celebração do Natal ortodoxo*. E a pandemia de covid-19 é sempre notícia, como documenta o reportório vocabular e fraseológico A covid-19 na língua, com a entrada cremação, relativa ao que sucede na China. Neste país, o agravamento da situação epidémica e a sobrelotação dos crematórios no último trimestre de 2022 forçam as famílias a cremarem elas próprias os seus mortos nas ruas de várias localidades.

* O Natal ortodoxo segue o calendário juliano, anterior ao calendário gregoriano. A fechar a quadra natalícia no mundo católico, também em 6 de janeiro se celebra tradicionalmente o Dia de Reis (ou Epifania). Sobre esta data festiva e o nome janeiro, sugere-se a consulta de alguns conteúdos em arquivo: "A linguagem do Natal",  "A grafia de Melchior e Baltasar", "As variantes Belchior e Melchior", "Epifânia e epifania", "Plural de bolo-reibolos-reis", "Cantar os/dos Reis", "História da língua em dia de Reis", "O primeiro de janeiro" e "O calendário e os meses do ano".

2. Para a paz e o entendimento, é preciso diplomacia, mesmo em matéria de língua. Na Montra de Livros, apresenta-se o número 9 da revista Platô, uma publicação do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, na qual se reúne uma série de estudos à volta de dois temas: o léxico e o pluricentrismo da língua portuguesa. A respeito de política linguística, destaca-se o artigo da professora universitária e linguista Margarita Correia, que manifesta preocupação pela falta de formação nesta área entre os diplomatas da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

3. Como é habitual, a entrada em 2023 foi marcada por grandes festas, designadas pelo galicismo réveillon. Será legítimo aportuguesar esta palavra como "revelhão", forma que, aliás, já ocorre espontaneamente entre os falantes? Ao tópico desta pergunta juntam-se os de outras seis na atualização do Consultório: o verbo desancar; a sequência «acabei de começar»; o nome carrossel; a anáfora como recurso de estilo; a vogal /i/; e o sujeito sintático em português.

4. Diz-se «fim de ano» ou «final de ano»? O escritor e revisor Gabriel Lagos, assinala que «final já é empregado também como substantivo (sinônimo de fim, oposto a início) pelo menos desde 1873, segundo aponta o dicionário Houaiss», em texto publicado no mural  Língua e Tradição (Facebook, 31/12/2022) e transcrito com a devida vénia em O Nosso Idioma.

5. Até que ponto é corrente o uso do ponto e vírgula na escrita do português? Parece não haver dados exatos, mas, para o inglês, a investigação linguística conclui que é sinal de pontuação em declínio. Sobre este assunto, traduz-se e disponibiliza-se, na rubrica Diversidades, um artigo assinado pelo jornalista britânico Will Lloyd na plataforma de notícias UnHerd.

6. Dois registos com interesse para os estudos do léxico do português:

– as palavras despiorar e despiorio, criadas com base em piorarpiorio pelo escritor Miguel Esteves Cardoso, em crónica incluída no Público, em 03/01/2023;

– dez palavras portuguesas de origem persa (por exemplo, açúcar, xadrez e pijama), um apontamento de 2022 que o professor universitário e tradutor Marco Neves retomou no começo de 2023 (blogue Palavras Certas).

7. Por último, faça-se referência a três dos programas que, à volta da língua portuguesa, são transmitidos pela rádio pública de Portugal:

– No Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 06/01/2022, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), entrevista-se Joana Simões Piedade, autora, com Sofia Lopes, de Migrações e Interculturalidades: Conhecer para intervir em Sala de Aula. Recursos Pedagógicos para Formadores/Professores, obra dedicada à didática do Português para comunidades migrantes.   

– O número 9 da revista Platô, do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, é também tema de conversa com a linguista e professora universitária  Margarita Correia (ver supra), em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 08/01/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 14/01/2023, 15h30*). No programa, participa ainda a professora Carla Marques, com um apontamento acerca da pontuação, em especial, do uso da vírgula.  

Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido pela Antena 2,  tem como como convidado o antigo jornalista e hoje vitivinicultor Pedro Luiz de Castro para falar do vinho de talha, da linguagem da TV e da rádio, e do anglicismo lobbying.

* Hora oficial de Portugal continental.

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1. O Ciberdúvidas retoma as suas atividades habituais e deseja a todos os seus consulentes um excelente ano de 2023, sem esquecer, claro, o cuidado que a língua merece e exige. Este novo ano traz, por um lado, a notícia do falecimento de figuras públicas de importância maior em áreas muito distintas: o Papa emérito Bento XVI e o futebolista Pelé. Estes acontecimentos convocaram para o espaço mediático a palavra velório, que designa a vigília feita a um defunto. Relativamente a este termo, esclareça-se que a sua origem é comum à de vela, pois ambos derivam do verbo latino vigilare, que significava «vigiar, ficar acordado». Velório resultou da junção do verbo radical vele do sufixo -ório, e passou a designar o ato coletivo de velar o defunto. Já vela formou-se a partir de velar por derivação não afixal (derivação regressiva), referindo o objeto de cera que iluminava no decurso das vigílias noturnas feitas aos defuntos. O início de 2023 fica marcado, por outro lado, pela tomada de posse de Lula da Silva, no Brasil. Este acontecimento deu particular realce à palavra cuidar, usada pelo novo presidente no seu discurso de tomada de posse. Este é um verbo de significação muito rica, que vai do plano físico ao emocional. Assim, o novo presidente do Brasil comprometeu-se perante os brasileiros a «prestar atenção», a «realizar algo com atenção», a «preocupar-se com algo», a «tomar conta»,  a «tratar» ou a «responsabilizar-se». Um excelente exemplo de como falar também implica intrinsecamente uma ação, como defendia o filósofo da linguagem Austin.   

2. Em português, a palavra cetro pode também grafar-se ceptro, um caso de dupla grafia que se justifica pelas duas possibilidades de pronúncia da palavra (com ou sem articulação do -p-). Esta é a explicação que integra a atualização do Consultório, à qual se vêm juntar sete novas respostas: «A regência de filiado», ««Morar com», «morar em» e «morar para»», ««A quantas ando» II», «Casadela», «Concordância no plural com dois infinitivos», «O português língua e o inglês language», «Inundamento, inundação».  

3.  A língua é sempre permeável a novidades e a criatividade linguística pode contribuir para enriquecer o léxico. É o caso do termo basculação, usado pela primeira vez pelo treinador português José Mourinho, como conta o jornalista João Querido Manha no trabalho que está a publicar no seu blogue sobre sobre a linguagem e a semântica do futebol, de A a Z.

Cf. BasculaçãoFutebolês

4. O crioulo de Querala, no sul da Índia, é ainda usado no país por um número muito residual de falantes, uma situação linguística descrita no artigo traduzido do inglês, onde se apresentam pormenores da investigação desenvolvida pelo professor universitário Hugo Cardoso (artigo transcrito com a devida vénia).

5. A professora universitária Margarita Correia apresenta um artigo de reflexão sobre algumas políticas linguísticas e educativas dinamizadas na Turquia (aqui transcrita com a devida vénia).  

6. O árabe tem sofrido uma clara evolução ao longo dos tempos. A comunicação nos países de língua árabe, que não é feita em árabe clássico, uma língua formal e literária, deu lugar a um conjunto de línguas nacionais e dialetos por vezes tão distintos que impedem a intercompreensão entre povos árabes. Todavia, atualmente, emerge uma espécie de pan-árabe que parece assegurar a comunicação entre os diferentes países. Esta é a matéria que nos é apresentada neste artigo traduzido do francês da autoria do jornalista Akram Belkaïd, transcrito com a devida vénia.  

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Coincidindo com a interrupção da atividade escolar na quadra do Natal, as atualizações do Ciberdúvidas têm igual paragem até 3 de janeiro de 2023, data em que serão retomadas normalmente. Durante o período festivo, fica encerrado o Consultório e reduz-se a frequência da divulgação de outros conteúdos nas demais rubricas. Como sempre, mantém-se o livre acesso ao extenso arquivo do Ciberdúvidas.

Para assuntos que não digam respeito ao esclarecimento de dúvidas, continuam disponíveis os contactos indicados aqui. Na imagem, Sagrada Família, representação integrante do retábulo que se encontra na Sé Catedral de Viseu e que é da autoria de Grão Vasco (c. 1475-c.1542).

2. Na última atualização do Ciberdúvidas em 2022, abordam-se os seguintes tópicos:

– No Consultório, as respostas dizem respeito ao uso da nominalização de invasão, a colocação dos pronomes átonos depois do advérbio aqui, ao nome comum caulino, ao nome próprio Oxalá e à expressão «produção de vídeo». A propósito dos Reis Magos, uma última questão: a pronúncia do nome de um deles – Belchior ou Melchior.

– Nas demais rubricas, apresenta-se uma reflexão sobre os verbos impessoais no ensino de Português Língua Estrangeira (Ensino), e transcreve-se com a devida vénia um artigo do escritor João Melo sobre a 26.ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo (Controvérsias). No reportório vocabular e fraseológico A covid-19 na língua, há três novas entradas, relativas às sequelas físicas e psicológicas da doença, sobretudo entre os jovens: os  termos miocardite e pericardite, o nome infelicidade e o anglicismo brain fog («nevoeiro cerebral»).

3. Duas notícias e uma crónica à volta de acontecimentos e efemérides que marcaram 2022 ou que definem já o horizonte de 2023:

– A invasão da Ucrânia ditou que oligarca fosse a palavra mais pesquisada em 2022 no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, conforme comunicado da empresa Priberam, dando conta da publicação em linha de O Ano em Palavras. Trata-se de uma lista de 24 entradas (duas por mês) que, em colaboração com a Agência Lusa, foram selecionadas como definidoras de 2022. Entre elas, contam-se maioria absoluta, estagflação, monarca, bicentenário, prevaricação e intempérie. Para saber a razão destas e das restantes escolhas, consultar as páginas de O Ano em Palavras e a nota de imprensa da Priberam em 15/12/2022.

– Em Angola, discute-se a inserção das línguas nacionais bantas e não bantas no sistema de ensino. Na abertura do II Seminário da CPLP sobre Português Língua Segunda para Professores do Ensino Primário, que decorreu em Luanda de 12 a 14/12/2022, a ministra angolana de Estado para a Área Social, Dalva Ringote, realçou a importância deste encontro para a partilha de experiências «que contribuem para a definição de uma estratégia a adotar no processo de inserção das línguas [bantas e não bantas] no currículo escolar» (Jornal de Angola, 13/12/2022).

– O 50.º aniversário do ISCTE, assinalado pela reitora desta instituição, Maria de Lurdes Rodrigues, em crónica incluída no Jornal de Notícias, em 15/12/2022, e da qual se destaca a seguinte consideração: «[...] A guerra mobiliza os jovens, não lhes permite continuar a estudar. A guerra destrói vidas humanas, cidades inteiras, infraestruturas, e também instituições, como as universidades, que demoram décadas a [ser construídas], mas que podem desaparecer num curto lapso de tempo.»

4. Recorde-se que também nas Notícias bem como no Facebook se encontra sempre informação atualizada sobre os conteúdos de três dos programas que, à volta da língua portuguesa, são transmitidos pela rádio pública de Portugal. São eles:

Língua de Todos, na RDP África, às sextas-feiras, às 13h20* (repetido no dia seguinte, pouco depois do noticiário das 09h00*);

Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, às 15h30*);

♦ e Palavras Cruzadas, um programa realizado por Dalila Carvalho e emitido nAntena 2, de segunda a sexta, às 09h50 e 18h50*.

* Hora oficial de Portugal continental.

5. Finalmente, associando-as aos nossos votos de Festas Felizes, ficam as palavras (também) evocativas do ambiente desta época no interior norte de Portugal, num poema de Miguel Torga (1907-1995):

Foi tudo tão pontual
Que fiquei maravilhado.
Caiu neve no telhado
E juntou-se o mesmo gado
No curral.

Nem as palhas da pobreza
Faltaram na manjedoira!
Palhas babadas da toira
Que ruminava a grandeza
Do milagre pressentido.
Os bichos e a natureza
No palco já conhecido.

Mas, afinal, o cenário
Não bastou.
Fiado no calendário,
O homem nem perguntou
Se Deus era necessário...
E Deus não representou.

Miguel Torga, Diário V

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A época festiva que se aproxima vem habitualmente acompanhada de um aumento da circulação rodoviária, o que implica, não raro, um crescimento do número de acidentes nas estradas. Esta é uma situação que coloca, entre outras, a questão da segurança dos automóveis, um domínio pelo qual as empresas automobilísticas se interessam cada vez mais. Neste âmbito, promovem estudos que visam desenvolver estruturas de proteção dos habitáculos das viaturas de modo a minimizar os efeitos de um choque no corpo humano. É neste contexto que Astrid Linder, engenheira sueca no ramo automóvel, desenvolveu o que foi descrito em português como o primeiro "dummy" feminino. Trata-se de um protótipo do corpo feminino que permite estudar os efeitos de colisão no corpo das mulheres, um domínio que, segundo a investigadora, está muito pouco estudado, uma vez que os protótipos são inspirados nos corpo masculino. Sendo esta uma experiência que merece reflexão e sobre a qual certamente muito se falará, sugerimos que se substitua o anglicismo "dummy", por exemplo, pelo termo «boneco de treino».

     Primeira imagem: Natividade (1720-22), Painel de azulejos atribuídos ao pintor Manuel da Silva, Claustro da Sé Catedral de Viseu. 

2. A palavra morrinhanha, que não tem registo dicionarístico, motivou uma análise de natureza lexical e morfológica, que procura identificar os processos de formação e o seu percurso de significação, cuja síntese se pode ler no Consultório. Aí encontram-se também as seguintes novas respostas: «O meu tempo e dinheiro», «Colocação pronominal depois de assim», «A sintaxe de ânimo», «Junta-panelas», «Os significados de aconchegado e aconchegante» e «A grafia de imuno-histoquímica». 

3. A identificação das classes de pertença de muito motivam a análise do comportamento da palavra em frases como «Este livro é muito interessante» e «Ao ler fiquei com muito medo», apresentada pela professora Inês Gama, no programa Páginas de Português, da Antena 2

4.  No Pelourinho, Paulo Barata, consultor do Ciberdúvidas, reflete sobre o uso indevido do termo expletivo em referência aos palavrões usados por Cristiano Ronaldo no contexto de um jogo do Mundial de Futebol. 

5. A professora brasileira Edleise Mendes apresenta algumas valências do projeto Cruzando Fronteiras, no âmbito da formação de professores em interculturalidade e bi/multilinguismo (crónica do programa Páginas de Português, da Antena 2). 

6. A importância das palavras, que tanto podem matar como salvar, é o ponto de partida para a reflexão de Alexandra Manes, deputada do Bloco de Esquerda na Assembleia Regional dos Açores, na qual se elencam as consequências destruidoras das palavras mal usadas e o caminho que importa percorrer para uma sociedade mais equilibrada, também no uso da língua (artigo publicado na página Esquerda.net transcrito aqui, com a devida vénia).  

7. Foi lançado o n.º 5 da revista Platô, organizada pelo ILLP e pelo Itamaraty. Trata-se de uma publicação que tem como título Nível lexical: as palavras e os termos, desafios político-linguísticos para o português, língua pluricêntrica.  A apresentação deste número é feita pela professora universitária Margarita Correia no seu artigo "A Platô, os projetos pluricêntricos do ILLP e as coincidências", publicado no Diário de Notícias

8. Registo ainda para as seguintes notícias:

– O projeto de tradução Ulisses a 18 vozes, da Ateliê Editorial, que apresenta a tradução de Ulisses, de James Joyce por 18 tradutores distintos (um por capítulo), como forma de celebrar os 100 anos da publicação do autor irlandês;

– O lançamento do Da Vinci 003, um chatbot (programa desenhado para simular uma conversa com utilizadores humanos, utilizado sobretudo em ambiente online) capaz de responder a perguntas sobre literatura ou de redigir um ensaio, tal como se explica nesta notícia

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, as notícias deram relevo a um escândalo de fuga ao fisco que permitiu arrecadar fortunas numa conta pessoal movimentada em homebanking. Este anglicismo tornou-se recorrente na atividade bancária e já tem registo dicionarístico em português, como designação do «serviço disponibilizado pelos bancos que permite aos clientes registados efetuar vários tipos de operações bancárias através do telefone ou usando a Internet» (Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa). Que o nome anglo-saxão ainda não tem equivalente exato em português é a conclusão a tirar perante a ausência de uma entrada lexicográfica vernácula. Numa pesquisa na Internet*, perfilam-se várias soluções adequadas, mas ainda em processo de seleção, a aguardarem usos estáveis*: telebanco, «banco ao domicílio», «banco eletrónico», «banco digital», «banco internético» ou «banco em linha» (melhor do que «banco online»).

* Consultaram-se em 09/12/2022 as páginas do Linguee, artigo "Banco internético" da Wikipédia e o portal da Agência de Gestão de Tesouraria e da Dívida Pública. Mencione-se a formulação económica e expressiva que a Caixa Geral de Depósitos (Portugal) achou para este tipo de serviço, «caixa direta», a qual, no entanto, parece limitar-se à comunicação deste banco.

2. No reportório vocabular e fraseológico A covid-19 na Língua, uma nova entrada: «covid zero flexibilizada», relativa ao pacote de medidas anunciado oficialmente na China e indicativo da flexibilização, a partir de 7 de dezembro de 2022, da rígida política de «covid zero», em resultado de uma onda de protestos sem precedentes no país.

3. A expressão «amigo pessoal» é um pleonasmo, mas o seu uso está absolutamente errado? A resposta junta-se a outras seis, num total de sete, que constituem a atualização do Consultório: "A grafia de ecoílha", "Como causal com indicativo ou conjuntivo", "Os significados de diálogo e conversa", "Os significados de acabar por, acabar em e acabar de", "O verbo deteriorar com pronome", "Fêmea com e aberto (Portugal)".

4. Na rubrica Notícias, dá-se conta das palavras e dos assuntos mais procurados pelos portugueses no Google – gugladas, forma aportuguesada já dicionarizada –, em 2022, conforme se pode apurar da informação veiculada pela comunicação social em Portugal. Entre as dez palavras mais procuradas, encontram-se nomes comuns – «alterações climáticas» –, nomes próprios – Mundial 2022UcrâniaRússia – e amálgamas de siglas associadas a estrangeirismos – por exemplo, IVAucher.

5. Do diversificado conjunto de atividades da Biblioteca Palácio Galveias (rede de Bibliotecas de Lisboa –BLX), é de destacar a comemoração dos 20 anos da Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação (APDSI). Esta entidade tem também desenvolvido ação importante na fixação terminológica da área da informação, materializada no Glossário da Sociedade da Informação. Sobre as muitas atividade que têm lugar na Biblioteca Palácio Galveias, ver aqui.

6. Relativamente a estudos e ensaios académicos acerca da língua portuguesa, assinale-se o presente dinamismo das publicações em linha. São exemplos:

– À volta da codificação do português em Angola, avulta o artigo "Proposta de Concepção de Dicionário de Português: um projecto em curso assente em análise de corpus sobre a variedade angolana", do linguista Márcio Undolo, na revista Modern Languages Open (MLO), da Liverpool University Press (Reino Unido). Este trabalho de Márcio Undolo faz parte do número especial de novembro de 2022, publicado em inglês e português com o título Língua e educação nos países lusófonos: teoria e prática.

– Do professor Onésimo Teotónio Almeida, refira-se o artigo "De 'Ilha da Vera Cruz' a 'Brasil' – revisitação à origem" (revista Antíteses, número especial Independência do Brasil – 200 anos, novembro de 2022, pp. 321-340), no qual o autor retoma uma questão ainda por esclarecer cabalmente: a da origem do nome Brasil.

7. Finalmente, uma referência a programas dedicados à língua portuguesa na rádio pública em Portugal:

– Em Língua de Todos, transmitido na RDP África, na sexta-feira, 09/12/2022, 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), De que modo podem os alunos aperfeiçoar a sua competência linguística? Sandra Duarte Tavares, linguista e habitual colaboradora do Ciberdúvidas, dá indicações para o melhoramento das competências linguísticas dos alunos.

– O Dicionário Crítico das Ciências Sociais dos Países de Fala Oficial Portuguesa é tema central em Páginas de Português, difundido pela Antena 2, no domingo, 11/12/2022, 12h30* (repetido no sábado seguinte, 17 de dezembro de 2022, às 15h30*). Este programa conta ainda com a crónica da linguista brasileira Edleise Mendes, sobre formação em interculturalidade e bi/multilinguismo.

– De segunda a sexta, às 09h50 e 18h50*, nAntena 2, emite-se Palavras Cruzadas, um programa realizado por Dalila Carvalho.

 * Hora oficial de Portugal continental.