A questão faz parte de um debate muito alargado que, como é de calcular, não se limita à língua portuguesa e também se faz sentir em línguas em que o contraste de género tem realização morfológica, como é o caso do espanhol ou do alemão.
Sobre o assunto, o Ciberdúvidas tem dado espaço para posições a favor e contra (ver Textos Relacionados), bem como a propostas que podem encontrar cabimento nas estruturas da língua e a outras propostas que podem revelar-se irrealistas. Por exemplo, na referência a um grupo de pessoas constituído por homens e mulheres é verdade que o masculino funciona como plural genérico, uso que atualmente tem sido alvo de contestação, mas não ao ponto de provar que é uso incorreto ou desadequado. Não é, e, do ponto de vista da economia de palavras, continua a ser um plural válido, apesar de, independentemente do debate contemporâneo sobre identidade e género, já se disponibilizarem formulações antecipatórias do estilo inclusivo – é o caso da expressão «Senhoras e Senhores», ou «Minhas Senhoras e meus Senhores».
Para já, o balanço que se pode fazer é que as propostas de linguagem inclusiva que são viáveis são meramente estilísticas: é a avaliação que se pode fazer de expressões como «portuguesas e portugueses».
Quanto ao uso de @ ou de "-e" como marcadores de plural inclusivos – "tod@s" e "todes" – e de outros sinais com função de referência genérica, trata-se de recursos gráficos. É certo que -e tem tido realização fonética, como acontece em "todes", mas é uso de êxito incerto. É preciso notar que a mudança linguística é um processo lento e nem sempre previsível. Quando se trata de níveis de funcionamento linguístico mais profundo, como o sistema fonológico, as regras de formação de palavras (morfologia) ou a sintaxe, a mudança não se faz nem se evita por voluntarismo de grupos. Daí que, muitas vezes, numa mesma comunidade, a mudança coexista com outras formas durante muito tempo. Nos níveis mencionados, a generalização de um fenómeno linguístico que corresponda a uma efetiva mudança linguística demora, portanto, algum tempo.1
Em todo o caso, impõe-se acompanhar atentamente a evolução deste debate e os seus reflexos no funcionamento do idioma.
1 Agradeço à consultora permanente Carla Marques a discussão que levou a definir as ideias contidas neste parágrafo.