Com nomes próprios, aceita-se a associação de ambas as construções.
Contudo, na construção com a preposição de, deteta-se certo valor depreciativo e há que enquadrá-la num registo informal. É preciso também ter em conta a história das duas construções.
1. Um(a) tal de + nome próprio
A expressão «um tal de» está identificada como um brasileirismo, conforme indicação de um dicionário produzido no Brasil – o Dicionário Houaiss (s. v. tal):
«um tal de – Regionalismo: Brasil. empregada pejorativa ou desdenhosamente em relação a outra pessoa Ex.: casou-se com uma tal de Leonor.»
Mas não se pense que este uso está ausente dos dicionários elaborados de Portugal. Na verdade, «um tal de» tem registo no dicionário de português da Infopédia sem especial atribuição dialetológica: « um(a) tal de: expressão usada, geralmente de forma depreciativa, para designar alguém cuja identidade não se tem a certeza.» Não obstante, o registo feito em dicionários de Portugal parece posterior aos do Brasil, o que sugere que se trata de um empréstimo da variedades brasileira para a variedade de Portugal1.
2. Um tal + nome comum/ nome próprio
Tem registo num dicionário português, o da Academia de Ciências de Lisboa, e não com um nome próprio:
(1) «Respondeu-me um tal bem antipático.»
O certo é que «um tal» tem tradição no português, pelo menos desde o século XVI, como refere Vasco Botelho de Amaral (s. v. um tal, Grande Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português, 1958). Com nomes próprios, tem abonação em Camilo Castelo Branco:
(2) «Aos vinte annos amavas com ternura um tal Pedro Sepúlveda. Aos vinte e cinco, amavas com paixão, um tal Jorge Albuquerque. Aos 30, amavas com delírio, um tal Sebastião de Meirelles» (Camilo Castelo Branco, O Romance Dum Homem Rico, Porto, Tipografia da Revista, 1861, p. 74, citado por Helder Guegués, "Um tal de", O Linguagista, 14/03/2013).
Em conclusão, é provável que, associados a nomes próprios, «um tal de» seja, em Portugal, mais recente que «um tal». Deteta-se também em «um tal de» um matiz claramente depreciativo que não se deteta (pelo menos, não tanto) em «um tal».
1 Talvez esta transferência se tenha dado na época áurea da transmissão das telenovelas brasileiras em Portugal, entre 1977 e o começo dos anos 90. No entanto, não foi aqui possível confirmar esta hipótese.