Do ponto de vista comunicativo, o inglês é das línguas mais usadas por comunidades com diferentes idiomas para contactarem entre si. É a língua mais ensinada como língua estrangeira e a mais utilizada em contextos académicos, comerciais e relativos às novas tecnologias. O que levanta a seguinte interrogação: qual o estatuto da língua inglesa no mundo global de hoje?
A partir da expansão do império britânico no século XIX e com o domínio dos Estados Unidos enquanto potência comercial, o inglês é uma língua que tem assumido grande relevância comunicativa, tendo o estatuto de língua oficial em mais de 50 países1. Com o surgimento da Internet, o conhecimento difundido em língua inglesa amplificou-se, o que fez com que o seu domínio fosse essencial para quem quisesse ter acesso à informação divulgada neste meio. Para além disto, a Internet veio intensificar o processo de interação entre comunidades distantes, com diferentes línguas, o que motiva que, frequentemente, elas usem o inglês para comunicarem entre si. Portanto, poder-se-á assumir que a língua inglesa tem, no mundo global de hoje, o estatuto de língua franca (designação estabilizada em português), uma vez que é utilizada por diferentes falantes para comunicar nas suas relações socias, diplomáticas e comerciais. Basta notar que a própria ONU tem, como uma das suas seis línguas oficiais, o inglês, recorrendo frequentemente a este idioma como língua de trabalho, quando pretende que uma determinada mensagem alcance uma projeção mundial. Isto remete-nos para a questão de saber se o inglês pode ser considerado uma língua mundial e/ou universal?
Ora, segundo dois dicionários em linha consultados — Infopédia e o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa –, os termos mundial e universal são sinónimos e podem-se usar quando se refere algo «relativo ao mundo como um todo». Portanto, se tivermos em consideração que, atualmente, o inglês é a língua mais usada pelos falantes do mundo inteiro, uma vez que conta com 1,75 milhões de falantes (cerca de 1 em 4 pessoas no mundo), de um ponto de vista comunicativo, é lícito utilizar a expressões como língua mundial e língua universal para designar a situação atual deste idioma. Aliás, em páginas da Internet em português, sobretudo direcionadas para o público brasileiro, como por exemplo a InfoEscola, expressões como língua mundial ou língua universal são usadas para referir o contexto do inglês nos dias de hoje. Também no discurso académico são recorrentes as designações língua mundial e língua universal para referir o estatuto do inglês no mundo.
A questão levantada no consultório e respondida a 14 de abril de 2023 – contestada pelo advogado e esperantólogo Miguel Faria de Bastos, com o texto «Não há língua universal alguma» –, pretendia simplesmente a identificação de um termo que pudesse designar uma língua com grande difusão mundial, como idioma materno, língua estrangeira e segunda ou língua veicular. Na verdade, as expressões identificadas na resposta (língua mundial e língua universal) são designações que circulam quando se faz referência ao inglês ou a outras línguas com igual difusão. Tais expressões não se furtarão a um exame crítico, mas, na resposta em causa, o intuito tem cariz descritivo. No fundo, tratou-se de uma resposta enquadrada no âmbito lexicográfico, que procurou apontar possíveis termos a usar para descrever situações aplicadas a línguas como o inglês, que têm uma utilização comunicativa bastante alargada a nível mundial.
1. As fontes consultadas não apresentam informação unânime quanto ao número concreto de países com língua oficial inglesa. Segundo o texto de Marisa Grigoletto na Enciclopédia de Línguas do Brasil, estes são mais de setenta. Já a Universidade do Tennessee lista um conjunto de países em que o inglês é considerado língua oficial de acordo com dados da Agência Central de Inteligência Norte Americana (CIA). No que toca ao estatuto deste idioma nos Estados Unidos, lembra-se que este país não tem língua oficial, todavia, alguns dos seus estados têm vindo a adotar o inglês como língua oficial, tal como assinala o artigo «Official-English and the States: Influences on Declaring English the Official Language in the United States» de Deborah J. Schildkraut.
[Sobre esta controvérsia, O inglês, língua universal: sim ou não?, vide os textos: Não há língua universal alguma e Um mundo anglofonizado.]
Cf. História do inglês em 10 palavras + As dificuldade da tradução + Breve história do Inglês