O excerto apresentado pertence à obra A musa de Camões, de Maria Helena Ventura. Transcrevemo-lo com algumas correções, respeitando o original:
«E uma ansiedade nova, que não seria capaz de partilhar, pede-lhe para devolver em audácia o que, por momentos, rouba à sensatez exigida pela sua condição, palavras em meigo tom de voz, afecto comovido
‘Sois vós, Senhor Camões?...»
Os atos ilocutórios identificam-se pelo seu objetivo ilocutório, que corresponde ao ato que o locutor pretende realizar com o seu enunciado.
No excerto em questão, assinalamos a presença de dois atos ilocutórios:
(i) ato ilocutório assertivo no enunciado «E uma ansiedade nova, que não seria capaz de partilhar, pede-lhe para devolver em audácia o que, por momentos, rouba à sensatez exigida pela sua condição, palavras em meigo tom de voz, afecto comovido»
Este ato ilocutório tem como objetivo ilocutório «relacionar o locutor com a verdade da proposição expressa pelo enunciado»1.
(ii) ato ilocutório diretivo indireto no enunciado «‘Sois vós, Senhor Camões?...»
Este enunciado tem como objetivo ilocutório procurar que o alocutário venha a realizar uma dada ação, verbal ou não verbal2, o que no caso em questão se concretiza, pois Camões, que estava escondido, revela-se após ouvir o enunciado.
Num ato ilocutório expressivo, o locutor tem como objetivo ilocutório exprimir o seu estado psicológico relativamente ao conteúdo proposicional do seu enunciado3, o que no caso em questão não parece constituir o objetivo visado pelo locutor, quer direta quer indiretamente.
Disponha!
1. Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa. Caminho, p. 75.
2. cf. Idem, ibid., p. 76.
3. cf. Idem, ibid., p. 78.