1. A diferença de significado entre as formas verbais vivo e vivi não se resume a uma questão de valores temporais pelo contraste entre presente e pretérito, porque há que considerar também os chamados valores aspetuais, como evidencia uma pergunta dirigida ao Consultório, onde também se aborda outro tema da semântica, a modalidade. Outras perguntas desta atualização: diz-se «grato a alguém», ou «grato por alguma coisa»? Aluno e estudante são sinónimos? Qual a origem do nome próprio Gertrudes? Por último, um retorno à questão de saber se, a par de «cancro do estômago», com artigo definido, se pode empregar «cancro de estômago», sem artigo definido depois da preposição.
2. Sabemos como, em Portugal e noutros países, a variação linguística regional está a passar por grandes transformações, mas há regiões que vão mantendo uma forte personalidade dialetal, como parte do seu património – é o caso do Alentejo. Na Montra de Livros, apresenta-se Dialeto Alentejano, publicado pela primeira vez em 2011 e da autoria da Manuela Florêncio, que o escreveu como trabalho académico, visando sistematizar os estudos do grande filólogo português Leite de Vasconcelos (1858-1941) sobre os dialetos alentejanos. Na mesma rubrica, a reedição do Dicionário de Insultos, da autoria de Sérgio Luís Carvalho e agora com colaboração do jornalista Fernando Alvim, é motivo para uma nota de atualização na apresentação que, em 2014, o Ciberdúvidas dedicou a este livro.
3. Mandado ou mandato? Descriminar ou discriminar? Adesão ou aderência? São todas palavras corretas, mas umas são parónimas, outras são da mesma família e quase sinónimas, pelo que é fácil confundi-las e a questão está em saber usá-las. Da edição eletrónica da revista Visão (10/03/2019), a rubrica O nosso idioma transcreve com a devida vénia um texto da professora e consultora linguística Sandra Duarte Tavares, no qual se retoma o tema de Pares Difíceis da Língua Portuguesa (2015) e Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa (2017), obras escritas com Sara de Almeida Leite.
4. As notícias publicadas em Portugal continuam a dar conta das negociações do Brexit, isto é, da saída do Reino Unido da União Europeia (UE). Uma palavra sobressai, nem sempre traduzida pela comunicação mediática portuguesa – falamos de backstop, termo inglês que se distingue pela polissemia. Geralmente evoca a ideia do que se põe atrás de alguma coisa, como barreira, vedação ou apoio (cf. Oxford English Dictionary). Assim se compreende que, na terminologia do beisebol (ou basebol), se conte como designação da rede de segurança por trás do recetor para proteger o público das bolas (mal) arremessadas. No contexto do Brexit, o anglicismo aplica-se à situação da fronteira entre o Reino Unido e a República da Irlanda, para a qual a UE propõe uma solução de recurso, de modo a garantir o livre trânsito entre as duas Irlandas num período de transição. Em português mediático, já ocorreram expressões como «solução de recurso» e «rede de segurança» (ver artigo da jornalista Sara Antunes de Oliveira, "Brexit. 5 pontos para compreender o impasse de uma fronteira", no jornal Observador, 18/10/2019); mas, olhando para o lado, lendo o que se faz em espanhol, registe-se que a Fundéu-BBVA recomenda solución de salvaguardia (ou de salvaguarda), solución de último recurso ou simplesmente salvaguardia (ou salvaguarda), traduções que encontram formas semelhantes ou até iguais em português. Em resumo, o caprichoso termo inglês equivale, entre outras opções, a salvaguarda, a «solução de recurso», ou, ainda, evitando seguidismo do português relativamente ao castelhano, garantia – quando o tema é o Brexit, cujo nome, recorde-se, se pronuncia "brécsit" ou "brégzit".
5. Entre notícias à volta da dinâmica das línguas e da sua interação em diferentes pontos do globo, mencione-se um texto publicado no jornal Público (12/03/2019), a respeito de como a hegemonia do inglês à escala mundial parece dar agora espaço à concorrência de outros idiomas – o espanhol, por exemplo. E registe-se ainda um artigo em inglês sobre a comunidade dos burghers portugueses do Sri Lanka, uma comunidade que conserva um crioulo de base portuguesa, em risco de desaparecimento.
6. Qual o papel do Brasil na promoção do português no mundo e particularmente em África, no âmbito do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) e a sua articulação com Portugal? Este é o tema principal do programa Língua de Todos, na RDP África, de sexta-feira, dia 15/03, às 13h15* (com repetição no dia seguinte, depois do noticiário das 09H15*), em conversa com Edleise Mendes, professora da Universidade Federal da Bahia. O programa Páginas de Português, na Antena 2, no domingo, dia 17/03, às 12h30 ** (com repetição no sábado seguinte, dia 23/03, às 15h30**), centra-se numa entrevista a Paulo Dias, reitor da Universidade Aberta de Lisboa, sobre as novas ofertas de ensino a distância em língua portuguesa.
* Hora oficial de Portugal continental, ficando o programa disponível, posteriormente, aqui e aqui.