Ao contrário do que se poderia pensar, a sequência 1 não está incorreta. Já a sequência 2, podendo aceitar-se, se revela mais problemática quanto ao seu enquadramento gramatical.
Na frase em questão, estamos perante uma construção formada por um verbo (fazer) seguido de um nome (mal). Se simplificarmos a frase, para facilitar a análise, teremos:
(2) «Estas coisas fazem mal à cabeça.»
Esta frase é equivalente a (3), onde também o verbo fazer é seguido de um nome (consertos):
(3) «Ele faz consertos na oficina.»
A construção em análise é uma estrutura comparativa truncada que poderia ter como forma completa a seguinte construção (mantemos a frase simplificada para facilitar a análise):
(4) «Estas coisas fazem mais mal que bem à cabeça.»
Ora, quando o operador comparativo mais se associa aos nomes bem ou mal, não se usam as formas melhor ou pior (cf. Marques in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 2145).
As formas melhor ou pior substituem as construções «mais bem» ou «mais mal», quando bem e mal são advérbios:
(5) «Ele trabalha melhor/pior que o Rui.»
Também se usam obrigatoriamente as formas melhor ou pior quando mais se combina com os adjetivos bom e mau:
(6) «Este livro é melhor/pior que o anterior.»
Nas situações em que mais se combina com uma construção adjetival ou participial iniciada por bem ou mal não se usam as formas melhor ou pior:
(7) «O prato da Rita está mais bem/mal temperado que o do João.»
(8) «O modelo da Rita está mais bem/mal concebido do que o do João.»
Não obstante, em alguns autores assinalamos o uso das formas sintéticas melhor e pior em construções onde seria expectável o aparecimento de «mais bem» ou «mais mal»:
(9) «Declarou mesmo a Carlos que estava "mais forrte". E não lamentava os sofrimentos, porque eles lhe tinham dado o meio de apreciar as simpatias que gozava em Lisboa. Estava enternecido. Sobretudo o cuidado de S. M. – o augusto cuidado de S. M. – fizera-lhe melhor que "todos os drogues de botique"!» (Eça de Queirós, Os Maias, cap. VII, 1888)
(10) «E ia voltar a subir a escada, quando Carlos, já depois de abrir a porta, o reteve ainda um momento:
– Sabes? O Garrado… Bem. Se fosse outro, ainda lhe fazia pior. Pagas as dívidas, não lhe dava mais que quatro contos. Se desse.» (Manuel da Fonseca, Cerromaior, 1943)
(11) «As duas mulheres encaram-se. A mais nova fala num tom triste, cansado:
"Vossemecê, com esse desassossego, ainda me faz pior. Deixe lá a parteira, temos tempo "
" Eu cá sei ", responde a outra em voz sumida.» (José Cardoso Pires, "A semente cresce oculta", in Jogos de Azar: contos, 1963)
Aceitando que nestes casos estamos perante construções compostas pelo verbo seguido de nome (bem ou mal), poderemos concluir que se verifica uma certa tendência para, em construções comparativas, reinterpretar bem e mal como advérbios, o que justificará o aparecimento das formas melhor/pior.
Para o tratamento de outros aspetos relacionados, será importante consultar os “textos relacionados”.
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