Neste contexto, é legitimo o uso da expressão sem artigo definido, pelo menos depois da preposição de. Com efeito, do ponto de vista descritivo e prescritivo, não há nada que conteste tal uso com nomes, nem mesmo com nomes referentes a órgãos do corpo.
Note-se que em «cancro de mama»/«cancro da mama», assim como em tantas outras doenças oncológicas, a expressão constituída por de e o nome do órgão tem valor relacional, sendo substituível por um adjetivo ou por um termo semanticamente afim: «cancro de mama»/«cancro mamário», «cancro do fígado»/«cancro hepático». Fora do contexto da medicina, ocorrem também nomes sem artigo definido; por exemplo: em «dia de inverno», «de inverno» tem valor relacional, substituível pelo adjetivo invernoso – «dia invernoso»; ou mesmo «época de ouro», com praticamente a mesma significação de «época áurea».
Em relação aos exemplos apresentados, como «o útero compõe o aparelho reprodutor feminino», em vez de «útero compõe o aparelho reprodutor feminino», o consulente afirma que não se pode omitir o artigo. No entanto Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, pág. 237) apresentam-nos casos de nomes compatíveis com a omissão de artigo definido, verificando-se um deles «quando queremos indicar a noção expressa pelo substantivo de um modo geral, isto é, na plena extensão do seu significado: "foi acusado do crime" (acusação precisa); "foi acusado de um crime" (acusação vaga); "foi acusado de crime" (acusação mais vaga)».