A distinção que o consulente propõe é possível como forma de elaborar uma dada terminologia num determinado quadro de análise ou numa teoria. Convém observar, porém, que a consulta dos dicionários gerais muitas vezes aponta para certo grau de sobreposição semântica entre palavras que pertençam ao mesmo campo lexical. Por outras palavras, do ponto de vista da descrição estritamente linguística, é natural que, por exemplo, as três palavras em questão possam substituir-se mutuamente em certos contextos.
No plano da linguagem mais estritamente médica, o contraste mais nítido estabelece-se entre suscetibilidade e predisposição. Com efeito, nos textos de medicina, em português, o contraste entre os termos predisposição e suscetibilidade (ou susceptibildiade) decorre mais da sua associação (colocação) com outras palavras do que da sua oposição semântica. Por exemplo, diz-se «predisposição herdada» e «predisposição genética», mas empregam-se «genes de suscetibilidade» e «variantes genéticas de susceptibilidad», não havendo permuta entre predisposição e suscetibilidade nestas expressões (ou seja, não ocorrem ou não são frequentes «suscetibilidade herdada/genética», nem «genes/variantes genéticas de predisposição»). No entanto, há outras colocação em que as palavras em referência podem permutar; ex.: «doenças de suceptibilidade/predisposição genética» (designação que se usa por oposição às doenças genéticas ou de causa genética). Por último, quanto ao termo vulnerabilidade, parece este não ter uso especializado, podendo, no entanto, correr como palavra não específica, sinónima de predisposição e suscetibilidade1.
Apesar de tudo, em áreas profissionais e de investigação mais próximas ou mais afastadas da medicina, a palavra vulnerabilidade tem sido investida de significados mais precisos, também contrastáveis com os de suscetibilidade e predisposição. Por exemplo:
– em estudos de psiquiatria, que, por exemplo, tenham como tema o stress, fala-se de vulnerabilidade como ««[...] o risco aumentado em se reagir de forma negativa perante um dado acontecimento da vida» (Vaz Serra, "Stress e vulnerabilidade", Psiquiatria Clínica, 21 (4), 2000, p. 270; cf. também a pág. p. 271);
– vulnerabilidade faz parte igualmente da terminologia dos estudos de bioética.
1 Todo este parágrafo é devedor da informação prestada pelo Doutor José Carlos Ferreira, especialista em Ginecologia e Obstetrícia (Hospital Central de Maputo e ICOR - Instituto do Coração, Maputo, Moçambique ), a quem se agradece a disponibilidade.