A construção «outro que não...» está correta.
A estrutura em questão foi rejeitada por certos puristas, como Napoleão Mendes de Almeida (1911-1998), que a considerava «canhestra tradução de "other than that" [que] anda a aparecer em jornais» (Dicionário de Questões Vernáculas, São Paulo, Livraria Ciência e Tecnologia Editora, 1994); e, com efeito, os exemplos que Mendes de Almeida censurava acusavam sinais de má tradução.
Contudo, é duvidoso que a sequência «outro que não...» seja, por si só, um anglicismo sintático, dado que a construção ocorre, afinal, em textos de escritores portugueses e brasileiros dos séculos XIX e XX, a respeito dos quais não se afigura provável existir uma especial relação com a língua inglesa (exemplos retirados do Corpus de Português, de Mark Davies):
(1) «"O rebanho parecia ser o mesmo, lá isso.. Agora o pastor é que podia ser outro que não a Rosária."» (Trindade Coelho, "Idílio rústico" in Os meus amores: Contos e baladas, 1891)
(2) «Sobre a nomeação recaiu em outro que não o seu candidato. » (Machado de Assis, Epistolário)
(3) «[...] concluiu Lima Ventura, que a ideia de homenagens a outros que não a si próprio não era de molde a entusiasmar.» (Júlio Dantas, Abelhas Doiradas, 1912)
(4) «O pior era quando o faziam subir, e apareciam outros que não o Travancas.» (José Régio, O Príncipe com Orelhas de Burro, 1942)
Nestes quatro exemplos, parece possível interpretar a sequência «outro(s) que não...» como uma forma elíptica de dizer «outro que não é/era/fosse...» ou «outro que não são/foram/fossem...» (na restituição do verbo ser, o tempo e o modo da forma conjugada terão de ser adequar ao contexto frásico).
Não é, portanto, plausível a ideia de «outro que não...» configurar uma construção alheia ao português.