Em Portugal, apesar de se usar capitã no âmbito desportivo, emprega-se capitão quando se faz referência à hierarquia militar. No Brasil, a situação não será muito diferente, mas os media parecem favorecer capitã, em referência quer a uma desportista quer a uma mulher militar.
É certo que, no domínio do desporto, capitã constitui a palavra que ocorre em Portugal para designar a chefe de uma equipa:
(1) «As seleções nacionais de futsal feminina e masculina estiveram juntas em Rio Maior e a capitã da Equipa das Quinas, Ana Azevedo, não quis deixar [de ter] a oportunidade de perceber a experiência do capitão que levantou o troféu de campeão da Europa há um ano, Ricardinho. ("De capitã para capitão", notícia da Federação Portuguesa de Futebol)
(2) «A equipa de futebol feminino do Benfica apresentou-se oficialmente à Comunicação Social, esta quarta-feira, na sala de Imprensa do Estádio da Luz. O vice-presidente Fernando Tavares, o treinador, João Marques, e Sílvia Rebelo, uma das capitãs de equipa, foram os porta-vozes da ambição que alimenta este grupo de trabalho.» ("Futebol feminino apresenta-se com títulos no horizonte", notícia do sítio eletrónico do Sport Lisboa e Benfica)
No entanto, na hierarquia militar, os postos têm, como já dissemos noutras ocasiões (ver Textos Relacionados), denominações que provêm de nomes masculinos e que são hoje empregados como nomes comuns de dois, por se aplicarem também a mulheres:
(3) «Na edição de 2016, entre os grupos participantes – de diversas entidades, públicas e privadas –, a equipa da Força Aérea, constituída pela Tenente-Coronel Maria Nunes (Team Leader), pelos Majores Gonçalo Carvalho e Mário Pereira e pela Capitão Sandra Gonçalves [...].» ("Equipa da Força Aérea foi a vencedora do "Bright Challenge 2016", notícia do sítio eletrónico da Força Aérea Portuguesa)
Quanto ao Brasil, a norma no âmbito militar era, no começo deste século, igual à de Portugal, como se atesta por um esclarecimento publicado no sítio eletrónico Âmbito Jurídico.com.br (artigo de 30/05/2001):
«[..] existem na língua portuguesa as formas femininas soldada, sargenta, coronela, capitã, generala. No entanto, como as Forças Armadas resolveram não adotá-las, preferindo empregar o nome do posto tanto para os homens como para as mulheres (até porque alguns ficariam estranhos, como ‘a tenenta’, e outros nem feminino teriam, como ‘major’ e ‘cabo’), a única diferenciação fica sendo o artigo:
• A soldado Carla, a sargento Marta e a coronel Maria serão promovidas.
• Parece que uma tenente foi desacatada.
• O coronel Gomes passou as instruções à capitão Marli Regina. [...].»
Quase vinte anos depois, os sítios eletrónicos das Forças Armadas do Brasil mantêm a prática acima descrita. Por exemplo, aparece capitão também em referência à mulher com essa patente ou outra cuja denominação inclua a palavra em apreço:
(4) «A capitão de fragata Karina Schittine trabalha no Departamento de Saúde e Assistência Social do Ministério da Defesa [...].» ("Estagiários concluem curso de Extensão de Logística e Mobilização Nacional da ESG", 15/02/2019, notícia do sítio eletrónico do Ministério da Defesa do Brasil)
Do mesmo modo, o Instituto Euclides da Cunha reitera em 30/01/2019 o que já se dizia antes:
«[...] existem na língua portuguesa as formas femininas soldada, sargenta, coronela, capitã, generala. No entanto, as Forças Armadas preferem não adotá-las, empregando o mesmo nome do posto tanto para os homens como para as mulheres (até porque alguns ficariam estranhos, como "a tenenta"; e outros nem feminino teriam, como major e cabo). Neste caso, a única diferenciação fica sendo o artigo: A soldado Carla, a sargento Marta e a coronel Maria serão promovidas. Parece que uma tenente foi desacatada. O coronel Gomes passou as instruções à capitão Marli Regina. Essa colocação do artigo no feminino é tão mais importante quando pode ocorrer menção a nome próprio usado por ambos os sexos, como Adair, Ariel, Cleo, Darci, Enéas, Eli: a soldado Darci Lira, o soldado Darci Lira. Fora da hierarquia militar, no caso particular de capitão, pode-se dizer que é correto – existe esse registro em alguns dicionários – falar em “capitoa”, mas é preferível usar o feminino capitã [...].»
Contudo, a linguagem mediática brasileira – pelo menos, a de S. Paulo – não adota sistematicamente esta norma, porque em referência a mulheres militares pode figurar a forma capitã:
(5) «A capitão de mar e guerra Dalva Maria carvalho, 56, subiu para o posto de contra-almirante – simbolizado por duas estrelas – após 32 anos de carerira militar.» ("Marinha promove primeira mulher oficial general das Forças Armadas", Folha de S. Paulo, 26/11/2012)
(6) «Ela sinalizou que não pretende entrar na disputa por cadeiras, mesas e cargos no palácio. Por enquanto, apenas ajudantes de ordem, entre eles, uma capitã do Exército, acompanham a primeira-dama em deslocamentos pela capital federal. ("Contra 'imagem machista' de Bolsonaro, Planalto 'testa' primeira-dama", O Estado de S. Paulo, 18/03/2019)
Atendendo a que personagem da Captain Marvel é um antigo piloto da força aérea dos Estados Unidos, a tradução do título em Portugal decorrerá, pois, da transposição para português da condição militar da protagonista do filme.
Cf. Você sabia que não se adota o feminino para postos ou graduações militares? + Mulheres no Exército