Nomes sobrecomuns só têm um género para designar pessoas de ambos os sexos (vítima), exigindo também a concordância de palavras que os determinam ou qualificam com esse género (a vítima; *“o vítima” é agramatical). São exemplos de nomes sobrecomuns: «a criança», «a pessoa», «a vítima» (já referido), «a testemunha», «o indivíduo», «o cônjuge» (ver Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984, pág. 196). Estes nomes podem ter, por vezes, a necessidade de um termo que os especifique: é por isso que se diz «uma criança do sexo masculino» ou «um indivíduo do sexo feminino».
Existem também os nomes comuns dos dois géneros, que têm uma só forma para designar os dois sexos, mas que permitem a variação das palavras que os determinam e qualificam: «o/a artista», «o/a intérprete» e «o/a jovem».
Nestas distinções, pressupõe-se a necessidade de referir o facto da diferenciação de sexos. Com punhal, água e concha não há tal necessidade, uma vez que não são seres vivos. Designam coisas ou outras realidades que só têm um género. Este surge ao longo da história da língua, está condicionado por factores culturais da interpretação do mundo, e pode, por vezes, mudar («o fim» já foi em português antigo «a fim»). Evanildo Bechara afirma (Moderna Gramática Portuguesa, 2002, pág. 133; itálico do original a negro):
«A distinção do gênero nos substantivos não tem fundamentos racionais, exceto a tradição fixada pelo uso e pela norma; nada justifica serem, em português, masculinos lápis, papel, tinteiro e femininos caneta, folha e tinta.»
Celso Cunha e Lindley Cintra (idem; pág. 191) explicam mesmo que a flexão em género só costuma aplicar-se a pessoas e animais.
É claro que se pode objectar que há nomes de coisa que têm duas formas, uma masculina e outra feminina. Mas isso é esquecer que essa aparente diferenciação de género é antes um recurso morfológico que leva a uma diferença de significado. Assim se compreende que uma jarra não seja o feminino de jarro, mas sim um objecto com uma função diferente (numa jarra ponho flores; um jarro enche-se de água para beber).