A opção correta será:
(1) «coisa de já causar espécie»
O constituinte (1) pode ser segmentado em dois constituintes menores (eliminamos neste momento o advérbio já por uma questão de análise):
(2) [coisa] [de causar espécie]
Os constituintes identificados são, respetivamente, nome e modificador do nome. Trata-se de uma «coisa» que, neste caso particular, «causa espécie» (poderia «fazer rir», «provocar terror», entre outras possibilidades).
A introdução do advérbio já numa frase pode estar ao serviço de confirmar uma expectativa anterior, tendo um funcionamento no plano aspetual, como se observa em (3):
(3) «O João já começou a falar.»
Nesta frase, que assenta na expectativa que o locutor tinha que o João ia falar, o advérbio já confirma a concretização dessa expectativa, focalizando, neste caso, o momento inicial da situação descrita em «começar a falar».
Voltando ao constituinte em análise, verificamos que existe também uma expectativa resultante de o tio não fazer comunicação, que se expressa numa relação de causa – consequência:
(4) «O facto de o tio não fazer nenhuma comunicação teve como consequência causar espécie (no locutor).»
A introdução do advérbio já no constituinte «de causar espécie» vem confirmar esta mesma expectativa, pois o advérbio incide sobre a situação descrita, modificando-a1:
(5) [coisa] [de já causar espécie]
Ou seja, a situação «causar espécie» constitui uma expectativa do locutor que já teve início, o que se encontra marcado pelo advérbio já.
No caso de o advérbio ser colocado antes do constituinte «de causar espécie», a leitura sintática prioritária seria a de que o advérbio já estaria a modificar o nome coisa:
(5) [coisa já] [de causar espécie]
Esta possibilidade gera um valor semântico estranho, pelo que se considera que a opção adequada corresponde à inserção do advérbio no interior do constituinte preposicional (frase (1)). Acresce ainda que a posição típica de colocação de já é em início de sintagma verbal, isto é, antes do verbo, o que reforça a naturalidade da sua colocação antes de causar2.
Não esqueçamos, todavia, que, em contextos de exploração estilística da língua, as construções são marcadas por uma grande maleabilidade que autoriza uma maior liberdade sintática, permitindo a exploração de outros sentidos.
Disponha sempre!
1. Para mais informações, cf. Raposo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1651 1653.
2. cf. Idem, ibid., pp.1600-1603.