1. Em português, as palavras distinguem-se não só pelo timbre dos sons constituintes, mas também por outra dimensão sonora, a do acento tónico, que dá proeminência ou maior intensidade a uma sílaba entre as demais. Falamos, por isso, de sílaba tónica, que no caso de anel corresponde à última sílaba (é uma palavra aguda ou oxítona), no de casa à penúltima (é uma palavra grave ou paroxítona) e no de mágico à antepenúltima (é uma palavra esdrúxula ou proparoxítona). Como se representam na escrita estes três tipos de palavra? Em O nosso idioma, um apontamento professora Lúcia Vaz Pedro, revela como é importante saber distinguir acento tónico de acento gráfico.
2. No Consultório, são quatro as novas questões em linha:
– Com a expressão «dois terços da população», um verbo concorda no singular («votou») ou no plural («votaram»)?
– Uma locução como «à medida que» tem de se adaptar ao funcionamento das outras palavras do contexto? Poderá dizer-se «à medida a que nos movemos»?
– Se capitã é palavra legítima, então por que razão Captain Marvel, título de um filme e nome da protagonista, se traduz por Capitão Marvel em Portugal?
– Como se chama um natural ou residente da Sertã, vila do distrito de Castelo Branco, no centro de Portugal?
3. Ainda a propósito da tragédia ocorrida no centro de Moçambique, causada pelo ciclone Idai*, o amplo noticiário sobre o envolvimento solidário de Portugal e dos portugueses no socorro humanitário às populações afetadas no país irmão do Índico não se livra da incorreções já assinaladas na Abertura de 20/03/201. São os casos da pronúncia dos nomes Sofala e Rovuma: soam "Sufala" e "Ruvuma", e não "sòfala", nem "ròvuma"; do topónimo Beira, que se usa com artigo definido (donde ser «cidade da Beira», e não «cidade "de" Beira»; do adjetivo humanitário, que é incompatível com palavras como crise, catástrofe, desastre, drama, tragédia (explicamos porquê aqui); e do emprego do verbo evacuar, que significa «esvaziar» espaços ou recipientes, não se aplicando a pessoas (pelo que urge falar em «regiões evacuadas» e evitar a velha pecha das «populações “evacuadas"»).
* Sobre a dimensão anormal do ciclone Idai, ver o trabalho que a jornalista Marta Leite Ferreira assina no jornal digital Observador em 21/03/2019.
4. Registamos a entrevista concedida em 21/03/2019 ao jornal português Diário de Notícias por Frederico Lourenço, classicista e professor da Universidade de Coimbra, defendendo a iniciação ao estudo do latim a partir dos 10 anos. Numa época em que parece difusa a consciência das origens latinas do português, as declarações deste especialista, que acaba de publicar a Nova Gramática do Latim (Lisboa, Quetzal, 2019), podem surpreender, não deixando de ser um alerta para recuperar um património linguístico que é também nosso, como ele próprio faz questão de sublinhar: «O latim trazido pelos romanos continua vivo, visto que o português, o espanhol, o italiano e o francês (para dar só estes quatro exemplos) constituem, na realidade, formas de latim faladas hoje por quase mil milhões de pessoas. Não falamos, atualmente, o latim do tempo de Cícero, mas sim o resultado da evolução dessa língua. Uma das intenções da minha Gramática é chamar a atenção para o elo inquebrantável entre o latim e o português.» (Notícia aqui + Frederico Lourenço: «Acho que o grego tornou-se uma espécie de droga para mim».)
5. Entre os diversos cursos e encontros que têm por tema a nossa língua comum, realce para:
– a ação de formação Correção Linguística, organizada pela Associação Sindical de Professores Licenciados e ministrada por Lúcia Vaz Pedro, especialista na língua portuguesa e colaboradora do Ciberdúvidas – em Lisboa, nos dias 25 de maio, 1 e 8 de junho (ver aqui);
– a realização do III Congresso de Estudos Internacionais – Galiza e a lusofonia perante os desafios globais, no campus da Universidade de Vigo em Pontevedra (Galiza), 27 e 28 de março.
6.Em destaque nos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para rádio pública portuguesa: no Língua de Todos, da RDP África, difundido na sexta-feira, dia 22 de março, às 13h15** (com repetição no sábado seguinte, após o noticiário das 09h15**), um projeto de investigação da Universidade Eduardo Mondlane sobre as produções escritas dos alunos universitários moçambicanos; e no Páginas de Português, transmitido pela Antena 2 no domingo, 24 de março, às 12h30** (com repetição a 30 de março, às 15h30**), a publicação em português da obra História das Línguas, de Tore Janson.
** Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programa disponíveis posteriormente, aqui e aqui.