O texto apresentado pelo consulente convoca a questão do género na língua, que tem sido muito discutida recentemente. Várias posições se têm definido em torno do tema, desde aquelas que defendem que a língua é sexista, pelo que deverão ser encontradas soluções para minimizar essa posição social que se interpreta na língua e que se considera ofensiva para o género feminino. Outras posições há que defendem a separação entre a língua e a sociedade, sustentando que aquela é estruturada a partir de um conjunto de convenções que não têm por base uma visão dos géneros dos falantes. Entre os falantes que se identificam com as teses do primeiro grupo têm surgido inúmeras propostas com o objetivo de minimizar os efeitos de uma língua que parece deixar de lado o género feminino em muitas das suas formulações. Opções como "Caros/as alunos/as","Caros alunos e caras alunas", "Carxs alunxs" ou "Car@s alun@s" são conhecidas e é possível encontrar exemplos do seu uso na comunicação social, em textos de associações, de escolas, de universidades, da Assembleia da República, entre outros.
A manifestação de posições públicas é também rica para ambos os lados. Apenas a título de exemplo, deixamos menção a um texto contra o sexismo na língua (aqui) e a outro que recusa a sua existência (aqui). Podemos assinalar inclusive a existência de tentativas de uniformização da escrita no sentido da neutralização do género (aqui).
Ao Ciberdúvidas, no âmbito do seu consultório, cabe uma posição ancorada na norma linguística que permitirá afirmar que a opção pela arroba (@), como forma de anular o dito domínio do género masculino, não será a mais indicada, visto que:
(i) @ não é letra do alfabeto português;
(ii) @ não corresponde a um fonema da língua, pelo que o falante não saberá como pronunciar uma palavra que inclua este símbolo.
Relativamente ao sínal @, convém ainda acrescentar que ele não é um modernismo da escrita e não tem de ser entendido como «exemplo extremo da devastação linguística», uma vez que já se usava na Idade Média como abreviatura de "arroba"[1] e (menos frequentemente) "anos" (cf. E. Borges Nunes, Abreviaturas Paleográficas Portuguesas, Lisboa, 1980/1981, p. 33) (ver também aqui).
[1] N. E. – O sinal é conhecido como arroba também em espanhol, como observa o consultor Luciano Eduardo de Oliveira, que acrescenta que «não é verdade que no resto do mundo se diz at», pois «só para dar alguns exemplos: em italiano chama-se chiocciola, em checo e eslovaco zavináč e em polaco małpa».