1. A arrastada crise financeira e política da União Europeia (UE) tem sido terreno fértil para os neologismos. Em 2015, era recorrente o nome Grexit – ou seja, a fusão de Greek exit, o mesmo que «saída grega» – em referência às dificuldades da Grécia em satisfazer o pagamento da dívida, a ponto de se equacionar a sua saída da zona do euro. Nos últimos meses, o protagonista da crise é o Reino Unido, que realiza um referendo em 23 de junho p. f., para decidir se sai da UE ou não. Circula assim a amálgama Brexit (ou Brixit), formada em inglês com elementos truncados de «British exit» («saída britânica»), ou de Britain («Grã-Bretanha») e exit («saída»); e, por contraste, para referir a decisão favorável à permanência, surge Bremain, um jogo do mesmo tipo, associando segmentos de Britain ou British ao verbo remain, «ficar, permanecer». Também em Portugal, o discurso mediático não resistiu às novas palavras, mas convém observar que, como criações inglesas que são, devem escrever-se em itálico ou entre aspas*; e não será descabido recordar que, em português, «saída (britânica)» e «permanência (britânica)» são alternativa recomendável às amálgamas do inglês, podendo omitir-se o adjetivo britânica, se o contexto suprir a informação necessária.
* Mais uma vez acompanhando o que se faz noutras línguas irmãs do português, leia-se, sobre Grexit e Brexit, a recomendação para o espanhol da Fundación para el Español Urgente – Fundéu BBVA. Note-se, porém, que, ao contrário do que se preceitua em espanhol, não se afigura necessária a minúscula inicial em português, porque, sendo Brexit um estrangeirismo assinalado em itálico ou entre aspas, dispensam-se outras adaptações ortográficas. Esclareça-se que, em inglês, os adjetivos relativos a nacionalidade têm maiúscula inicial.
2. As Controvérsias recebem um novo apontamento de Isabel Casanova, que retoma a questão da sintaxe do verbo perdoar: diz-se e escreve-se «quero perdoá-lo/la», mas, na norma-padrão, perdoam-se só gestos e ações, ou também é possível perdoar os seus autores?
3. Na rubrica Acordo Ortográfico, fica disponível uma entrevista a Pedro Santana Lopes, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e político português que há mais de duas décadas, sendo secretário de Estado da Cultura, teve um papel decisivo na negociação e assinatura do Acordo Ortográfico de 1990 (trabalho publicado no semanário português Sol em 15/06/2016).
4. No consultório, ficam disponíveis algumas respostas que aguardavam publicação: como se pronuncia pleno? Para quê as regras de concordância? Como se usam as palavras latinas sic e verbatim? O que fazer com uma frase ambígua? Que valor semântico se associa no discurso à locução «por outro lado»? Diz-se «ter pena de...» ou «ter pena por...»?
5. Lembremos os programas produzidos pelo Ciberdúvidas na rádio pública portuguesa:
– No Língua de Todos de sexta-feira, 24 de junho (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 25 de junho, depois do noticiário das 9h00*), a professora Edleise Mendes, da Universidade Federal da Bahia, no Brasil, fala sobre "O Português na diversidade: pluricentrismo e multilinguismo no ensino e na formação de professores", comunicação apresentada na III Conferência Internacional Sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial, que decorreu em Dili de 15 a 17 de junho p.p.
– O Páginas de Português de domingo, 26 de junho (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte às 15h30*), entrevista o professor e poeta Fernando Pinto do Amaral, responsável em Portugal pelo Plano Nacional de Leitura, que faz um balanço positivo das atividades dos últimos anos e perspetiva programas futuros, como o Ler Mais..., dirigidos a adultos.
* Hora de Portugal continental.