Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
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Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora
Provérbio «Entrudo borralheiro, Páscoa soalheira»
Expressões que prevêem o estado do tempo

Apontamento da consultora Inês Gama sobre o significado do provérbio «Entrudo borralheiro, Páscoa soalheira». Incluído no programa Páginas de Português, na Antena 2, no dia 6 de abril de 2025.

Sobre abril os provérbios também podem ser mil
Algumas expressões e provérbios alusivos ao mês de abril

Abril é um mês com muitas frases e expressões que lhe fazem alusão, sendo estas reflexo dos conhecimentos tradicionais e populares sobre o quotidiano ou a vida no campo. Neste apontamento a consultora Inês Gama faz uma breve apresentação de alguns dos provérbios mais emblemáticos relacionados com o mês de abril.

Pergunta:

Antes de mais, aproveito para reiterar o meu agradecimento à fantástica equipa do Ciberdúvidas, que me tem ajudado muito a aperfeiçoar o idioma português.

O assunto que trago hoje é alusivo a um acontecimento repentino que pode surgir no quotidiano. Como tal, gostaria de saber se se diz: «numa fração de segundo», ou «... segundos»?

Já ouvi as duas versões, mas suscitou-me alguma ambiguidade no caso de fração (no singular), conjugada com segundos (no plural). Por outra parte, também já ouvi dizer «em frações de segundos...

Qual é a forma correta?

(I) «Em frações de segundos, o utente exteriorizou o cateter e encheu o leito de sangue.»

A questão é: com quais das expressões -– acima assinaladas – poderia contruir esta frase?

Resposta:

Tanto se pode dizer «fração de segundo» como «fração de segundos». 

O nome fração é usado para referir uma «parte de um todo» (Infopédia), quer isto dizer que fração é um nome fragmentador, isto é, designa conjuntamente com a estrutura nominal a que se aplica um conjunto de fragmentos (ou partes, ou parcelas) da substância ou entidade identificada. Nestes casos, será a designação de uma parte de um segundo ou de vários segundos. 

De acordo com João Andrade Peres, em Semântica do Sintagma Nominal, na Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian), os complementos de nomes coletivos e fragmentadores são quase sempre nominais, introduzidos pela preposição de, podendo ser nomes ou grupos nominais no singular ou nomes ou grupos nominais no plural. Por conseguinte, o complemento do nome fração tanto pode estar no singular como no plural, ou seja, tanto se pode dizer «fração de segundo» como «fração de segundos». Note-se, contudo, que o significado das duas expressões pode ser ligeiramente diferente, sendo «fração de segundo» referente a uma parte de um segundo e «fração de segundos» a uma parte de vários segundos, ou seja, mais tempo. Esta diferença mínima pode não ser atualizada pelo falante quando usa a expressão.

Numa pesquisa no corpus do português, organizado por Mark Davies, encontram-se usos tanto de «fração d...

Pergunta:

Gostaria de saber se noiva e nubente são completamente sinónimos.

Segundo o dicionário da Porto Editora, noiva significa «mulher que está para casar ou que está casada há pouco». Faz sentido, porque mesmo recém-casada, lhe costumamos chamar noiva.No entanto, a minha dúvida é se se pode também chamar nubente a uma mulher que acaba de se casar.

Podem elucidar-me, por favor? Consultei algumas fontes, mas não consegui encontrar uma explicação coerente.

Muito obrigada!

Resposta:

De acordo com vários dicionários da língua portuguesa, como, por exemplo, o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboanubente tem apenas como aceção «que está para casar ou que vai casar». Por conseguinte, nubente é sinónimo de noivo quando este último termo é utilizado com o sentido de «pessoa que está para casar». 

Não se pode, portanto, assumir que estes dois vocábulos sejam sinónimos quando se pretende referir uma pessoa que está casada recentemente. Neste caso, apenas noivo é o termo corretamente aplicado.

Note-se que, tal como defendem Ana Cristina Macário Lopes e Graça Rio-Torto, na obra Semântica (Editora Caminho), são raros os sinónimos absolutos, sendo difícil encontrar na língua «uma coincidência absoluta das propriedades intencionais de duas palavras, considera-se haver lugar a uma relação de sinonímia quando dois termos de significado idêntico ocorrem como equivalentes funcionais» (pág. 31). 

Em suma, considera-se que nubente e noivo são sinónimos quando o sentido de ambos é «pessoa que está para casar» (Infopédia).

Pergunta:

Por que razão a Wikipédia e Wikcionário insistem em colocar "português europeu" para poderem diferenciar do "português brasileiro"?

Vou explicar: o português não é idioma popular na Europa, assim como o espanhol não o é também!

Basta botarem "português lusitano", "português peninsular" ou "português ibérico", assim como "espanhol hispânico", "espanhol peninsular" ou "espanhol ibérico", para poderem diferenciar do "espanhol americano".

Ninguém fala: "inglês europeu" em contraste com "inglês americano", mas sim "inglês britânico"!

Estão ligados?

Ou, então, vamos trocar "português brasileiro", no caso, para "português sul-americano"! Podem crer aí?

E, aliás, já tem múltiplos usuários se queixando desse lance de usarem o termo de "português europeu" para além de mim mesmo! Que tal essa aí?

Muitíssimo obrigado e um grande abraço!

Resposta:

As designações «norma europeia», «português europeu» ou «variedade europeia» não pretendem constituir qualquer tipo de discriminação, pois correspondem a conceitos terminológicos utilizados nos estudos linguísticos e no ensino do português, nomeadamente no que diz respeito à variação geográfica. 

Esta terminologia é adotada por obras de referência dos estudos linguísticos e do ensino de língua portuguesa, como, por exemplo, a Nova Gramática do Português Contemporâneo (consultada a edição de 2015), de Celso Cunha (destacado linguista brasileiro) e Lindley Cintra (destacado linguista português), onde se distingue dentro das variedades do português, «dialetos do português europeu», a par dos «dialetos das ilhas atlânticas» e dos «dialetos brasileiros». Também na Gramática da Língua Portuguesa (2023), organizada por Maria Helena Mira Mateus e outros, Isabel Hub Faria assinala que «em línguas com larga história de expansão mundial e de mobilidade dos seus falantes nativos, observa-se a existência de variedades que se vão progressivamente fixando e autonomizando até ser possível caracterizá-las como variedades locais ou mesmo nacionais. É ne...