Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
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Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

O recipiente para gás é designado garrafa ou botija? Parece-me que o termo botija é castelhano.

Agradeço a vossa opinião.

Resposta:

Ambas as designações são possíveis para referir um recipiente que contém gás. Contudo, tal como é indicado no Dicionário da Língua Portuguesa da Academia da Ciências de Lisboa, o termo botija serve para descrever «recipiente de metal, contendo gás para uso doméstico». Por outro lado, garrafa tem como aceção «recipiente metálico, próprio para conter gás sob pressão» (DLPACL), como por exemplo, uma garrafa de oxigénio. 

Contudo, uma pesquisa no motor de busca google sugere que tanto o termo garrafa como botija podem ser usados para referir o gás de petróleo liquefeito para comercialização e uso doméstico, o designado gás de garrafa ou gás de botija. Não obstante, botija parece ser o termo mais frequente.

Outra palavra que também se pode ser usada para designar um recipiente que guarda gás para utilização doméstica é bilha.

Quanto à sua origem, de facto, o termo botija terá chegado ao portuguê...

Pergunta:

Em relação à semântica do verbo confrontar, é possível dizer-se «O medo é perder a esperança e não estar preparado para confrontar os seus temores»?

Obrigado.

Resposta:

Na frase apresentada pelo consulente, o verbo confrontar não está bem empregado, sendo preferível uma estrutura do género «O medo é perder a esperança e não estar preparado para se confrontar com os seus temores». Consequentemente, a forma verbal que, de facto, deve estar em análise é confrontar-se.

Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciência de Lisboa (DLPACL), a forma pronominal confrontar-se tem como sentido «ser-se obrigado a lidar com uma situação indesejável por não a poder evitar; fazer frente a uma tarefa, um problema, uma dificuldade». Por conseguinte, «confrontar-se com os seus temores» pode ser interpretado como lidar ou enfrentar os seus medos. 

Relativamente à sua regência, os vários dicionários de português atestam que confrontar-se pode ser seguido pela preposição com. Por exemplo, «confrontar-se com os seus problemas».

Note-se ainda que confrontar-se (verbo pronominal) não tem os mesmos sentidos de confrontar (verbo não pronominal) e, por isso, são usados para descrever situações diferentes. Segundo o Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses, dirigido por Malaca Casteleiro, o verbo confrontar deve ser usado em situações que descrevam uma comparação entre duas ou mais coisas, como, por exemplo, «o juiz confrontou as duas versões do acontecimento». Portanto, o verbo confrontar só pode ser...

<i>Profícuo</i> e <i>prolífico</i>: alguns equívocos
Sobre os sentidos e usos de profícuo e prolífico

A propósito de uma dúvida que surgiu há umas semanas num programa de rádio, a consultora Inês Gama discute, neste apontamento, a diferença entre os usos corretos de profícuo e prolífico.

Pergunta:

Recentemente, questionaram-me: «Posso dizer "Desmarquei uma marcação?"»

Não me parece que o significado da palavra marcação abarque o próprio intervalo de tempo que é alvo da marcação (sendo marcação apenas referente ao verbo marcar). Mas gostaria de ter o vosso parecer sobre o tema.

Muito obrigada!

Resposta:

A frase «desmarquei uma marcação» é possível do ponto de vista semântico, no entanto, do ponto de vista sonoro e estilístico, é estranha. Neste tipo de situações, o mais usual será dizer «cancelar uma marcação» ou «anular uma marcação».

O nome marcação, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa (DLPACL), tem como uma das suas aceções possíveis «fixação antecipada de uma data para a realização de alguma coisa», como, por exemplo, «marcação de férias», «marcação de reuniões» ou «marcação de consulta médica».

Por outro lado, o verbo desmarcar tem como um dos seus sentidos «desfazer um compromisso que havia sido anteriormente assumido, relativamente a um acontecimento a ter lugar no futuro» (DLPACL) como, por exemplo, «desmarcar um encontro» ou «desmarcar uma consulta». Nestes casos, verbos como cancelar ou anular funcionam como sinónimos.

Portanto, ao analisar os sentidos de marcação e desmarcar, verifica-se que estas duas palavras, embora sejam usadas para descrever situações opostas que ocorrem em momentos diferentes, partilham a mesma noção («fixar prazo») e o mesmo radical (marc-), os de marcar, pelo que «desmarquei uma marcação» produz um efeito de redundância e eco, discutíveis do ponto de vista estilístico. Com efeito, a repetição d...

O plural de <i>arco-íris</i>
O plural das palavras compostas

Apontamento da consultora Inês Gama sobre o plural de arco-írisIncluído no programa Páginas de Português, na Antena 2, no dia 18 de maio de 2025.