As duas opções são aceitáveis, embora a opção pelo infinitivo flexionado possa ser preferível por razões estéticas.
A dúvida apresentada convoca a questão do emprego do infinitivo pessoal ou flexionado face ao do infinitivo impessoal ou não flexionado. Neste âmbito, não poderemos considerar que existem regras inequívocas, mas antes tendências, tal como advertem Cunha e Cintra1.
Assim, de uma forma geral, poderemos referir que o uso do infinitivo pessoal está associado ao facto de a oração infinitiva ter um sujeito próprio, diferente do sujeito da oração subordinante. Este sujeito poderá estar expresso (1) ou ser um pronome nulo (2):
(1) «O motorista parou para os turistas verem a paisagem.»
(2) «O motorista parou para [-]2 verem a paisagem.»
O infinito impessoal usa-se quando o sujeito da oração infinitiva é o mesmo do da oração subordinante, pelo que o verbo não flexiona em pessoa e número:
(3) «O motorista decidiu [ele] ver a paisagem.»
No caso apresentado pela consulente, o segmento de frase em questão inclui uma oração final infinita, que se sublinha:
(4) «[…] pararmos por um instante para nos olhar(mos) e estancar(mos) as nossas próprias chagas»
Nestas situações, tal como acontece na regra geral, quando o sujeito da oração subordinada é diferente do sujeito da oração subordinante, usa-se o infinitivo flexionado, o que se verifica em (5) onde se destacam os dois sujeitos:
(5) «O jovem parou para [nós] nos olharmos e estancarmos as nossas próprias chagas.»
Quando os sujeitos das duas orações são iguais, pode optar-se pelo infinitivo flexionado ou pelo infinitivo não flexionado, como em (6)3:
(6) «Os jovens pararam para [eles] olhar(em) e estancar(em) as próprias feridas.»
Na frase apresentada pela consulente, os verbos incluídos no segmento em questão têm o mesmo sujeito (a 1.ª pessoa do plural), pelo que é opcional a flexão do infinitivo. Todavia, a proximidade do pronome nos dos verbos estancar e olhar poderá levar a que, do ponto de vista sonoro e rítmico, seja preferível a opção pelo infinitivo flexionado, como se apresenta em (7):
(7) «Até quando cultivaríamos as chagas do passado, mantendo-as abertas e sangrentas? Apontando dedos e ferindo outros feridos, em vez de pararmos por um instante para nos olharmos e estancarmos as nossas próprias chagas.»
Disponha sempre!
1. Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo. 1988, p. 482.
2. Assinala o pronome nulo, ou seja, o sujeito sem realização lexical.
3. Cf., por exemplo, Lobo in Raposo et al., Gramática do Português. 2013, p. 2012.