Antes de mais, entenda-se que «é estreita a interligação entre a coerência textual e a coesão textual, mas com uma diferença relevante: esta última é exclusivamente de âmbito intratextual e não depende da capacidade e das estratégias interpretativas do leitor/receptor» (Dicionário Terminológico).
Posto isto, as seguintes frases apresentadas pelo consulente têm problemas de coesão:
(1) «As escola está fechado»;
(2) «Quando chegamos em tua casa, você tinhas saído».
Nas frases não há uma organização formal que permita articular e interligar sequencialmente os diversos componentes e que assegure a unidade semântica.
Para existir coesão, deveríamos ter, por exemplo:
(1) «A escola está fechada»;
(2) «Quando chegámos em tua casa, tu tinhas saído»;
Já no seguinte exemplo, estamos perante um problema de coerência:
(3) «Um relógio comprou a Maria»;
Aqui, o conhecimento do mundo faz prever que seja sempre uma pessoa a compradora de um relógio, e não o contrário. Por isso, para a frase ser coerente, devíamos ter:
(3) «A Maria comprou um relógio».
Relativamente à última frase, podemos dizer que estamos perante um caso híbrido com problemas entre a coesão e a coerência:
(4) «Eu nasci gémeos».
Por um lado, há um uso que viola as regras gramaticias (o verbo nascer é intransitivo e, por isso, não pede complemento). Por outro lado, os falantes associam geralmente o verbo nascer às crianças que vêm ao mundo, sem consideração da parturiente, e, aqui, dá-se o problema de coerência. Observe-se, no entanto, que o verbo nascer ocorre coloquialmente em Angola como sinónimo de «dar a luz», conforme se atesta na Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian, 2013-2020, pp. 168): «tu também podes nascer um filho como eu» Trata-se, por enquanto, de um uso dialetal, não legitimado pela norma.