Antes de mais, há que referir que, no âmbito dos estudos literários, a adjetivação e a enumeração não se encontram no mesmo plano. Com efeito, a enumeração é uma figura de dicção descrita pelos estudos retóricos como uma forma de organização do discurso que elenca os elementos que compõem um conjunto1 ou, como descreve Ceia, uma figura que assenta na «[a]dição ou inventário de coisas relacionadas entre si, cuja ligação se faz quer por polissíndeto quer por assíndeto.»2 Já a adjetivação é um recurso linguístico que pode ser usado para traduzir algum tipo de expressividade, mas não constitui um recurso retórico em si mesmo. Isto significa que a adjetivação pode ser mobilizada para a construção de diversos recursos retóricos, entre os quais se encontra a enumeração.
Assim, se na frase de Maria Judite de Carvalho pretendermos identificar as figuras de estilo utilizadas, podemos identificar uma enumeração, que se processa pelo recurso à múltipla adjetivação:
(1) «Tudo aquilo é bonito, bem arranjado, atraente, higiénico, impessoal.» (Este Tempo. Caminho, 1991)
A enumeração permite descrever as características da loja e dos seus produtos, as quais são elencadas por meio de um conjunto de adjetivos, organizados de forma assindética.
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1. Cf. Marchese e Forradellas, Diccionario de retórica, crítica y termonología literária. Ariel, 2013.
2. Ceia, E-dicionário de termos literários.