Não raras vezes se referiu aqui que o verbo evacuar é empregado erradamente, quando se ouve e lê na comunicação social portuguesa que pessoas «são evacuadas» dos mais diversos locais (veja-se, por exemplo, um outro registo crítico aqui). Ora, se o verbo evacuar significa «esvaziar», é fácil de perceber que não são as pessoas que são esvaziadas, mas, sim, os locais onde as elas se encontravam.
Desta vez, o tropeção foi na edição portuguesa (2020) do livro As Vozes de Chernobyl, da escritora bioelorrussa Svetlana Alexievich, galardoada em 2015 com o Prémio Nobel da Literatura.
O livro reúne um sem-número de relatos de pessoas, mais ou menos letradas, que viveram na pele a catástrofe de Chernobyl e que a autora manteve no registo escrito, o mais fiel possível às gravações que recolheu. Uma coisa, porém, é o russo – a língua do original –, e outra a sua tradução para português. Se ela tivesse sido mais rigorosa, evitar-se-iam frases como estas: «Ao nosso encontro vinham colunas com pessoas evacuadas». Passavam veículos de todo o tipo» (pág. 103), «Pouco depois fomos evacuados» (página 138) ou «As pessoas não compreendem o que se passa. Passada uma semana são evacuadas» (pág. 277).
Falha, também, do revisor da obra. Estivesse ele mais atento, e ficaria o correspondente devido em português: «Ao nosso encontro vinham colunas com pessoas refugiadas», «Pouco depois fomos transferidos» e «As pessoas não compreendem o que se passa. Passada uma semana são deslocadas (ou retiradas)»...