As palavras em questão são advérbios de espaço, que têm a capacidade de apontar para o espaço físico, a partir do contexto situacional, ou de retomar o valor de um antecedente que surja no texto, indicando proximidade ou afastamento do locutor. São, por isso, palavras deíticas ou anafóricas, segundo o caso.
Estes advérbios pertencem a duas séries: a série aqui-aí-ali e a série cá-lá. Estas ativam valores que, de uma forma geral, são equivalentes. Assim, aqui e cá referem o espaço em que se encontra o locutor (eu) ou um espaço perto dele, ao passo que ali e lá referem um espaço distante do locutor. Ali, em particular, pode referir ainda um espaço distante do eu e do tu, enquanto lá não tem esta especificidade.
Dada esta proximidade de sentidos, os pares aqui/cá e ali/lá são muitas vezes usados como sinónimos. Não obstante, nalguns contextos e para alguns falantes, estes advérbios podem ser usados com especificidades que os diferenciam de forma ténue e subjetiva. Como explica Raposo, «a série aqui-aí-ali associa-se por vezes a um espaço mais restrito, mais fechado, e que envolve os interlocutores de maneira mais íntima, por oposição à série cá-lá, que remete para um espaço mais alargado, mais aberto e que envolve os interlocutores de forma mais objetiva e menos íntima.»1 A diferença aqui referida pode ficar clara nos usos presentes em (1) e (2):
(1) «Vivo aqui há um ano.»
(2) «Vivo cá há um ano.»
Como explica ainda Raposo, a diferença entre estas frases residirá, para muitos falantes, na associação de aqui a um espaço mais restrito, como uma rua ou um dado prédio, enquanto cá será associado a um espaço mais vasto, como uma cidade ou até um país2. No entanto, advirta-se, esta é uma diferença muito ténue que não é sentida de igual modo por todos os falantes.
O advérbio acolá, por seu turno, é muitas vezes usado nos mesmos contextos em que se usaria ali. Poderá mesmo servir para contrastar dois espaços distantes do locutor:
(3) «Preferes ficar ali ou acolá?»
Quando aqui é usado com valor temporal, não é equivalente a cá:
(1) «Até aqui correu tudo bem.»
Disponha sempre!
1. In Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, p. 1618-1619.
2. Idem, ibidem.
N. E. (04/10/2023) – O advérbio cá terá uso mais alargado no português europeu do que no Brasil, onde uma frase como (2), «vivo cá há um ano», parece rara ou inusitada. Na verdade, consultando o Corpus do Português (Mark Davies), verifica-se que um enunciado estativo como «está cá» tem escassas ocorrências (duas) em textos do Brasil, enquanto conta 26 ocorrências em textos de Portugal. O mesmo não se pode dizer da associação de cá com um verbo de movimento no referido corpus, pois uma frase como «vem cá» figura sem grandes disparidades entre textos dos dois países. Agradece-se ao consultor Luciano Eduardo de Oliveira uma observação que fez sobre o uso de cá no Brasil (comunicação pessoal) e que motivou esta nota.