Quando falamos do extremo sul de Portugal continental, é impossível ignorar que o nome Algarve tem origem árabe (de al gharb, «oeste, ocidente, poente»), nele se descobrindo a mesma raiz de Magrebe – do árabe maghrib, «Ocidente»1, denominação do noroeste do continente africano. O legado dos povos desta região evidencia-se constantemente na nossa língua, que, na Idade Média, absorveu numerosos arabismos, certamente alterados pelo substrato berbere dos conquistadores do século VIII, muitos provenientes da Tunísia, da Argélia e sobretudo... de Marrocos – ou deveríamos ter escrito «do Marrocos»?
A pergunta foi feita num programa do canal de rádio português Antena 1, em entrevista sobre o lançamento do livro Maghreb/Machrek, olhares luso-marroquinos sobre a Primavera Árabe, de Raul M. Braga Pires. A resposta não pode ser categórica, porque os usos normativos divergem: em Portugal, Marrocos não tem artigo definido («os mouriscos fugiram para Marrocos»)2; no Brasil, contudo, o nome vai geralmente acompanhado de artigo («os mouriscos fugiram para o Marrocos»; cf. Dicionário Houaiss, s. v. marroquino), como acontece em francês («le Maroc»). E recordamos mais uma vez que, embora digamos «o Chile», «o Egito» e «o Cairo», há nomes de cidades e países que se usam sem artigo definido; exemplos: «vivo em Moçambique»; «estou em Maputo»; «visitei Chipre». Sobre este assunto, consultem-se as respostas de José Neves Henriques e Maria Regina Rocha.
1 Nome que, atualmente em árabe, se dá a Marrocos. Note-se que Marrocos não tem origem em maghrib; na verdade, parece relacionar com Marráquexe (José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa), por intermédio da adaptação ao português da formas árabes marrakx (idem) ou marrakuš (Federico Corriente, Diccionario de Arabismos, Gredos, 2003), estas talvez de Imrruk, nome de origem controversa, provavelmente não árabe, que em berbere é a designação deste país.
2 Assinale-se que no Código de Redação Interinstitucional para o uso do português na União Europeia se regista como nome oficial Reino de Marrocos, no qual se evidencia a preposição de seguida imediatamente do nome do país, sem artigo definido de permeio. Também assim escreve a própria Embaixada do Reino de Marrocos em Portugal.
Já que falamos de livros, porque não referir os espaços onde eles se conservam? A palavra que os designa foi introduzida em português por via do francês bibliothèque, adaptação do latim bibliotheca, que foi buscar os seus elementos constitutivos ao grego, mais precisamente aos radicais de biblíon, «papel de escrever, carta, lousa, tábula de escrever, livro», e thêke, «caixa» (cf. Dicionário Houaiss). Em Portugal, são famosas a Biblioteca Joanina da Universidade Coimbra e a biblioteca do Convento de Mafra – mas há outras e, para as conhecer, outro livro: Bibliotecas – Maravilhas de Portugal, de Libório Manuel Silva e publicado em 2013 pelo Centro Atlântico.
Quais são os novos desafios da leitura nas novas plataformas digitais? Para responder á pergunta, o programa Língua de Todos de sexta-feira, 13 de dezembro (às 13h15* na RDP África; com repetição ao sábado, depois do noticiário das 9h00*), entrevista Gustavo Cardoso, professor do ISCTE-IUL e coordenador de um estudo encomendado pela Fundação Calouste Gulbenkian. No Páginas de Português de domingo, 15 de dezembro (às 17h00, na Antena 2), conversa-se com o secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário, João Grancho, sobre os resultados agora anunciados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) nas áreas de leitura, matemática e ciências, com Portugal a manter-se abaixo da média de 496 (487 pontos), sendo a referência o número 500.
* Hora oficial de Portugal continental.
Entretanto, o consultório tem nova atualização, desta vez, com respostas que abordam tópicos relativos à pontuação, à ortografia e às classes de palavras.
Uma novidade no Programa de Aprendizagem Colaborativa (Tandem Language Learning Programme) organizado pela Ciberescola da Língua Portuguesa através dos Cibercursos: o japonês acaba de entrar no leque de línguas em oferta. E, para quem aprende o português como língua estrangeira (Portuguese as a Foreign Language), continuam abertas as inscrições nos cursos individuais. Mais informação na respetiva página no Facebook e na rubrica Ensino.
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