A função sintática desempenhada pelo pronome se depende da estrutura argumental do verbo com o qual ele ocorre. Deste modo, se pode desempenhar diferentes funções sintáticas, tal como se ilustra nas frases seguintes:
(1) «O João se feriu no braço. / O João feriu-se no braço.» (complemento direto = ferir alguém)
(2) «O João se ofereceu um livro. / O João ofereceu-se (a si) um livro.» (complemento indireto = oferecer algo a alguém)
(3) «Eles se gostam.»1 (complemento relativo = gostar de algo ou alguém)
Nas frases apresentadas pelo consulente, o pronome se desempenha diferentes funções sintáticas de acordo com a natureza do verbo da frase. Assim, o verbo arrogar-se é um verbo pronominal transitivo direto e indireto:
(4) «Ela se arroga essa liberdade. /Ela arroga essa liberdade a si própria.» (se é complemento indireto do verbo arrogar; «essa liberdade» é complemento direto)
Já o verbo gostar é transitivo indireto:
(5) «Eles se gostam. / Eles gostam do João.» (se é complemento relativo do verbo gostar2)
Disponha sempre!
1. Em português europeu, dir-se-ia «Eles gostam um do outro». Este uso também é conhecido no português do Brasil, onde é corrente gostar-se, com se recíproco, conforme regista Maria Helena de Moura Neves, em Guia de Uso do Português (2003): «Com o verbo [gostar] na forma pronominal no plural (sem preposição), a indicação é de reciprocidade. Os dois se gostavam muito [...]».
2. De acordo com o Dicionário Terminológico, se desempenha a função sintática de complemento oblíquo.
N. E. – Alterou-se a nota 1 em 04/10/2023.