1. Em Lisboa e noutras cidades de Portugal, a presença da língua inglesa é uma constante em textos promocionais, nos nomes de estabelecimentos comerciais e até em iniciativas culturais. Junta-se a pressão do turismo massificado a fazer da anglofonia, correta e incorreta, o veículo de comunicação de todos, empurrando o português para um papel secundário na vida económica do país. Fica igualmente a impressão de numerosos modismos anglo-saxónicos se enraizarem entre os mais novos, a ponto de a campanha publicitária de uma escola de inglês brincar com a situação, num estranho bilinguismo: «Mãe, no need to freak out. Se não está nos files, está na cloud. Já checkaste?» (ou seja, «Mãe, não percas a cabeça. Se não está nos ficheiros, está na nuvem. Já verificaste?»). A propósito deste tema, transcreve-se com a devida vénia, no Pelourinho, a crónica que o escritor e editor Francisco José Viegas assinou no Correio da Manhã em 19 setembro 2023, a criticar os excessos anglicistas numa nova área comercial e cultural da freguesia lisboeta de Marvila.
Na foto, a promoção da nova imagem que a Rádio Comercial apresentou em setembro de 2023 (fonte: Meios e Publicidade, 11/09/2022). Os vocábulos ingleses mood e look significam «estado de espírito, humor» e «aparência, estilo, visual», respetivamente (cf. Dicionário Infopédia Inglês-Português).
2. Não é só o inglês a lançar desafios linguísticos sérios em Portugal. Na rubrica Ensino, a consultora Inês Gama dá conta de um conjunto de reflexões acerca do impacto da presente diversidade linguística da população escolar no ensino em português.
3. A locução «pelo menos» significa geralmente «no mínimo», mas, numa frase como «o temporal causou estragos, pelo menos, em 15 localidades», não manifestará o enunciador também alguma tristeza por não ter havido mais destruição? A questão encontra-se no Consultório e soma-se a sete outras perguntas: «estar de calções» é expressão correta? Como associar «grande parte de» e toda ao nome história na mesma frase? Que nome se dá ao autor de arte sequencial? Diz-se «o envolvimento político das pessoas torna-as cidadãs» ou «torna-as cidadãos»? Qual a diferença entre os verbos falar, recitar e declamar? Como analisar e classificar uma oração como «quando comparada com os colegas»? E como pontuar a interrogativa «e não é que funcionou»?
4. O ponto de interrogação e o ponto de exclamação invertidos são características bem salientes da escrita da língua espanhola, por exemplo, em expressões facilmente interpretáveis por falantes portugueses: ¿Cómo?, ¡Genial! Na rubrica Controvérsias, divulga-se a defesa que o jornalista Jorge Morais faz do uso do ponto de interrogação invertido também em português – nuna transcricaçáo com a devida vénia do rigina publicados semanário Tal&Qual, de 13 a 19/09/2023.
5. Dois registos da atualidade respeitante às relações culturais e políticas entre os diferentes países de língua oficial portuguesa:
– Os estudantes angolanos do ensino superior ficaram isentos de agendar previamente o visto para Portugal (ver Angola 24 Horas, 20/09/2023).
– Realizou-se em São Paulo, em 18 e 19/09/2023, o 1.º Fórum Lusófono de Governação da Internet. Temas discutidos: a língua portuguesa na Internet; os desafios e oportunidades do idioma comum na inteligência artificial; a poesia e literatura em língua portuguesa na Internet; as iniciativas em português na capacitação em competências digitais e na governação da internet (ver mural do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, em 21/09/2023).
6. No panorama internacional, relevo para a língua galega, que, desde 19/09/2023, pode fazer-se ouvir no Congresso de Deputados espanhol, a par do basco e do catalão. O Governo espanhol levou também ao Conselho da União Europeia um pedido de reconhecimento do basco, catalão e galego como línguas oficiais nas instituições comunitárias. Foi, no entanto, adiada uma decisão europeia por haver dúvidas (ver Expresso, 19/09/2023; ver ainda o artigo de opinião de Pere Aragonès, "Falar catalão na Europa", no Público, em 18/09/2023).
7. Uma chamada de atenção para três programas dedicados à língua portuguesa na rádio pública de Portugal:
– O trabalho “Uma reflexão sobre os problemas que os estudantes apresentam na escrita académica quando chegam ao mestrado”, apresentado no do 3.º Encontro Nacional sobre Discurso Académico (ENDA 3), realizado em 7 e 8 de setembro, em Lisboa, é o tema de uma entrevista às professoras e investigadoras Mariana Pinto (Escola Superior de Educação de Setúbal) e Inês Cardoso (Escola Superior de Educação de Santarém), transmitida em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 22/09/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, pouco depois do noticiário das 9h00*).
– No programa Páginas de Português, transmitido na Antena 2, no domingo, 23/09/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 30/09/2023, às 15h30*), convidam-se os professores Célia Barbeiro e Luís Barbeiro, investigadores do CELGA-ILTEC (Universidade de Coimbra), para falar acerca do projeto didático apresentado em "As escolhas na reescrita conjunta: orientação e apreciação pelo professor das propostas dos alunos", uma comunicação também feita no âmbito do ENDA 3.
– Refira-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2 (de segunda a sexta, às 9h50* e às 18h50*) e que, de 25 a 29 de setembro, é dedicado ao tema da linguagem dos pequenos impostos que existiram ao longo do século XX.
*Hora oficial de Portugal continental.