A forma "num" (ou até "nu", que está documentada na região de Aveiro1) não se aceita na escrita corrente e formal, mas representa a pronúncia de não nas regiões a norte do Mondego e da serra da Estrela. Há descrições que a registam, tal como registam igualmente as formas "nã" e "na", que também não se escrevem e que ocorrem geralmente a sul do Mondego e do sistema da serra da Estrela.
Estas formas "num"/"nu" (tal como "nã"/"na") aparecem antes de verbos: «num sei», «nã sei». É uso descrito por Leite de Vasconcelos (1958-1941) há mais de 90 anos2:
«Ao advérbio "não", isto é, a nom da língua arcaica, corresponde: nóũ (em pausa), num, ou nu (em próclise: por exemplo; nũ sei) reduzido a nu' antes de nasal [...], e às vezes até antes de outra consoante (nu' sóu) [...].
Quando se trata de responder negativamente a uma pergunta, a forma mais generalizada é "não" (ou "nõum", sobretudo no Entre Douro e Minho):
(1) P: O teu pai já chegou? R: Não.
1 Consultar Palavras co Bento No Leba, obra de Domingos Freire Cardoso, sobre o falar de Ílhavo, no distrito de Aveiro (ver apresentação na Montra de Livros). Note-se que, no título se escreve "no", em lugar de "nu".
2 Leite Vasconcelos, Opúsculos. Dialetologia, 1928, p. 300. A forma num também ocorre nos dialetos brasileiros: no Dicionário Houaiss, num tem entrada como variante informal de não; e no Dicionário Aulete é apresentado como forma popular brasileira.
N. E. – Completou-se a nota 2 em 12/03/2023.