As construções que incluem verbos de crença (achar, acreditar, julgar) na oração subordinante normalmente selecionam o modo indicativo para o verbo da oração subordinada, tal como se exemplifica nas frases seguintes1:
(1) «O João acha que a Rita lhe traz o jornal.»
(2) «O João acredita que a Rita está em casa.»
(3) «O João julga que a Rita vai ao cinema.»
(4) «O João crê que a Rita gosta deste livro.»
Quando a oração subordinante inclui uma negação, o modo conjuntivo é aceitável:
(5) «O João não acha que a Rita lhe traga o jornal.»
De acordo com o que se afirma na Gramática do Português, «há um subgrupo de predicadores de crença que admite quer o conjuntivo quer o indicativo na oração subordinada. É o caso de verbos como acreditar, crer ou imaginar, e de nomes como hipótese, ideia ou suspeita»2.
Assim, são igualmente aceitáveis as frases (2) e (6):
(6) «O João acredita que a Rita esteja em casa.»
A seleção do modo indicativo (está) ou conjuntivo (esteja) está relacionada com a atitude do falante relativamente ao que afirma: na frase (2) apresenta a situação como verdadeira; na frase (6) não se compromete com a veracidade do que afirma.
Deste modo, as frases apresentadas pela consulente são ambas possíveis, embora expressem valores diferentes relacionados com o grau de crença relativo ao facto de ouvir fantasmas.
Não deixo de assinalar que, nesta frase em particular, a opção pelo conjuntivo poderá ser sentida como pouco aceitável por alguns falantes. Não obstante, a introdução, por exemplo, do advérbio talvez já a tornará mais aceitável:
(7) «Creio que talvez ouça fantasmas.»
Disponha sempre!
1. Note-se, ainda, existem várias combinações possíveis entre os tempos dos verbos da oração subordinante e os da oração subordinada. Para mais informações, cf. Oliveira in Raposo et al. Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 543-547.
2. Barbosa in idem, idib., p. 1843.