1. Em 24 de fevereiro de 2022 desencadeava-se o conflito que hoje é tema permanente nas notícias: a guerra russo-ucraniana, cada vez mais ameaçadora para a paz no mundo. As opiniões veiculadas pelos media dividem-se quanto aos acontecimentos dos últimos doze meses na Ucrânia: na perspetiva ocidental, trata-se de uma invasão, mas, do prisma russo, é uma intervenção militar em defesa da Rússia. Em O Nosso Idioma, chama-se a atenção para a ambivalência e as subtilezas das palavras referentes a este cenário beligerante, numa reflexão da professora Carla Marques.
Na imagem, recriação do chamado «símbolo da paz», desenhado por Gerard Holtom (1914-1985) para a Campanha pelo Desarmamento Nuclear, movimento fundado em 1958 (fonte: Andri Tegar Mahardika, Pixabay).
2. Ainda em O Nosso Idioma, Carla Marques assina outro apontamento, acerca da recorrente forma incorreta «foi abusado/a», enquanto uma associação vocabular menos habitual («destilar ensinamentos») dá o mote a Sara Mourato para um conjunto de considerações sobre a semântica do verbo destilar. Transcrevem-se igualmente, com a devida vénia, um artigo do professor universitário Marco Neves, que evidencia a mistura linguística inerente à história do português – uma «língua bastarda» como as outras (Certas Palavras, 21/02/2023); e a crítica do advogado e académico Jorge Bacelar Gouveia à adoção da língua inglesa nos cursos de Direito existentes em Portugal (in Público, 16/02/2023).
3. Sucedâneo é sinónimo de substituto, mas, a respeito da substituição de pessoas em certas funções, pode falar-se de «funcionários sucedâneos»? A questão faz parte da atualização do Consultório, que inclui outras sete perguntas, num total de oito: uma laranja «corta-se em dois» ou «em duas»? A expressão «infantaria maquinizada» está correta? Diz-se «bebidas é connosco» ou «são connosco»? Como se identifica uma «oração de suplementação»? O que significa «ser ressolha»? Porque se escreve acidente, e não "accidente"? O verbo "proagir" existe?
4. A repressão política cala a palavra. Na Montra de Livros, apresenta-se o novo número da revista Veredas, publicação da Associação Internacional de Lusitanistas, no qual se apresenta o dossiê temático «Prisões e confinamentos: escrita do cárcere», em torno da produção literária em ambientes sem liberdade de expressão.
5. Também o masculino genérico, isto é, o emprego de formas do masculino plural para referir indivíduos de diferentes géneros, tem implicações repressivas e efeitos de exclusão – defende Clara Não, num artigo divulgado no jornal Expresso, em 20 de fevereiro de 2023, e agora acessível em Controvérsias.
6. As vantagens e os perigos do desenvolvimento dos chatbots ou «programas de conversa» em Inteligência Artificial continuam a suscitar enorme interesse. Nas Diversidades, via jornal Público (19/02/2023), disponibiliza-se um trabalho da jornalista Karla Pequenino, que compara o funcionamento do ChatGPT e da nova versão do motor de pesquisa Bing.
7. A divulgação científica em linguagem inteligível é necessidade urgente, e, portanto, merecem sempre registo as iniciativas com esse intuito. Um bom exemplo é o já aqui mencionado Palavrões da Ciência, um programa difundido pela Internet, em podcast, da autoria de Marco Neves e de Cristina Nobre Soares. O episódio 5 (21/02/2023) é dedicado à Botânica e tem como entrevistada Francisca Aguiar, professora no Instituto Superior de Agronomia, que começa por explicar o que significa o termo angiospérmica. Relativamente a este e outros episódios, ver aqui.
8. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, são convidados:
– O professor Sweder Souza, coautor do livro Português Língua Não Materna: Contextos, Estatutos e Práticas de Ensino numa Visão Crítica, (U. Porto Press), em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 24/02/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*);
– António Horta Branco, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e diretor-geral da Portulan Clarin, que explica os últimos avanços da tecnologia aplicada à língua, no Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 26/02/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 4/03/2023, às 15h30*). Este programa inclui ainda um apontamento da consultora do Ciberdúvidas Inês Gama.
Entre outros programas dedicados a temas da língua portuguesa, registe-se, por último, Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido pela Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50 e às 18h50*. De 27 de fevereiro a 3 de março, convida-se a economista e professora de Economia Mariana Mortágua para falar de dinheiro digital, das criptomoedas e da negociação em bolsa através de algoritmos.
* Hora oficial de Portugal continental.