Na frase «A aventura devolve-nos à imensidão do aberto» pode-se considerar que há um dêitico pessoal, que corresponde ao pronome pessoal na forma dativa nos. Pode-se também considerar o dêitico temporal presente na forma verbal devolve no presente do indicativo.
Os dêiticos são expressões linguísticas cuja função é fazer referência ao momento da enunciação, à situação do enunciado ou aos interlocutores. Segundo Maria Lobo na Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian)1: «A referência de uma expressão dêitica não tem um valor fixo, mas sim um valor referencial variável de acordo com os parâmetros da enunciação. Por exemplo, os advérbios (…) e os pronomes pessoais da primeira e segunda pessoa (…) são dêiticos, uma vez que, para identificarmos o seu referente, temos de conhecer o contexto enunciativo» (pág. 2178). Assim, na frase apresentada pela consulente, o pronome nos pode ser considerado um dêitico, visto que faz referência ao locutor da informação veiculada pela frase.
De acordo com o Dicionário Terminológico, os dêiticos «assinalam o sujeito enunciador, o sujeito a quem se dirige o ato enunciativo, o tempo e o espaço da enunciação; apontam para objetos, entidades e processos constitutivos do contexto situacional; contribuem ainda para a referenciação exofórica de outros signos atualizados no discurso». Deste modo, o tempo verbal em que o verbo devolver se encontra permite localizar a situação descrita pela frase num determinado período de tempo que se sobrepõe ao da enunciação. Por isso, o tempo verbal do verbo da frase pode também ser considerado um dêitico, na medida em que faz referência ao valor temporal.
1. Lobo, M. (2013), Dependências Referenciais. In Raposo et al. (2013). Gramática do Português. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 2177-2227.