Dar a vez ao Português é o que se pretende com esta coluna: textos acerca da nossa língua, da sua história, do seu valor como factor de identidade e como meio de comunicação de toda a comunidade que ela irmana, da unidade, mas também da variedade, da sua permanente evolução, das curiosidades, da doçura e graça de certos vocábulos e expressões, do que vai acontecendo acerca da Língua Portuguesa e, ainda, do seu uso diário, dos atropelos que sofre, das dúvidas que temos quando falamos ou escrevemos - que temos, sim, porque... quem não tem num ou noutro momento dúvidas sobre como se lê ou se escreve uma palavra, como se constrói uma frase?
Portugal e o Alentejo
O primeiro assunto que escolhi diz respeito à história e formação das palavras, em primeiro lugar, de Portugal e do Alentejo.
O nome do nosso país provém de Portucale (Portus + Cale): Portus é uma palavra de origem latina, que significava "porto", "passagem", e Cale (palavra de origem ibérica, que significava "rocha", "abrigo", "fortaleza") era o nome de uma antiga povoação pré-romana, situada perto da foz do rio Douro, na estrada romana que ligava Lisboa (na altura denominada de Olisipo) a Braga (Bracara). Podemos, pois, dizer, que o nome de Portugal associa o porto (e o mar) à solidez da rocha.
E Alentejo, sabemos, é a designação que os povos a norte do Tejo davam a todas estas terras a sul do rio Tejo: além Tejo, para lá do Tejo. O advérbio além também sugere a vastidão que se perde no horizonte (como além-fronteiras ou além-mar).
Carnaval e Entrudo
E, como estamos em tempo dele, saibamos que há pelo menos duas explicações para a origem da palavra Carnaval. Uma considera que a palavra provém da expressão latina carne, vale!, com o significado de "adeus, carne!"; outra, que a palavra chegou ao português por via francesa, do italiano carnevale, procedente de carnelevare, que significava "rejeitar a carne", formada do latim carne(m) levare (suprimir ou tirar a carne).
A palavra Carnaval, efectivamente, designava apenas a última terça-feira desse período que começa no Dia de Reis e vai até à Quaresma. Ora, segundo o preceito católico, essa terça-feira era o dia de dizer adeus à carne (comida, festas, luxúria...), porque se ia entrar num tempo de abstinência logo no dia seguinte, quarta-feira de cinzas. Posteriormente, a palavra Carnaval passou a designar todo o período de festas, persistindo a percepção da sua relação com a carne, mas desaparecendo o significado do adeus ou da supressão. Aliás, dá-se o nome de "gordo" aos dias que precedem a entrada na Quaresma, nomeadamente o "domingo gordo" ou a "terça-feira gorda". Dias gordos são os dias de carne, em oposição a dias magros ou dias de peixe, em que a Igreja prescreve a abstinência de carne.
Quanto a Entrudo, é a antiga denominação portuguesa para esse tempo de três dias de divertimento que precedem imediatamente a entrada da Quaresma. Esse termo provém do latim introitus, que significa "entrada". A palavra Entrudo começou por designar apenas a noite de terça-feira, portanto, de entrada na Quaresma, mas, posteriormente, alargou-se ao período desses três dias, de domingo a terça-feira. Essa palavra passou a ser substituída pela palavra Carnaval a partir do século XVIII.
E terminamos com as serpentinas: sabia que o nome desses rolos de fita de papel colorido se deve ao facto de, tal como as serpentes, se desenrolarem em espiral?
in Diário do Alentejo de 1 de Fevereiro de 2008, na rubrica A Vez… ao Português