1. O mundo tomou conhecimento de mais uma história de horror vivida nas costas de Itália: uma embarcação de madeira que transportava cerca de 200 migrantes ilegais naufragou ao largo da costa da comuna italiana de Crotona. Mais de 60 pessoas morreram, incluindo crianças e um recém-nascido. A situação ocorrida, resultante de mais uma ação criminosa do tráfico ilegal de migrantes, voltou a ser descrita como uma «tragédia humanitária». Esta é, recordamos, uma construção não aceitável porque encerra uma contradição nos termos uma vez que o adjetivo humanitário descreve alguém «dotado de bons sentimentos» ou alguém que «procura o bem geral da humanidade». Nesta lógica, carece de sentido qualificar uma tragédia como humanitária, sendo aconselhável a opção por construções como «tragédia humana» ou «trágico acidente».
Este assunto foi já tratado no Ciberdúvidas em diversas ocasiões: «Como é que uma tragédia pode ser humanitária!?», «Porque é incorreta a expressão crise humanitária?» ou «A tragédia que voltou a ser "humanitária"...».
2. Em certas regiões de Portugal subsistem ainda as formas medievais dormide e fazede, pertencentes ao modo imperativo dos verbos dormir e fazer e que convivem com as formas do português moderno, tal como se explica nesta resposta. A atualização do Consultório inclui ainda questões lexicais ligadas à ortografia («O nome butelo») ou à neologia («O neologismo zerésimo») e trata aspetos de natureza sintática relacionados com a concordância («Quanta luz é o suficiente...») e com a classificação de orações subordinadas e das palavras que as introduzem («O advérbio interrogativo quando»). Por fim, uma proposta de tradução do anglicismo «save the date».
3. A identificação da classe de palavras a que pertence que na frase «Comprei uma maçã que estava podre» constitui-se como matéria para o apontamento de Inês Gama, colaboradora do Ciberdúvidas (emitido no programa Páginas de Português, na Antena 2).
4. A questão da aprendizagem em diferentes fases da vida é objeto de análise no artigo intitulado «Será que burro velho não aprende línguas?», da autoria da professora universitária e linguista Margarita Correia (publicado no Diário de Notícias e aqui partilhado com a devida vénia).
5. A polémica em torno da decisão de alterar a linguagem considerada ofensiva nos livros de Roald Dahl chega a uma nova fase, com a editora a anunciar que decidiu manter duas publicações: uma com o texto original e outra com adaptações linguísticas. Caberá, deste modo, aos leitores a decisão de ler uma ou outra obra (notícia aqui, partilhada com a devida vénia).
6. Destaque ainda para:
– A revista Filamentos, uma publicação bilingue (português e inglês) de artes e letras relacionadas com a diáspora açoriana, da responsabilidade da Universidade Estadual da Califórnia;
– A ação Políticas de língua para emigrantes-imigrantes – Situação da língua portuguesa no mundo e em Portugal, que conta com a participação das professoras Margarita Correia e Micaela Rámon, com lugar na Biblioteca Lúcia Craveiro da Silva (dia 28 de fevereiro de 2023, pelas 18h, com transmissão via zoom (https://us06web.zoom.us/j/86087927144).