Nas áreas da história da língua e da dialetologia, Clarinda de Azevedo Maia (n. 1939) é, em Portugal, um dos nomes mais destacados, com projeção académica além-fronteiras. A sua História do Galego-Português (1986) é disso excelente exemplo. Com a publicação de Estudos Linguísticos pela Imprensa da Universidade de Coimbra, em 2022, fica mais acessível a «quase totalidade dos artigos até à data publicados e que se encontram dispersos em revistas, obras coletivas e atas de congressos e outros eventos científicos» (Introdução, vol. I, p. 9).
O primeiro volume abrange a linguística histórica e a história da língua portuguesa e constitui uma coleção de 32 estudos em que se distinguem de alguma forma seis áreas de intervenção da autora: o estatuto académico e teórico dos estudos de história da língua; a Idade Média e a relação histórica do português com o galego; o desenvolvimento do discurso metalinguístico sobre o português a partir do século XVI; a fonética e a fonologia históricas do português; a história do léxico do português, com especial atenção dada à questão da perda lexical; e um grupo final de estudos dedicados a temas variados, incluindo um artigo sobre a grande filóloga Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1851-1925).
O segundo volume, mais reduzido mas não menos interessante e sugestivo pelas pistas que continua a facultar, compreende 12 estudos dedicados a questões da variação sincrónica do português na contemporaneidade: dialetologia, incluindo um conhecido estudo sobre os dialetos algarvios – "Os falares do Algarve", publicado em 1975; a lexicografia portuguesa; a situação linguística das regiões fronteiriças, propiciadoras de fenómenos de contacto – destacam-se os estudos sobre o vale de Xalma, uma região espanhola raiana, na província de Cáceres; o tema sociolinguístico das minorias linguísticas; e dois estudos finais, sobre o papel e o legado de Manuel de Paiva Boléo (1904-1992)1, eminente linguista da Universidade de Coimbra, e a publicação por ele criada e dirigida, a Revista Portuguesa de Filologia.
São, portanto, dois volumes que formam uma coleção de estudos marcantes para a evolução do pensamento científico e académico sobre a variação linguística não só em Portugal mas também na Galiza e demais regiões espanholas fronteiriças.
1 Depois da intensa investigação de Leite de Vasconcelos (1858-1941) e do seu seu mapa dialetológico, deve-se a Paiva Boléo o segundo grande inquérito dialetológico realizado em Portugal, do qual resultou o Mapa dos Dialectos e Falares de Portugal Continental (1959).
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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