1. As notícias têm dado conta da ebulição social e política registada nos últimos dias em França, país donde chegam igualmente ecos muito diferentes, com interesse para uma reflexão sobre o futuro da língua portuguesa. Com efeito, no Baromètre des Langues (Barómetro das Línguas), cuja 4.ª edição foi lançada em dezembro de 2022, numa publicação do Ministério da Cultura francês, apresentam-se dados sobre a relevância dos idiomas da atualidade relativamente a um conjunto de vários fatores. Trata-se de uma lista ordenada de 634 línguas, em que o português aparece bem colocado, em 9.º lugar, o qual, no entanto, não será tão confortável como seria desejável. Um ponto forte é o número de falantes, mais de 221 milhões, mas o valor atingido quanto ao índice de desenvolvimento humano* (0,633) está abaixo do do turco e pouco acima do tagalo, nas Filipinas. É de concluir que a promoção do português passará também pela melhoria das condições de vida dos seus falantes.
* O índice de desenvolvimento humano (IDH) «é uma medida resumida do progresso a longo prazo em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde» (PNUD no Brasil). O objetivo da sua criação «foi o de oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento» (ibidem).
2. O Barómetro das Línguas menciona também a língua galega, que alcança um surpreendente 33.º lugar, à frente, por exemplo, do eusquera (ou basco) – cf. notícia em Nòs Diario , em 09/03/2023. A propósito da situação do galego, apresenta-se na Montra de Livros, o livro Pola Nosa Lingua (Pela Nossa Língua), do historiador e geógrafo Xosé María Lema, muito crítico a respeito da política linguística adotada pelo governo autonómico entre 2009 e 2019.
3. Entre as várias aceções do verbo antecipar, há uma que o faz sinónimo de antever ou prever. Será um uso correto? Esta é uma das seis novas perguntas feitas ao Consultório. Além do tópico referido, incluem-se, portanto, outros, como a sintaxe verbal – a do verbo combater e a de ir num verso camoniano –, a forma "num" (variante regional de não), o uso de noz como nome não contável («bolo de noz») e as diferenças de significado que a colocação dos advérbios também e só provoca numa frase.
4. Estudos feitos no domínio da neurociência revelam que a pronúncia regional e os sotaques podem ser fator de comportamentos de discriminação, em maior grau até do que a cor da pele. Na rubrica Diversidades, divulga-se o apontamento que o jornalista francês Michel Feltin-Palas dedicou a este tema, incluindo um relato bíblico, o do xibolete, termo hoje usado no sentido de «sinal de identificação, senha», mas que também ocorre para denotar «a característica que permite associar, frequentemente com intenção discriminatória, um indivíduo a determinado grupo».
5.Uma referência final sobre os novos temas dos programas à volta da língua portuguesa transmitidos pela rádio pública de Portugal:
– Em Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, 10/03/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, pouco depois do noticiário das 9h00*), conversa-se com António Branco, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e diretor-geral de Portulan Clarin, sobre os avanços da tecnologia aplicada à língua portuguesa e os seus desafios nas políticas linguísticas;
– Em Páginas de Português, difundido na Antena 2, no domingo, 12/03/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 18/03/2023, às 15h30*), entrevista-se Cristina Martins, linguista e professora da Universidade de Coimbra, acerca do ensino de Português como Língua Não Materna. No programa, participa ainda a professora Carla Marques com um apontamento sobre as regras de concordância;
– O programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2 (segunda a sexta, às 09h50* e 18h50*), tem, de 13 a 17/03/2023, como convidado Jorge Bacelar Gouveia, professor de Direito da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, para falar sobre a linguagem associada à área da sua especialidade.
* Hora oficial de Portugal continental.