1. No quadro da guerra da Ucrânia, o presidente russo Vladimir Putin decretou mobilização parcial dos reservistas, uma decisão que mostra que o atual conflito não tem ainda fim à vista e que o preço a pagar do ponto de vista humano, social e económico continua a crescer a cada dia que passa. Do ponto de vista linguístico, o termo reservistas designa os "militares que não se encontram no ativo"; do ponto de vistas político, evidencia que os líderes russos estão dispostos a tudo para atingirem os seus objetivos, o que parece estar cada vez mais distante da vontade da população russa, como tem ficado patente nas manifestações antiguerra que têm tido lugar e na fuga de russos para países vizinhos. Reservistas deriva do nome reserva, que é muito produtivo em contexto militar. Este designa também as tropas que, no campo de batalha, ficam à retaguarda para ocuparem os lugares onde vierem a ser necessárias. É ainda o nome dado ao conjunto de vasos de guerra destinados a irem em auxílio de outros. Reserva pode ainda referir um militar que substitui outro que esteja impossibilitado de prestar serviço.
2. O comportamento do adjetivo esbulhado está dependente dos argumentos selecionados pelo verbo esbulhar, tal como se explica nesta resposta que integra a atualização do Consultório. Neste espaço, analisam-se também as diferenças entre os termos profanação e desconsagração aplicados à situação de alteração de funções de uma igreja. Da variante brasileira do português, chega-nos a construção «deixa eu ver» cuja adequação se analisa. Por fim, consideram-se os argumentos do verbo matar e a construção proverbial «Quem com ferro mata com ferros morre».
3. A evolução da pronúncia da rainha Isabel II deu lugar a um estudo de fonética e processamento da fala que comprova que, ao longo da vida, a voz e o sotaque mudam. Este último sofre influências de um conjunto de mudanças sociais, culturais e tecnológicas a que o falante está sujeito. Estas são algumas das conclusões aplicadas à língua inglesa que resultam da investigação desenvolvida a partir de 35 transmissões que a rainha fez entre os 26 e os 91 anos (artigo traduzido, disponível na rubrica Diversidades).
4. A presença do latim na língua portuguesa fica patente em inúmeras situações. Uma delas consiste no uso de expressões latinas que mantêm a sua vitalidade até aos dias de hoje, o que acontece, por exemplo, com a priori ou mea culpa. Este é o assunto de base deste pequeno apontamento (aqui transcrito com a devida vênia).
5. Entre acontecimentos culturais de relevo, realçamos:
– O Festival Literário Internacional de Óbidos – Fólio 2022, dedicado ao tema do poder, que decorrerá de 6 a 16 de outubro em Óbidos (programa);
– A 20.ª edição do DocLisboa, festival internacional de cinema, com o tema "A questão colonial", com um ciclo de cinema associado ao passado colonial de França e Portugal, entre 6 e 16 de outubro (programa).
6. Nos programas da rádio pública portuguesa, destacamos
- Língua de Todos, da Antena 2, que convida a professora Lúcia Vaz Pedro para falar sobre “O curso de Português Académico” que ministrou para os estudantes provenientes dos PALOP e que frequentam o ISCTE (sexta-feira, dia 23 de setembro, pelas 13h20*, com repetição no sábado, 24 de setembro, depois do noticiário das 09h00*);
- Páginas de Português, da Antena 2, dedicado ao Dia Europeu das Línguas, que se celebra a 26 de setembro, convida dois tradutores/intérpretes do Parlamento Europeu, Francisco Falcão e Anabela Frade; na sua crónica habitual, a professora universitária Edleise Mendes tratará o tema Língua e Poder (domingo, dia 25 de setembro, pelas 12h30*, repetido no sábado, 1 de outubro, às 15h30*).
*Hora oficial de Portugal continental
1. A 21.ª Semana Europeia da Mobilidade 2022 subordina-se este ano ao tema «Melhores Ligações». Em Portugal, vários são os municípios que aderiram à iniciativa, desenvolvendo diferente medidas que têm em vista promover e testar soluções de mobilidade limpa e sustentável, uma opção cada vez mais imperiosa face às alterações climáticas a que a humanidade está a assistir. Notamos, porém, que a divulgação das atividades deixa a nu o recurso sistemático à língua inglesa: pode-se experimentar uma "cargobike", fazer um "checkup" à bicicleta, conhecer soluções de "carpooling" e há "ecolaps" solidárias. Para todas estas designações é possível encontrar uma solução em português: bicicleta de carga, exame completo, viagens partilhadas, produtos feitos de materiais reciclados, respetivamente. O recurso à língua inglesa é uma opção que continua a exigir um olhar atento e uma posição firme que se oriente na defesa da língua portuguesa.
2. A constatação de que na variante de português do Brasil se recorre à palavra bem em contextos em que se usaria muito dá matéria para a primeira resposta da nova atualização do Consultório. A ela vêm juntar-se duas questões de regência verbal («ficar em» e «logar-se em/a»), uma relacionada com a ordem dos constituintes quando se usa o adjetivo último e outras duas relacionadas com toponímia (a origem e significado de Carapinha e a tradução de Norcia, pequena localidade italiana).
3. O falecimento da rainha Isabel II trouxe para a atualidade linguística a palavra exéquias, cuja origem, pronúncia e significados se exploram na crónica da professora Carla Marques (divulgada no programa Página de Português, da Antena 2 e aqui transcrita).
4. A professora universitária e linguista Edleise Mendes reflete sobre a proximidade entre as língua portuguesa e espanhola, duas línguas com quase 850 milhões de falantes, numa crónica que destaca todo o potencial que estas línguas, "irmãs históricas", encerram (texto elaborado para o programa Página de Português, da Antena 2, que aqui se transcreve).
5. Um registo final para esta noticia no mínimo surpreendente: Erros de português tramam juiz de Leiria
1. Em Portugal, como noutros países, o mês de setembro é marcado pelo retomar de muitas atividades, e o arranque do novo ano letivo é tema obrigatório. Mas o mundo nunca para de alimentar notícias: acumulam-se tensões políticas nacionais e internacionais, a guerra na Ucrânia não cessa, os problemas ambientais também não. Entretanto, a pandemia de covid-19 parece prestes a tornar-se uma página da História, sem deixar de estar presente na atualidade, como se ilustra no glossário Covid-19 na língua, que recebe três novas entradas: Emer Cooke, diretora executiva da Agência Europeia do Medicamento (EMA) e, paradoxalmente, antiga lobista da indústria farmacêutica; a expressão «fim à vista», relativa às declarações, em 14/09/2022, de Tedros Ghebreyesus, diretor da Organização Mundial de Saúde, sobre a diminuição do número de mortes causadas pela doença; e «imunidade, 95,8%», em referência ao facto de a maior parte da população residente em Portugal já ter anticorpos, segundo um relatório datado de 15/09/2022, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).
Do ponto de vista etimológico, a palavra imunidade vem do latim immunìtas, atis, «isenção (de impostos, de encargos), dispensa, desobrigação, imunidade» (Dicionário Houaiss). Em português, como noutras línguas, denota frequentemente o «privilégio de estar isento de algo (dever, encargo, pena) a que os outros estão sujeitos» e é sinónimo de isenção e dispensa (dicionário de língua portuguesa da Infopédia). Por extensão semântica, tornou-se termo da área da biologia, usado no sentido de «invulnerabilidade natural ou adquirida dos organismos vivos aos efeitos de determinados agentes patogénicos ou substâncias estranhas» (ibidem). Quanto à expressão imunidade de grupo, consulte-se a rubrica aqui referida. Na imagem, um quadro de Francis Smith (Lisboa, 1881-Paris, 1961).
2. O que é correto: «convidar a escrever um livro», ou «convidar para escrever um livro»? A resposta encontra-se no Consultório, onde se disponibilizam mais sete respostas às seguintes perguntas: quando se faz maionese e ela talha, diz-se que deslassou ou deslaçou? Como se classifica a oração «sem se ver»? Na frase «começa cedo a criaturinha» falta uma vírgula ou não? Como usar sem errar a expressão «após o que»? No Brasil, azarar só significa «dar azar»? A palavra heládico tem algum sinónimo? E o que quererá dizer o provérbio «se não fora o Pindo e a Panadeira, todas as velhas iam à Ribeira»?
3. Sobre o Serviço Nacional de Saúde português e o seu funcionamento com um novo estatuto, a comunicação social referiu-se algumas vezes à figura que o vai gerir, Fernando Araújo, como sendo o novo CEO, sigla da expressão inglesa chief executive officer. A respeito deste anglicismo repetido e escusado, leia-se o comentário de José Mário Costa no Pelourinho.
4. O português de Angola suscita cada vez mais interesse entre linguistas e especialistas em planeamento linguístico. Na Montra de Livros, apresenta-se Da Fonologia à Lexicografia. Elementos para uma Gramática do Português de Angola, uma obra publicada pelas edições Húmus, com a coordenação do professor universitário Paulo Osório, que reúne um conjunto de estudos como primeiro passo para a construção de uma gramática para a variante angolana do português.
5. Quanto aos temas de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa:
♦ o curso de formação de professores de Português dos países africanos de língua oficial portuguesa e de Timor-Leste que a Universidade Federal da Bahia (UFB) está a levar a cabo, com o apoio do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), em Língua de Todos, na RDP África (sexta-feira, 16/09/2022,13h20*);
♦ o curso de Português Pluricêntrico, também organizado pela UFB e patrocinado pelo IILP, em associação com o Ministério das Relações Exteriores do Brasil e o Observatório de Português Língua Estrangeira/Segunda Língua, em Páginas de Português, na Antena 2 (domingo, 18/09/2022, 12h30*), programa que conta ainda com a participação da professora Carla Marques, com uma crónica sobre a palavra exéquias, em alusão às cerimónias fúnebres de Isabel II;
♦ e, em Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido pela Antena 2 de segunda a sexta (às 09h50* e às 18h50*), Maria Regina Rocha explica o que é uma metáfora e fala da sua importância na política, no discurso amoroso, na literatura e na linguagem corrente.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. O Ciberdúvidas retoma a sua atividade normal, fazendo coincidir a sua agenda com o calendário escolar português. Ao longo do novo ano letivo, continuaremos a tomar a língua portuguesa como a nossa missão dominante, desenvolvida por meio das respostas do Consultório, das diferentes rubricas de Na 1.ª Pessoa, Atualidades, Outros ou A covid-19 na Língua. Semanalmente, regressaremos igualmente à elaboração do boletim com a compilação dos textos divulgados no portal, tendo lugar o primeiro envio já no dia 16 de setembro.
Setembro é o mês que marca a retoma de muitas atividades, das escolares, às políticas ou judiciais e até literárias. Para todas estas situações, o galicismos rentrée continua a ser convocado, o que motiva o regresso a algumas reflexões já aqui divulgadas, relacionadas com a possibilidade de aportuguesamento de empréstimos lexicais: «O galicismo rentrée», «À volta da cassete e dos empréstimos», «O galicismo buffet (II)», «O galicismo "naïf"» ou «Aportuguesamentos de lingerie».
Recordamos também que, ao longo dos meses de julho e de agosto e até à presente data, fomos divulgando diversos textos, que aqui deixamos registados, de acordo com as rubricas que integraram: Montra de Livros: Ditos e Ditotes Populares da Beira Baixa, Os Nomes Portugueses de Aves de Todo o Mundo e Mil e tal Nomes Próprios; O Nosso Idioma: Da importância de verbalizar o pensamento, Engavelaram-se no galaio por uma barranha. Marafados!, E o Brasil criou uma língua. Também é português, Quando não há palavras e Colonialismo e língua portuguesa»; Lusofonias: Unidade e diversidade: a aventura linguística do português; Diversidades: Dos povos indígenas, Das línguas indígenas, A varíola linguística, A Índia, um caleidoscópio linguístico, e A comunidade himba»; Pelourinho: «Três disparates técnicos»; Controvérsias: «Sim, é verdade: Portugal não descobriu o Brasil»; Correio: «O “Portinglês” do ministro da Cultura». Na rubrica A covid-19 na Língua, regista-se a entrada e «Médicos do mundo» e «People's Vaccine Alliance».
[Primeira imagem: escultura "Futuro", de Ricardo Romero, 2021.]
2. A reabertura do Consultório traz a resposta a várias dúvidas relacionadas com diferentes domínios da língua portuguesa. Entre elas, encontra-se a justificação para a preferência pela grafia ç (ou c) em palavras de origem indígena, no Brasil. Formulam-se também algumas hipóteses para a formação do apelido Rosão. Outras respostas abordam os seguintes temas: a vírgula e o sujeito posposto, a preposição de seguida de oração de infinitivo, a concordância em «As testemunhas são cristãos verdadeiros». Por fim, já no domínio da literatura, deixam-se algumas pistas para a leitura do Auto da Lusitânia, de Gil Vicente.
3. Na Montra de Livros, fala-se da revista Caderno Seminal Digital, dedicada ao tema «[O] Português: Língua de muitas pátrias». Entre os textos aí reunidos, destacamos a entrevista à professora e linguista Margarita Correia, na qual aborda temas como a CPLP, o ensino do português e o português como língua de ciência. Referência anterior aqui, também.
4. O linguista brasileiro Aldo Bizzocchi dedica a sua crónica à questão da redundância, mostrando que este recurso linguístico nem sempre constitui um vício de linguagem, ao contrário do que defendem algumas perspetivas mais puristas (texto divulgado no blogue do autor transcrito com a devida vénia).
5. Fica disponivel, igualmente, a crónica da professora universitária Edleise Mendes dedicada ao português falado nas ruas do Brasil, onde se descobre a vitalidade de uma língua sem amarras, cheia de poesia e de inesperados (divulgada no programa da Antena 2, Páginas de Português).
6. As comemorações bicentenário da independência do Brasil são o tema da crónica o jornalista Ferreira Fernandes, intitulada Brasil, quero mais 200 anos de ti..., transcrita, com a devida vénia, o jornal digital Mensagem de Lisboa.
7. Faleceu o professor universitário Vítor Aguiar e Silva, aos 82 anos, reputado especialista da obra de Camões e da teoria da literatura. Ao longo da sua carreira académica, foi galardoado com vários prémios, entre os quais se destaca o reputado Prémio Camões, atribuído em 2020.
Depois da pausa estival, o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa retoma as atualizações regulares em 13 de setembro, bissemanalmente – às terças e sextas –, num regresso que coincide, assim, com o começo do ano letivo em Portugal.
Lembramos que o trabalho aqui desenvolvido se destina a quantos se interessam por temas da língua portuguesa e querem saber mais sobre como utilizá-la adequadamente, privilegiando, como sempre, as suas modalidades cultas, sem ignorar os muitos aspetos culturais que a diversificam e enriquecem nos quatro cantos do mundo.
A todos, sem esquecer o público escolar e os muitos profissionais de outras áreas que nos consultam, é destinada a atividade que aqui se desenrola há 25 anos, desde 15 de janeiro de 1997. O quarto de século já decorrido encontra-se documentado no extenso arquivo que disponibiliza permanentemente os milhares de respostas do Consultório e os não menos numerosos artigos de rubricas como O nosso idioma, Lusofonia, Ensino, Pelourinho ou Antologia. Trata-se de um repositório sobre as regras e os usos da nossa língua comum, que muito deve à atenção constante dos consulentes e às suas palavras de apreço e motivação.
É, portanto, com grande satisfação que preparamos um novo ciclo de respostas a dúvidas, bem como a publicação de textos à volta da atualidade da língua portuguesa, onde quer que ela se fale ou escreva.
Até muito em breve.
Na imagem, "Conversa interrompida", de António Ole (Luanda, 1951). Fonte da imagem: Sotheby's.
Nos meses de julho e agosto, período das férias escolares em Portugal, também no Ciberdúvidas é tempo para fazer balanços, projetos e uma pausa nas atualizações regulares.
O envio de questões ao Consultório fica, portanto, desativado, mas, como é hábito e sempre que se justifique pelo seu interesse, assinala-se nos Destaques, em baixo, e nas páginas do Ciberdúvidas no Facebook e no Instagram a entrada de novos conteúdos nas demais rubricas – O nosso idioma, Pelourinho, Ensino, Controvérsias, Diversidades, Antologia e Montra de Livros, entre outras.
Além disso, o acervo do Ciberdúvidas, que chega a cerca de 49 000 textos, mantém-se disponível para consulta em todas as suas rubricas, desde as respostas aos artigos dedicados a variadíssimos tópicos relacionados com o português na sua unidade e diversidade.
Para assuntos fora do âmbito da língua, podem utilizar-se os contactos indicados nestas páginas.
Finalmente, em 2022, ano em que o Ciberdúvidas completa 25 anos de atividade, fica expresso um enorme agradecimento a quantos, tantas vezes com palavras de apoio e estímulo, procuram este espaço de divulgação, esclarecimento e debate de temas da língua portuguesa onde quer que ela se fale e escreva. A todos é dedicado o poema que se segue, de Ana Luísa Amaral*:
Uma botânica da paz: visitação
Tenho uma flor
de que não sei o nome
Na varanda,
em perfume comum
de outros aromas:
hibisco, uma roseira,
um pé de lúcia-lima
Mas esses são prodígios
para outra manhã:
é que esta flor
gerou folhas de verde
assombramento,
minúsculas e leves
Não a ameaçam bombas
nem românticos ventos,
nem mísseis, ou tornados,
nem ela sabe, embora esteja perto,
do sal em desavesso
que o mar traz
E o céu azul de Outono
a fingir Verão
é, para ela, bênção,
como a pequena água
que lhe dou
Deve ser isto
uma espécie da paz:
um segredo botânico
de luz
* Fonte: Lyrik-Line. Listen to the poet (27/06/2022). Áudio disponível aqui. Mantém-se a ortografia de 1945, adotada pelo original. Na imagem, Flores, de Aurélia de Sousa (1866-1922).
1. A guerra na Ucrânia prossegue, as sanções à Rússia também e geram-se mais focos de tensão, um deles devido ao bloqueio da circulação ferroviária para a cidade russa de Kaliningrad (em cirílico, Калининград), cujo território* fica situado entre o Báltico, a Polónia e a Lituânia. O referido topónimo, que pode aportuguesar-se inteiramente como Caliningrado ou Calininegrado, só surgiu após a Segunda Guerra Mundial, quando a União Soviética anexou parte da Prússia Oriental, até então região da Alemanha. Nesta cidade – em alemão Königsberg, literalmente «castelo, fortaleza do rei» (aportuguesamento Conisberga) –, nasceu e viveu o conhecido filósofo Immanuel Kant (1724-1804), autor de uma monumental obra filosófica, que inclui um livro bem atual: A Paz Perpétua (Zum Ewigen Frieden, 1795), com propostas para a paz política e económica entre as nações**. Quanto ao nome russo, foi este criado há perto de 80 anos, como topónimo laudatório, em homenagem do líder revolucionário Mikhail Kalinin (1875-1946). É formado pelo apelido Kalinin (em russo, Калинин) e o elemento -grad, (-град) forma sufixal de gorod, «cidade, vila», do protoeslavo *gõrdъ ou *gȏrdъ, «castelo, fortificação, cidade», que figura noutros topónimos russos como Volgograd/Volgogrado e o antigo Leningrad/Leninegrado, hoje Sampetersburgo (ou São Petersburgo). O radical eslavo conta vários cognatos noutras línguas eslavas, como Belgrado (em sérvio, Beograd) bem ilustra.
* Pode falar-se de enclave ou de exclave relativamente a este território. Cf. "Depende do ponto de vista", do blogue Linguagista (27/10/2018), de Helder Guégués, e exclave no dicionário da Infopédia (24/06/2022).
** Na imagem, o túmulo de Kant em Caliningrado (fonte: "Immanuel Kant", Wikipédia, 22/06/2022).
2. O coronavírus ainda marca presença na atualidade, e a rubrica "A covid-19 e a língua" dá conta disso com duas novas entradas: Vietname, em referência à atenuação das medidas fortemente restritivas que este país adotou; e «violência juvenil», referente ao alerta lançado por um trabalho emitido na CNN Portugal (21 /06/2022) que revelou um fenómeno preocupante em Portugal, o da organização de grupos de adolescentes nas redes sociais com o único objetivo de agredirem colegas ou rivais.
3. Um terramoto, com uma magnitude de 5,9 na escala de Richter, registado na madrugada do dia 22/06/2022, causou mais de 1000 mortos e mais de 1500 feridos, com centenas de casas totalmente destruídas, na província de Paktik (no sudeste do país, na fronteira com o Paquistão). O reportório vocabular e fraseológico "O Afeganistão de A a Z" regista a catástrofe com uma nova entrada, terramoto.
4. Se o verbo conviver exibe o prefixo con-, sinónimo da preposição com, não será redundante a expressão «conviver com»? A resposta está no Consultório, onde também são esclarecidos outros tópicos, num total de seis: «contar com que» vs. «contar que»; o plural de religião; os acentos tónicos de taquicardia e ambrósia; a função do adjetivo só numa frase; e a expressão «não sabia».
5. Umberto Eco (1932-2016) foi uma figura maior da cultura europeia que abordou grandes temas ocidentais como seja o da língua perfeita, mote de uma das suas obras, A Procura da Língua Perfeita. Na Montra de Livros, assinala-se a reedição da tradução em português deste grande e estimulante livro de Eco.
6. Do muito que se publica a propósito da língua portuguesa nos jornais de Portugal, transcrevem-se com a devida vénia dois artigos em O Nosso Idioma, transcrevem-se com a devida vénia dois artigos: uma crónica do escritor Miguel Esteves Cardoso (Público, 22/06/2022), na sequência de uma outra, ainda à volta das muitas respostas possíveis a um agradecimento; e um texto da linguista Margarita Correia (Diário de Notícias, 20/06/2022), sobre a formação dos nomes científicos das doenças, das denominações populares das mesmas e o anglicismo Monkeypox, que tem toda a vantagem em ser substituído pela expressão «varíola dos macacos». Na rubrica sobre o Acordo Ortográfico, deixa-se transcrito um apontamento critico do constitucionalista Vital Moreira à decisão da Ordem de Advogados portugueses de não aplicação da norma ortográfica oficialmente em vigor no país desde 2015.
7. Entre os programas que, na rádio pública de Portugal, abordam temas da língua portuguesa, relevo para:
– Língua de Todos, na RDP África (sexta-feira, 24/06/2022, 13h20*), que tem por tema a diversidade linguística em Moçambique;
– Páginas de Português, na Antena 2 (domingo, 26/06/2022, 12h30*), que se centra nas provas finais escolares que têm lugar em Portugal, com atenção especial para o exame nacional de Português do 12.º ano e as provas de fim do 3.º ciclo, além de incluir uma crónica sobre as formas parónimas impasse e empasse.
– Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido pela Antena 2 de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.
* Hora oficial de Portugal continental, ficando depois ambos os programas disponíveis aqui e aqui.
8. Em Portugal, festejam-se os Santos Populares, adentra-se o verão e chega ao fim mais um ano letivo. No Ciberdúvidas, é tempo para balanços e projetos, bem como para uma pausa nas atualizações regulares, que regressam em setembro. O acesso ao Consultório fica, portanto, desativado, mas, para assuntos que não versem sobre gramática e outros temas da língua, podem os consulentes utilizar os contactos indicados nestas páginas. Como sempre, nas demais rubricas, não se deixará de divulgar material que aguardava publicação ou que, proveniente da comunicação social ou de outras fontes, revele pertinência como contributo para o conhecimento e a reflexão acerca da língua portuguesa onde quer que ela se fale e escreva. Até breve.
1. 21 de junho marca o dia do solstício de verão no hemisfério norte. O início do verão é marcado pelo dia mais longo do ano acompanhado da noite mais curta. O próprio termo solstício lembra este facto: com origem no termo latino solstitium, resulta da combinação de sol com stitium (forma oriunda do verso sistere, "que não se mexe"). A palavra significa, assim, à letra, "sol parado", o que lhe permite designar o dia em que o sol permanece mais tempo acima da linha do horizonte. A propósito de etimologia, recorde-se ainda que a palavra verão, oriunda do latim vernum ("tempo primaveril"), designava, em latim, a estação da primavera, sendo originalmente o atual verão designado de estio, como se pode ler no apontamento «A primavera e as estações do ano» e também na crónica do tradutor e professor universitário Marco Neves dedica à palavra.
Cf. a este propósito, leia-se ainda «O processo de formação de solstício» e «Solstício».
Primeira imagem: nascimento do sol em Stonehenge. Neste dia, o sol nasce alinhado com o centro da pedra principal.
2. A construção «um pacote de» deve ser seguida de um nome no singular ou no plural? Esta é a pergunta que abre a atualização do Consultório, convocando a noção de nomes contáveis e não contáveis. Leiam-se igualmente as respostas sobre a presença do nome Vladimir na onomástica portuguesa, o uso correto do adjetivo intocável e a tradução do termo inglês timer. Para terminar, duas questões de âmbito sintático-semântico: uma relacionada com as condicionais de enunciação e outra com a análise da oração relativa presente em «memórias de quem se emociona».
3. Partilhamos, com a devida vénia, três textos relacionados com usos de palavras ou expressões em língua portuguesa:
♦ O desgaste do significado de algumas palavras pode estar associado ao seu uso indiscriminado em situações em que habitualmente esta não se aplicaria. É o que parece estar a acontecer à palavra génio, que, segundo o jornalista Vítor Belanciano, se seleciona para descrever pessoas que não revelam qualquer traço de genialidade;
♦ As possibilidades de resposta a um "obrigado" levam o cronista Miguel Esteves Cardoso a uma viagem pelas soluções que a língua foi construindo;
♦ O significado de 37 termos da linguagem inclusiva motiva a reflexão da advogada Carmo Afonso em torno desta proposta que procura ultrapassar os limites da gramática tradicional.
4. A língua francesa tem um acento fixo e evoluiu foneticamente no sentido da erosão dos sons consonânticos, afastando-se, em muitos casos, da sua grafia. Este aspeto abre espaço a ambiguidades que permitem jogos e trocadilhos, como o comprova o tradutor e professor Vítor Santos Lindgaard no apontamento aqui transcrito com a devida vénia.
1. Enquanto a covid-19 se mantém, pelo menos, em Portugal, e a guerra na Ucrânia não tem trégua, a atualidade dá destaque às eleições na França, onde, em 19 de junho, tem lugar a 2.ª volta das eleições legislativas, disputada entre a coligação Nupes, apoiante de Jean-Luc Mélenchon, e a Ensemble!, da linha política do presidente francês Emmanuel Macron. Neste contexto, fala-se em macronismo*, neologismo que já circula mediaticamente em Portugal – ver, por exemplo, "O macronismo, esse gigantesco bluff", artigo do historiador Manuel Loff, no jornal Público (14/06/2022). Recorde-se a propósito que a relação com o francês foi muito forte do século XIX até meados do século XX, como, sobre os estrangeirismos na língua portuguesa, assinala o filólogo Manuel Rodrigues Lapa (1897-1989) na obra Estilística da Língua Portuguesa. No Ciberdúvidas, nas respostas e artigos em arquivo, ainda se faz eco dessa preocupação, embora muitos termos franceses se tenham entretanto enraizado, como são os casos referidos em "Detalhe: 'horrível galicismo'?, "O galicismo plafom", "Comprometer, um antigo galicismo" ou "Sobre o galicismo etapa". Vide, igualmente, o apontamento "À volta da cassete e dos empréstimos".
* Da mesma famíla: macronistas.
Na imagem, o Arco do Triunfo, em Paris (Unsplash, 17/06/2022).
Também em 19 de junho, têm relevo ainda as eleições na região autonómica da Andaluzia e as eleições presidenciais na Colômbia. Sobre a Andaluzia, consultem-se: "Al Andalus e Andaluz", "O termo flamenco”, "Topónimos de origem árabe", "Os 48 gentílicos de Espanha", "O aportuguesamento dos nomes das províncias espanholas" e "Trafalgar". No que toca à Colômbia, sugere-se a leitura de "Dos Açores à Colômbia", "O topónimo Antioquia, Colômbia", "O artigo definido e o nome dos países" e "Os países neolatinos".
2. Nos estudos linguísticos são recorrentes os termos variação, variedade e variante. Que significam ao certo? A resposta encontra-se no Consultório, juntando-se a outras seis a respeito dos seguintes tópicos: o termo circunglobal, a expressão interrogativa «a que título?», a sintaxe dos verbos agarrar e tocar, a diferença entre igualdade e equidade e a modalidade epistémica.
3. «A rir se castigam os costumes» é uma das traduções da máxima latina «ridendo castigat mores», sempre tão citada no estudo escolar da obra de Gil Vicente. Na rubrica Literatura, três autos vicentinos e os seus efeitos de cómico são pretexto para uma reflexão da professora Lúcia Vaz Pedro.
4. «Tenho encontrado inúmeros problemas relacionados tanto com a concordância nominal como com a concordância verbal», declara Inês Gama num apontamento em Ensino, no qual se aborda o tratamento da concordância no ensino de Português como Língua Estrangeira (PLE).
5. Em O Nosso idioma fica disponível o documentário Além de Nós, da autoria da jornalista Anabela Saint-Maurice, emitido originariamente na RTP 1 em dezembro 2009, à volta da importância estratégica da língua portuguesa em Macau, em Xangai, na pequena cidade brasileira de Redenção e no Namibe (sul de Angola). E, na rubrica Diversidades transcreve-se um artigo publicado na revista de divulgação científica Horizon, sobre a investigação da surpreendente relação da faculdade da linguagem humana com o comportamento vocal dos símios.
6. O alfabeto latino é hoje hegemónico, mas uma viagem até à Geórgia revela uma surpreendente diversidade de sistemas de escrita, como conta o tradutor Vítor Santos Lindgaard em texto incluído no blogue Travessa do Fala-Só e também disponível em Diversidades.
7. A criação literária dos Açores volta a ser objeto de divulgação em 17/06/2022, pelas 18h00, na livraria Letras Lavadas, com o lançamento da Nova Antologia de Autores Açorianos, publicação coordenada por Helena Chrystello, membro fundador da Associação Internacional dos Colóquios da Lusofonia (ver Notícias).
8. Numa iniciativa do Laboratório de Competências Transversais e do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, realiza-se em 12 de julho de 2022 a oficina "Emoção e criatividade através da escrita criativa". Trata-se de uma formação destinada à comunidade do ISCTE-IUL, da responsabilidade da professora Lúcia Vaz Pedro.
9. Conteúdos de três dos programas que a rádio pública em Portugal dedica à língua comum:
♦ A descoberta do manuscrito da Clavis Prophetarum do Padre António Vieira, em Língua de Todos, na RDP África (sexta-feira, 17/06/2022, 13h20*).
♦ As relações entre o português europeu e o português do Brasil, em Páginas de Português, na Antena 2 (domingo, 19/06/2022, 12h30*), programa que inclui ainda a crónica da linguista Edleise Mendes (Universidade Federal da Bahia).
♦ Os termos «combustíveis fósseis», «transição energética», descarbonização, entre outros da linguagem da energia, nas emissões de 20 a 24 de junho de Palavras Cruzadas, programa da Antena 2 realizado por Dalila Carvalho (segunda sexta, às 09h50 e 18h50).
*Hora oficial de Portugal continental.
1. 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, foi também um dia em que a língua portuguesa foi evocada. O professor universitário e constitucionalista Jorge Miranda, escolhido pelo presidente Marcelo Rebelo de Sousa para presidir à comissão organizadora das comemorações relacionadas com a data, centrou o seu discurso em Portugal. A um conjunto de motivos de júbilo relacionados com episódios da História de Portugal, Jorge Miranda acrescentou alguns motivos de desgosto. No seu discurso, referiu a mágoa pelos "atropelos" que a língua tem sofrido nas mãos de muitos e apontou os constantes erros de sintaxe presentes em textos da comunicação social. Criticou igualmente o crescente domínio do inglês, tornado «língua franca universal», com consequências no mundo empresarial mas também no próprio sistema de ensino, com a criação de escolas bilingues. Jorge Miranda deixou-nos, com o seu discurso, um conjunto de motivos para refletir sobre o rumo que deverá tomar esta língua que nos une e que nos dá identidade.
Anteriores intevenções de Jorge Miranda sobre a língua portugues: Brevíssimas notas sobre três questões sérias + Outro direito fundamental em risco: o direito à língua
2. A covid-19 na língua regista, desta feita, a entrada menstruação, assinalando uma das possíveis sequelas da doença entre as mulheres.
3. Ao Consultório chegam-nos questões relacionadas com temas muito diversificados. Começamos por destacar o significado da forma ur-livro, usada no Livro do Desassossego, de Bernardo Soares (semi-heterónimo de Fernando Pessoa), a etimologia das formas húmido e úmido e a história dos plurais abdómenes, pólenes e gérmenes. Aborda-se ainda o problema da tradução de "esports" (nomeadamente para o português do Brasil) e a grafia de lápis. Por fim, justifica-se o uso da expressão «membro estagiário», procede-se à análise sintática de «sujeito a guincho» e «proibido estacionar» e identifica(m)-se o(s) ato(s) ilocutório(s) presente(s) numa frase complexa.
4. De Angola chegam-nos os neologismos "bambilar", "bambila" e "bambilador", formados, com intenções jocosas, a partir do nome do cantor de gospel, irmão Bambila, para fazer alusão a um caráter adulador ou bajulador, como nos conta José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, neste seu apontamento.
5. No dia 10 de junho foi divulgado um documento no qual se defende a criação de um «novo ministério da diáspora e da língua portuguesa». Estranho é que este texto, que assume a defesa da língua portuguesa, receba um título em inglês (!?): «Portugal: potência mundial do soft power». Uma situação que dá matéria para um texto da autoria do jornalista e poeta Luís Carlos Patraquim, disponível no Pelourinho.
6. Partilhamos, com a devida vénia, diversos artigos relacionados com a língua e o ensino:
— A crónica que a professora universitária Margarita Correia dedica ao topónimo Chéquia;
— Dois textos que abordam a questão do racismo na língua, na sociedade e na política: um primeiro da advogada Carmo Afonso e um segundo da socióloga Cristina Roldão;
— A crónica do professor universitário e tradutor Marco Neves, que trata da questão da morte das línguas;
— Um artigo sobre aspetos relacionados com a preparação física e mental para os exames nacionais, que se avizinham em Portugal, da autoria da jornalista Júlia Maciel.
7. A 18 de junho terá lugar a IV Jornada de Lhéngua i Cultura Mirandesa (programa aqui).
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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