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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A primeira volta das eleições gerais do Brasil teve lugar em 2 de outubro e, se, no plano presidencial, deu alguma vantagem a Lula da Silva, não o deixou a grande distância de Bolsonaro. Aguarda-se, portanto, um segundo turno eleitoral – no português brasileiro, o mesmo que «segunda volta» –, marcado para 30 de outubro, continuando o momento político a alimentar novos usos linguísticos, uns fugazes, outros nem tanto. É o caso dos significados literal e pejorativo de bolsonarista, palavra analisada num artigo publicado em A Folha de S. Paulo, em 29/09/2022, e transcrito, com a devida vénia, em O Nosso Idioma. A propósito de bolsonarista, que é nome mas também ocorre adjetivalmente, leia-se na referida rubrica uma crónica da professora Carla Marques acerca da função e da significação dos adjetivos.

2. Diz-se que a expressão camoniana «ocidental praia lusitana» constitui uma sinédoque, ou seja, configura uma figura de retórica pela qual se toma a parte («a ocidental praia») para aludir a um todo – mas que "todo"? Alguma praia da região lisboeta? Não é só isso, como se revela numa das novas respostas do Consultório, cuja atualização traz ainda outras cinco questões: a que classe de palavras pertence enquanto, no sentido de «na qualidade de»? Bateria é o nome coletivo correspondente a exame? A localidade portuguesa de Dois Portos tem algum gentílico? Na área da química, o termo lignina é mais correto que lenhina? A palavra arejabilidade existe?

Na imagem, uma quadro de José Malhoa (1855-19339, "Dois pintores pintando à beira-mar" (1918). Fonte: "As praias portuguesas na pintura", blogue Escrita(s), 11/07/2013.

3. Em 5 de outubro, festeja-se o 112.º aniversário da implantação do regime republicano em Portugal. A palavra república tem origem no latim respublica, um composto formado pelas palavras também latinas res publica, entendidas como o mesmo que «coisa pública, o Estado, a administração do Estado» (Dicionário Houaiss). A forma moderna república está atestada, pelo menos desde o século XV, em variação com "repubrica" e "repuvrica", embora no século XVI se recolham exemplos de respublica como forma culta (cf. José Pedro Machado, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa). À volta da efeméride e de certos aspetos associados a república, sugere-se a consulta de "As palavras república e monarquia", "'Viva a República' e 'vivà República'", "A bem da previdência e do respeito pela língua da República" e "Tipos de texto e tipo de ato no Diário da República (Portugal)".

4. Ainda relativamente à história da república em Portugal e ao seu impacto na história cultural do país nos anos 10 e 20 do século XX, regista-se a inauguração em 4 de outubro, pelas 18h00, na Biblioteca Nacional de Portugal, da exposição que assinala o centenário da revista Seara Nova, cujo primeiro número saiu em 15 de outubro de 1921. Sobre esta publicação, leia-se a resposta "Seara Nova", da autoria do professor universitário e crítico literário Ernesto Rodrigues.

5. Iniciativas que visam promover as literaturas de língua portuguesa internacionalmente:

– De 6 a 12 de outubro, realiza-se o F(O)LIO – Festival Literário Internacional de Óbidos, que nesta edição de 2022, é dedicado à temática do poder.

– Na cidade da Praia (Cabo Verde), decorre de 6 a 8 de outubro a X edição do Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, subordinado ao tema "Insularidade e Universalidade na Literatura". Trata-se de uma realização da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) e da câmara municipal da Praia.

6. Dois registos finais, para:

— O artigo "A Guiné-Bissau e a luta pelo futuro", da autoria da linguista e professora universitária portuguesa Margarita Correia, publicado no Diário de Noticias do dia 3/10/2022, em que aborda as dificuldades de erradicação do analfabetismo e do acesso universal à educação num país de pouco mais de 1,5 milhões de habitantes e com uma vintena de línguas (incluindo o português, como língua oficial, mas falado apenas por 15% da população); e 

— A recomendada prolação do nome Nobel, cujos prémios de 2022 começaram a ser anunciados na presente semana.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A agressividade verbal e não verbal marca a campanha para a primeira volta (ou turno) das eleições gerais que se realizam no Brasil em 2 de outubro de 2022. Em O Nosso Idioma, a respeito deste tema, José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, respiga várias das expressões – umas de intenção pejorativa, outras de tom grosseiro e poucas de sentido mais benigno – que se salientaram não só no discurso da comunicação social mas também no dos próprios candidatos, nomeadamente nos últimos dois debates televisivos com os sete candidatos presidenciais neles participantes. Ainda no âmbito político, mas noutra área de intervenção, inclui-se na mesma rubrica uma reflexão da linguista Edleise Mendes (Universidade Federal da Bahia) sobre os desafios que a diversidade linguística num território lança a qualquer governo.

Na imagem, Pintura n.º 2 (Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli) de Carlos Carrion de Britto Velho (Porto Alegre, 1946).

2. Com a pandemia, que ainda não está fora do horizonte das atualidades, surgiu a necessidade de inventariar os muitos neologismos decorrentes desta crise, como é exemplo o próprio reportório vocabular e fraseológico A covid-19 na Língua, que se disponibiliza no Ciberdúvidas. Mas outros glossários têm surgido, enquadrados por preocupações de recolha científica, como sejam o Dicionário multilingue da Covid-19, desenvolvido pelo curso italiano Lessicologia e Lessicografia da Universidade de Nápoles, Glossário Colaborativo COVID-19, a cargo de uma equipa de investigadores do Centro de Linguística da Universidade NOVA de Lisboa, e o Vocabulário da pandemia do novo coronavírus, disponível na página da Universidade Federal de Santa Maria (Rio Grande do Sul). Na presente atualização, estes três projetos passam a ter registo também em A covid-19 na Língua, onde se incluem ainda três outras entradas, alusivas quer à evolução da pandemia quer às suas consequências: «Erik e Nelly», em referência a duas das mutações mais contagiosas do vírus da covid-19; Manaus, capital do estado do Amazonas e um dos epicentros da pandemia no Brasil; e «(perda da) perceção do tempo», expressão que designa uma das consequências psíquicas dos períodos de confinamento, segundo um estudo norte-americano.

3. Diz-se sem errar «pisar o chão», mas «pisar no chão» é também uso correto? No Consultório, dá-se resposta a esta e outras perguntas, num total de seis: que valor tem a expressão «tanto assim que» numa frase ou num texto? «Para manutenção» significa o mesmo que «para manter»? Qual é a origem do emprego de alvo, no sentido de «ponto de mira»? Como analisar a formação de estadiómetro? E qual é afinal o género gramatical de flange?

4. O que será o cúmulo do anglicismo? Talvez um galicismo disfarçado de palavra inglesa. No século XIX e, em parte do século XX, os galicismos eram motivo de censura sistemática entre gramáticos e estudiosos da língua. Hoje parecem menos preocupantes, a não ser quando se tornam anglicismos, como se revela em Diversidades, num apontamento traduzido do francês sobre a origem de termos como e-mail ou glamour.

5. Da atualidade com interesse linguístico, tanto no espaço lusófono, como fora dele, são de realçar:

– O passatempo A Palavra do Ano, promovido pela Porto Editora, que pede ao público sugestões para a elaboração de uma lista com as palavras mais marcantes de 2022. Recorde-se que a palavra mais votada em 2021 foi vacina.

– O Dia Internacional da Tradução, que se celebra em 30 de setembro, coincidindo com o dia de S. Jerónimo, e motiva iniciativas como a do leitorado do Camões I.P. em Varsóvia, o qual leva a cabo as «Conversas Noturnas de Tradutores e Intérpretes», no Teatro Halina e Jan Machulski, no bairro varsoviano de Ochota, a partir das 18h00. A propósito da data, leiam-se também as observações que o tradutor e professor universitário Marco Neves publicou em 2 de janeiro de 2022, no Sapo 24, acerca de tradução de cosy, uma palavra inglesa supostamente intraduzível.

– No blogue Certas Palavras, o tradutor ucraniano Sérguei Lúnin assinou em 29 de setembro de 2022 um artigo a respeito dos aspetos linguísticos também envolvidos na guerra da Ucrânia.

6. Quanto a três dos programas dedicados à língua portuguesa na rádio pública de Portugal:

– Em Língua de Todos, transmitido pela RDP África (sexta-feira, 30/09/2022,13h20*; repetição no dia seguinte, c. 09h05*), entrevista-se a chefe dos serviços de interpretação em português da Comissão Europeia, Anabela Frade, sobre a relevância da língua portuguesa na União Europeia e nos projetos desenvolvidos por esta organização junto de comunidades do Brasil, dos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) e de Timor-Leste.

– Para falar sobre a tradução a partir de muitas línguas e difundida por várias instituições da Comissão e União Europeias, os tradutores Teresa Bairos e Victor de Macedo são os convidados de Páginas de Português, difundido pela Antena 2 (domingo, 02/10/2022, 12h30*; repetido em 08/10/2022, 15h30*). No programa, participa também a professora Carla Marques, com uma crónica sobre a função dos adjetivos na frase. 

– O liberalismo e a linguagem do debate parlamentar dão o mote às emissões de 3 a 7 de outubro de Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2 (segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50*). O convidado é o economista Carlos Guimarães Pinto, deputado da Iniciativa Liberal.

Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Os italianos foram a votos no passado domingo e deram a vitória a Giorgia Meloni, abrindo caminho a um governo de coligação liderado pelo partido Irmãos de Itália. Esta é uma situação que traz novos receios à Europa, num período de complexos problemas do foro militar, político e económico. O novo panorama político em Itália traz para a atualidade linguística palavras e expressões convocadas pelo pensamento político da líder do partido vencedor, tais como extrema-direita (que deve ser grafada com hífen), «coligação de direita» ou direitista. Algumas perspetivas trazem também termos como fascismo, neofascismo (que, no quadro do AO90 se deve escrever sem hífen) ou pós-fascismo (que mantém o hífen porque o prefixo tem acento próprio). 

No Ciberdúvidas, podem ser recordados alguns textos que abordam questões relacionadas com este tema: «À volta do conceito de extrema-direita» e «Os direitos das palavras: fascista». 

2. A covid-19 na língua recebe três novas entradas que dão conta da evolução de diferentes situações neste tempo de alívio pandémico. Por um lado, analisam-se os números da «Esperança da vida», para concluir que, em Portugal, esta recuou para os 80,72 anos. Por outro, observam-se consequências da reação aos excessos do teletrabalho, com o fenómeno «Quiet quitting». Por fim, anunciam-se possíveis «Calamidades futuras» para as quais o mundo se deve preparar. 

3. A concordância do predicativo do sujeito numa frase copulativa é o assunto abordado numa das respostas que integram a  atualização do Consultório. Poderão também ser consultadas diversas respostas de âmbito lexical: «Antologiar e antologizar», «Determinista e determinístico», «O significado de peroração», «O verbo abarrotar» e «Découpage e decupagem». No plano sintático, registam-se também duas novas respostas: ««O que não lhe falta são amigos», de novo» e «Complemento indireto em português coloquial de Angola».  

4. Na rubrica Montra de Livros, apresenta-se a recolha Património Linguístico do Norte Alentejo, uma obra resultante de um trabalho de alunos do 5.º ao 9.º ano do Agrupamento de Escolas José Régio, em Portalegre. Um levantamento que considera o léxico e particularidades lexicais da região e que constitui um trabalho relevante para a manutenção da memória linguística portuguesa.

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1. No quadro da guerra da Ucrânia, o presidente russo Vladimir Putin decretou mobilização parcial dos reservistas, uma decisão que mostra que o atual conflito não tem ainda fim à vista e que o preço a pagar do ponto de vista humano, social e económico continua a crescer a cada dia que passa. Do ponto de vista linguístico, o termo reservistas designa os "militares que não se encontram no ativo"; do ponto de vistas político, evidencia que os líderes russos estão dispostos a tudo para atingirem os seus objetivos, o que parece estar cada vez mais distante da vontade da população russa, como tem ficado patente nas manifestações antiguerra que têm tido lugar e na fuga de russos para países vizinhos. Reservistas deriva do nome reserva, que é muito produtivo em contexto militar. Este designa também as tropas que, no campo de batalha, ficam à retaguarda para ocuparem os lugares onde vierem a ser necessárias. É ainda o nome dado ao conjunto de vasos de guerra destinados a irem em auxílio de outros. Reserva pode ainda referir um militar que substitui outro que esteja impossibilitado de prestar serviço.  

2. O comportamento do adjetivo esbulhado está dependente dos argumentos selecionados pelo verbo esbulhar, tal como se explica nesta resposta que integra a atualização do Consultório. Neste espaço, analisam-se também as diferenças entre os termos profanação e desconsagração aplicados à situação de alteração de funções de uma igreja. Da variante brasileira do português, chega-nos a construção «deixa eu ver» cuja adequação se analisa. Por fim, consideram-se os argumentos do verbo matar e a construção proverbial «Quem com ferro mata com ferros morre». 

3. A evolução da pronúncia da rainha Isabel II deu lugar a um estudo de fonética e processamento da fala que comprova que, ao longo da vida, a voz e o sotaque mudam. Este último sofre influências de um conjunto de mudanças sociais, culturais e tecnológicas a que o falante está sujeito. Estas são algumas das conclusões aplicadas à língua inglesa que resultam da investigação desenvolvida a partir de 35 transmissões que a rainha fez entre os 26 e os 91 anos (artigo traduzido, disponível na rubrica Diversidades).

4.  A presença do latim na língua portuguesa fica patente em inúmeras situações. Uma delas consiste no uso de expressões latinas que mantêm a sua vitalidade até aos dias de hoje, o que acontece, por exemplo, com a priori ou mea culpa. Este é o assunto de base deste pequeno apontamento (aqui transcrito com a devida vênia).

5. Entre acontecimentos culturais de relevo, realçamos:

– O Festival Literário Internacional de Óbidos – Fólio 2022, dedicado ao tema do poder, que decorrerá de 6 a 16 de outubro em Óbidos (programa); 

– A 20.ª edição do DocLisboa, festival internacional de cinema, com o tema "A questão colonial", com um ciclo de cinema associado ao passado colonial de França e Portugal, entre 6 e 16 de outubro (programa). 

6.  Nos programas da rádio pública portuguesa, destacamos

- Língua de Todos, da Antena 2, que convida a professora Lúcia Vaz Pedro para falar sobre “O curso de Português Académico” que ministrou para os estudantes provenientes dos PALOP e que frequentam o ISCTE (sexta-feira, dia 23 de setembro, pelas 13h20*, com repetição no sábado, 24 de setembro, depois do noticiário das 09h00*);

- Páginas de Português, da Antena 2, dedicado ao Dia Europeu das Línguas, que se celebra a 26 de setembro, convida dois tradutores/intérpretes do Parlamento EuropeuFrancisco FalcãoAnabela Frade; na sua crónica habitual, a professora universitária Edleise Mendes tratará o tema Língua e Poder (domingo, dia 25 de setembro, pelas 12h30*, repetido no sábado, 1 de outubro, às 15h30*).

 

*Hora oficial de Portugal continental

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1. A 21.ª Semana Europeia da Mobilidade 2022 subordina-se este ano ao tema «Melhores Ligações». Em Portugal, vários são os municípios que aderiram à iniciativa, desenvolvendo diferente medidas que têm em vista promover e testar soluções de mobilidade limpa e sustentável, uma opção cada vez mais imperiosa face às alterações climáticas a que a humanidade está a assistir. Notamos, porém, que a divulgação das atividades deixa a nu o recurso sistemático à língua inglesa: pode-se experimentar uma "cargobike", fazer um "checkup" à bicicleta, conhecer soluções de "carpooling" e há "ecolaps" solidárias. Para todas estas designações é possível encontrar uma solução em português: bicicleta de carga, exame completo, viagens partilhadas, produtos feitos de materiais reciclados, respetivamente. O recurso à língua inglesa é uma opção que continua a exigir um olhar atento e uma posição firme que se oriente na defesa da língua portuguesa. 

2. A constatação de que na variante de português do Brasil se recorre à palavra bem em contextos em que se usaria muito dá matéria para a primeira resposta da nova atualização do Consultório. A ela vêm juntar-se duas questões de regência verbal («ficar em» e «logar-se em/a»), uma relacionada com a ordem dos constituintes quando se usa o adjetivo último e outras duas relacionadas com toponímia (a origem e significado de Carapinha e a tradução de Norcia, pequena localidade italiana). 

3.  O falecimento da rainha Isabel II trouxe para a atualidade linguística a palavra exéquias, cuja origem, pronúncia e significados se exploram na crónica da professora Carla Marques (divulgada no programa Página de Português, da Antena 2 e aqui transcrita). 

4. A professora universitária e linguista Edleise Mendes reflete sobre a proximidade entre as língua portuguesa e espanhola, duas línguas com quase 850 milhões de falantes, numa crónica que destaca todo o potencial que estas línguas, "irmãs históricas", encerram (texto elaborado para o programa Página de Português, da Antena 2, que aqui se transcreve). 

5. Um registo final para esta noticia no mínimo surpreendente: Erros de português tramam juiz de Leiria

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1. Em Portugal, como noutros países, o mês de setembro é marcado pelo retomar de muitas atividades, e o arranque do novo ano letivo é tema obrigatório. Mas o mundo nunca para de alimentar notícias: acumulam-se tensões políticas nacionais e internacionais, a guerra na Ucrânia não cessa, os problemas ambientais também não. Entretanto, a pandemia de covid-19 parece prestes a tornar-se uma página da História, sem deixar de estar presente na atualidade, como se ilustra no glossário Covid-19 na língua, que recebe três novas entradas: Emer Cooke, diretora executiva da Agência Europeia do Medicamento (EMA) e, paradoxalmente, antiga lobista da indústria farmacêutica; a expressão «fim à vista», relativa às declarações, em 14/09/2022, de Tedros Ghebreyesus, diretor da Organização Mundial de Saúde, sobre a diminuição do número de mortes causadas pela doença; e «imunidade, 95,8%», em referência ao facto de a maior parte da população residente em Portugal já ter anticorpos, segundo um relatório datado de 15/09/2022, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).

Do ponto de vista etimológico, a palavra imunidade vem do latim immunìtas, atis, «isenção (de impostos, de encargos), dispensa, desobrigação, imunidade» (Dicionário Houaiss). Em português, como noutras línguas, denota frequentemente o «privilégio de estar isento de algo (dever, encargo, pena) a que os outros estão sujeitos» e é sinónimo de isenção e dispensa (dicionário de língua portuguesa da Infopédia). Por extensão semântica, tornou-se termo da área da biologia, usado no sentido de «invulnerabilidade natural ou adquirida dos organismos vivos aos efeitos de determinados agentes patogénicos ou substâncias estranhas» (ibidem). Quanto à expressão imunidade de grupo, consulte-se a rubrica aqui referida. Na imagem, um quadro de Francis Smith (Lisboa, 1881-Paris, 1961).

2. O que é correto: «convidar a escrever um livro», ou «convidar para escrever um livro»? A resposta encontra-se no Consultório, onde se disponibilizam mais sete respostas às seguintes perguntas: quando se faz maionese e ela talha, diz-se que deslassou ou deslaçou? Como se classifica a oração «sem se ver»? Na frase «começa cedo a criaturinha» falta uma vírgula ou não? Como usar sem errar a expressão «após o que»? No Brasil, azarar só significa «dar azar»? A palavra heládico tem algum sinónimo? E o que quererá dizer o provérbio «se não fora o Pindo e a Panadeira, todas as velhas iam à Ribeira»?

3. Sobre o Serviço Nacional de Saúde português e o seu funcionamento com um novo estatuto, a comunicação social referiu-se algumas vezes à figura que o vai gerir, Fernando Araújo, como sendo o novo CEO, sigla da expressão inglesa chief executive officer. A respeito deste anglicismo repetido e escusado, leia-se o comentário de José Mário Costa no Pelourinho.

4. O português de Angola suscita cada vez mais interesse entre linguistas e especialistas em planeamento linguístico. Na Montra de Livros, apresenta-se Da Fonologia à Lexicografia. Elementos para uma Gramática do Português de Angola, uma obra publicada pelas edições Húmus, com a coordenação do professor universitário Paulo Osório, que reúne um conjunto de estudos como primeiro passo para a construção de uma gramática para a variante angolana do português.

5. Quanto aos temas de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa:

♦ o curso de formação de professores de Português dos países africanos de língua oficial portuguesa e de Timor-Leste que a Universidade Federal da Bahia (UFB) está a levar a cabo, com o apoio do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), em Língua de Todos, na RDP África (sexta-feira, 16/09/2022,13h20*);

♦ o curso de Português Pluricêntrico, também organizado pela UFB e patrocinado pelo IILP, em associação com o Ministério das Relações Exteriores do Brasil e o Observatório de Português Língua Estrangeira/Segunda Língua, em Páginas de Português, na Antena 2 (domingo, 18/09/2022, 12h30*), programa que conta ainda com a participação da professora Carla Marques, com uma crónica sobre a palavra exéquias, em alusão às cerimónias fúnebres de Isabel II;

♦ e, em Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido pela Antena 2 de segunda a sexta (às 09h50* e às 18h50*), Maria Regina Rocha explica o que é uma metáfora e fala da sua importância na política, no discurso amoroso, na literatura e na linguagem corrente.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O Ciberdúvidas retoma a sua atividade normal, fazendo coincidir a sua agenda com o calendário escolar português. Ao longo do novo ano letivo, continuaremos a tomar a língua portuguesa como a nossa missão dominante, desenvolvida por meio das respostas do Consultório, das diferentes rubricas de Na 1.ª Pessoa, Atualidades, Outros ou A covid-19 na Língua. Semanalmente, regressaremos igualmente à elaboração do boletim com a compilação dos textos divulgados no portal, tendo lugar o primeiro envio já no dia 16 de setembro. 

    Setembro é o mês que marca a retoma de muitas atividades, das escolares, às políticas ou judiciais e até literárias. Para todas estas situações, o galicismos rentrée continua a ser convocado, o que motiva o regresso a algumas reflexões já aqui divulgadas, relacionadas com a possibilidade de aportuguesamento de empréstimos lexicais: «O galicismo rentrée», «À volta da cassete e dos empréstimos», «O galicismo buffet (II)», «O galicismo "naïf"» ou «Aportuguesamentos de lingerie».

    Recordamos também que, ao longo dos meses de julho e de agosto e até à presente data, fomos divulgando diversos textos, que aqui deixamos registados, de acordo com as rubricas que integraram: Montra de Livros: Ditos e Ditotes Populares da Beira Baixa, Os Nomes Portugueses de Aves de Todo o Mundo e Mil e tal Nomes Próprios; O Nosso Idioma: Da importância de verbalizar o pensamento, Engavelaram-se no galaio por uma barranha. Marafados!, E o Brasil criou uma língua. Também é português, Quando não há palavras e Colonialismo e língua portuguesa»; Lusofonias: Unidade e diversidade: a aventura linguística do portuguêsDiversidades: Dos povos indígenas, Das línguas indígenas, A varíola linguística, A Índia, um caleidoscópio linguístico,  e A comunidade himba»; Pelourinho: «Três disparates técnicos»; Controvérsias: «Sim, é verdade: Portugal não descobriu o Brasil»; Correio: «O “Portinglês” do ministro da Cultura». Na rubrica A covid-19 na Língua, regista-se a entrada e «Médicos do mundo» e «People's Vaccine Alliance». 

[Primeira imagem: escultura "Futuro", de Ricardo Romero, 2021.] 

2. A reabertura do Consultório traz a resposta a várias dúvidas relacionadas com diferentes domínios da língua portuguesa. Entre elas, encontra-se a justificação para a preferência pela grafia ç (ou c) em palavras de origem indígena, no Brasil. Formulam-se também algumas hipóteses para a  formação do apelido Rosão. Outras respostas abordam os seguintes temas: a vírgula e o sujeito posposto, a preposição de seguida de oração de infinitivo, a concordância em «As testemunhas são cristãos verdadeiros». Por fim, já no domínio da literatura, deixam-se algumas pistas para a leitura do Auto da Lusitânia, de Gil Vicente

3. Na Montra de Livros, fala-se da revista Caderno Seminal Digital, dedicada ao tema «[O] Português: Língua de muitas pátrias». Entre os textos aí reunidos, destacamos a entrevista à professora e linguista Margarita Correia, na qual aborda temas como a CPLP, o ensino do português e o português como língua de ciência. Referência anterior aqui, também. 

4. O linguista brasileiro Aldo Bizzocchi dedica a sua crónica à questão da redundância, mostrando que este recurso linguístico nem sempre constitui um vício de linguagem, ao contrário do que defendem algumas perspetivas mais puristas (texto divulgado no blogue do autor transcrito com a devida vénia).

5. Fica disponivel, igualmente, a crónica da professora universitária Edleise Mendes dedicada ao português falado nas ruas do Brasil, onde se descobre a vitalidade de uma língua sem amarras, cheia de poesia e de inesperados (divulgada no programa da Antena 2, Páginas de Português). 

6. As comemorações bicentenário da independência do Brasil são o tema da crónica o jornalista Ferreira Fernandes, intitulada Brasil, quero mais 200 anos de ti..., transcrita, com a devida vénia, o jornal digital Mensagem de Lisboa

7. Faleceu o professor universitário Vítor Aguiar e Silva, aos 82 anos, reputado especialista da obra de Camões e da teoria da literatura. Ao longo da sua carreira académica, foi galardoado com vários prémios, entre os quais se destaca o reputado Prémio Camões, atribuído em 2020. 

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Depois da pausa estival, o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa retoma as atualizações regulares em 13 de setembro, bissemanalmente – às terças e sextas –, num regresso que coincide, assim, com o começo do ano letivo em Portugal.

Lembramos que o trabalho aqui desenvolvido se destina a quantos se interessam por temas da língua portuguesa e querem saber mais sobre como utilizá-la adequadamente, privilegiando, como sempre, as suas modalidades cultas, sem ignorar os muitos aspetos culturais que a diversificam e enriquecem nos quatro cantos do mundo.

A todos, sem esquecer o público escolar e os muitos profissionais de outras áreas que nos consultam, é destinada a atividade que aqui se desenrola há 25 anos, desde 15 de janeiro de 1997. O quarto de século já decorrido encontra-se documentado no extenso arquivo que disponibiliza permanentemente os milhares de respostas do Consultório e os não menos numerosos artigos de rubricas como O nosso idioma, Lusofonia, Ensino, Pelourinho ou Antologia.  Trata-se de um repositório sobre as regras e os usos da nossa língua comum, que muito deve à atenção constante dos consulentes e às suas palavras de apreço e motivação.

É, portanto, com grande satisfação que preparamos um novo ciclo de respostas a dúvidas, bem como a publicação de textos à volta da atualidade da língua portuguesa, onde quer que ela se fale ou escreva.

Até muito em breve.

Na imagem, "Conversa interrompida", de António Ole (Luanda, 1951). Fonte da imagem: Sotheby's.

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Nos meses de julho e agosto, período das férias escolares em Portugal, também no Ciberdúvidas é tempo para fazer balanços, projetos e uma pausa nas atualizações regulares.

O envio de questões ao Consultório fica, portanto, desativado, mas, como é hábito e sempre que se justifique pelo seu interesse, assinala-se nos Destaques, em baixo, e nas páginas do Ciberdúvidas no Facebook e no Instagram  a entrada de novos conteúdos nas demais rubricasO nosso idioma, Pelourinho, Ensino, Controvérsias, Diversidades, Antologia e Montra de Livros, entre outras.

Além disso, o acervo do Ciberdúvidas, que chega a cerca de 49 000 textos, mantém-se disponível para consulta em todas as suas rubricas, desde as respostas aos artigos dedicados a variadíssimos tópicos relacionados com o português na sua unidade e diversidade.

Para assuntos fora do âmbito da língua, podem utilizar-se os contactos indicados nestas páginas.

Finalmente, em 2022, ano em que o Ciberdúvidas completa 25 anos de atividade, fica expresso um enorme agradecimento a quantos, tantas vezes com palavras de apoio e estímulo, procuram este espaço de divulgação, esclarecimento e debate de temas da língua portuguesa onde quer que ela se fale e escreva. A todos é dedicado o poema que se segue, de Ana Luísa Amaral*:

 

Uma botânica da paz: visitação

Tenho uma flor
de que não sei o nome 

Na varanda,
em perfume comum
de outros aromas:
hibisco, uma roseira,
um pé de lúcia-lima

Mas esses são prodígios
para outra manhã:
é que esta flor
gerou folhas de verde
assombramento,
minúsculas e leves

Não a ameaçam bombas
nem românticos ventos,
nem mísseis, ou tornados,
nem ela sabe, embora esteja perto,
do sal em desavesso
que o mar traz

E o céu azul de Outono
a fingir Verão
é, para ela, bênção,
como a pequena água
que lhe dou

Deve ser isto
uma espécie da paz:

um segredo botânico
de luz

 

 * Fonte: Lyrik-Line. Listen to the poet (27/06/2022). Áudio disponível aqui. Mantém-se a ortografia de 1945, adotada pelo original. Na imagem, Flores, de Aurélia de Sousa (1866-1922).

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1.guerra na Ucrânia prossegue, as sanções à Rússia também e geram-se mais focos de tensão, um deles devido ao bloqueio da circulação ferroviária para a cidade russa de Kaliningrad (em cirílico, Калининград), cujo território* fica situado entre o Báltico, a Polónia e a Lituânia. O referido topónimo, que pode aportuguesar-se inteiramente como Caliningrado ou Calininegrado, só surgiu após a Segunda Guerra Mundial, quando a União Soviética anexou parte da Prússia Oriental, até então região da Alemanha. Nesta cidade – em alemão Königsberg, literalmente «castelo, fortaleza do rei» (aportuguesamento Conisberga) –, nasceu e viveu o conhecido filósofo Immanuel Kant (1724-1804), autor de uma monumental obra filosófica, que inclui um livro bem atual: A Paz Perpétua (Zum Ewigen Frieden, 1795), com propostas para a paz política e económica entre as nações**. Quanto ao nome russo, foi este criado há perto de 80 anos, como topónimo laudatório, em homenagem do líder revolucionário Mikhail Kalinin (1875-1946). É formado pelo apelido Kalinin (em russo, Калинин) e o elemento -grad, (-град) forma sufixal de gorod, «cidade, vila», do protoeslavo *gõrdъ ou *gȏrdъ, «castelo, fortificação, cidade», que figura noutros topónimos russos como Volgograd/Volgogrado e o antigo Leningrad/Leninegrado, hoje  Sampetersburgo (ou São Petersburgo). O radical eslavo conta vários cognatos noutras línguas eslavas, como Belgrado (em sérvio, Beograd) bem ilustra.

* Pode falar-se de enclave ou de exclave relativamente a este território. Cf. "Depende do ponto de vista", do blogue Linguagista (27/10/2018), de Helder Guégués, e exclave no dicionário da Infopédia (24/06/2022).

** Na imagem, o túmulo de Kant em Caliningrado (fonte: "Immanuel Kant", Wikipédia, 22/06/2022).

2. O coronavírus ainda marca presença na atualidade, e a rubrica "A covid-19 e a língua" dá conta disso com duas novas entradas: Vietname, em referência à atenuação das medidas fortemente restritivas que este país adotou; e «violência juvenil», referente ao alerta lançado por um trabalho emitido na CNN Portugal (21 /06/2022) que revelou um fenómeno preocupante em Portugal, o da organização de grupos de adolescentes nas redes sociais com o único objetivo de agredirem colegas ou rivais.

3. Um terramoto, com uma magnitude de 5,9 na escala de Richter, registado na madrugada do dia 22/06/2022, causou mais de 1000 mortos e mais de 1500 feridos, com centenas de casas totalmente destruídas, na província de Paktik (no sudeste do país, na fronteira com o Paquistão). O reportório vocabular e fraseológico "O Afeganistão de A a Z" regista a catástrofe com uma nova entrada, terramoto.

4. Se o verbo conviver exibe o prefixo con-, sinónimo da preposição com, não será redundante a expressão «conviver com»? A resposta está no Consultório, onde também são esclarecidos outros tópicos, num total de seis: «contar com que» vs. «contar que»; o plural de religião; os acentos tónicos de taquicardia e ambrósia; a função do adjetivo numa frase; e a expressão «não sabia».

5Umberto Eco (1932-2016) foi uma figura maior da cultura europeia que abordou grandes temas ocidentais como seja o da língua perfeita, mote de uma das suas obras, A Procura da Língua Perfeita. Na Montra de Livros, assinala-se a reedição da tradução em português deste grande e estimulante livro de Eco.

6. Do muito que se publica a propósito da língua portuguesa nos jornais de Portugal, transcrevem-se com a devida vénia dois artigos em O Nosso Idioma, transcrevem-se com a devida vénia dois artigos: uma crónica do escritor Miguel Esteves Cardoso (Público, 22/06/2022), na sequência de uma outra, ainda à volta das muitas respostas possíveis a um agradecimento; e um texto da linguista Margarita Correia (Diário de Notícias, 20/06/2022), sobre a formação dos nomes científicos das doenças, das denominações populares das mesmas e o anglicismo Monkeypox, que tem toda a vantagem em ser substituído pela expressão «varíola dos macacos». Na rubrica sobre o Acordo Ortográfico, deixa-se transcrito um apontamento critico do constitucionalista Vital Moreira à decisão da Ordem de Advogados portugueses de não aplicação da norma ortográfica oficialmente em vigor no país desde 2015.

7. Entre os programas que, na rádio pública de Portugal, abordam temas da língua portuguesa, relevo para:

Língua de Todos, na RDP África (sexta-feira, 24/06/2022, 13h20*), que tem por tema a diversidade linguística em Moçambique;

Páginas de Português, na Antena 2 (domingo, 26/06/2022, 12h30*), que se centra nas provas finais escolares que têm lugar em Portugal, com atenção especial para o exame nacional de Português do 12.º ano e as provas de fim do 3.º ciclo, além de incluir uma crónica sobre as formas parónimas impasse e empasse.

Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido pela Antena 2 de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.

* Hora oficial de Portugal continental, ficando depois ambos os programas disponíveis aqui e aqui.

8. Em Portugal, festejam-se os Santos Populares, adentra-se o verão e chega ao fim mais um ano letivo. No Ciberdúvidas, é tempo para balanços e projetos, bem como para uma pausa nas atualizações regulares, que regressam em setembro. O acesso ao Consultório fica, portanto, desativado, mas, para assuntos que não versem sobre gramática e outros temas da língua, podem os consulentes utilizar os contactos indicados nestas páginas. Como sempre, nas demais rubricas, não se deixará de divulgar material que aguardava publicação ou que, proveniente da comunicação social ou de outras fontes, revele pertinência como contributo para o conhecimento e a reflexão acerca da língua portuguesa onde quer que ela se fale e escreva. Até breve.