1. O Mundial de 2022 arrancou a 20 de novembro e prolonga-se até 18 de dezembro, envolvendo 32 equipas que disputam o troféu de campeão da competição futebolística. No entanto, o esplendor e a glória do chamado desporto-rei têm sido em muito ofuscados pelos casos relacionados não só com os milhares de mortos resultantes dos trabalhos de construção das infraestruturas do evento, mas também pelas opções políticas que caracterizam o regime do emirado organizador da competição: desde a pena de prisão para homossexuais, à repressão das mulheres sem esquecer a falta de direitos dos trabalhadores migrantes (ver aqui e aqui). No plano linguístico, as constantes referências ao local de realização do torneio justificam que se recorde que, em português, Catar se deve grafar preferencialmente com letra c em maiúscula inicial, por ser forma mais concordante com a grafia portuguesa, e que os gentílicos associados serão catarense ou catariano (a forma catari, adaptação do inglês qatari, também já se encontra dicionarizada). Recorde-se ainda que o fenómeno de aportuguesamento das palavras de origem estrangeira procura habitualmente respeitar as regras ortográficas da língua. Por esta razão, para se referir a capital do Catar, a forma mais ajustada ao português será Doa (preferível a Doha). Também não deixa de ser verdade que, no que se refere à toponímia, na falta de um organismo que regule a adaptação dos nomes ao português, tem sido a necessidade da sua referência em português que tem conduzido à estabilização de uma forma. Foi isso que aconteceu, por exemplo, com Chernobil (adaptação de Tchornobil') e será esse fenónemo que ainda não gerou uma tradição de uso em termos que só recentemente começaram a ser usados no português, como acontece com a forma Zaporíjia (adaptação de Zaporijjia), cujo uso se pode aconselhar, por ser mais próximo da grafia portuguesa, mas que regista variantes escritas como Zaporijjia ou Zaporizhzhia.
A propósito destas questões, recordamos o registo de sugestões para outros topónimos da Ucrânia (aqui) e as respostas «Catar, equivalente português de Qatar», «Ainda sobre o topónimo Qatar» ou «A grafia de algumas cidades asiáticas».
2. A questão do recurso à língua inglesa para designar realidades portuguesas volta a motivar um texto para a rubrica Pelourinho. Desta feita, o jornalista José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, aponta o exemplo de Housing First, nome dado a um projeto desenvolvido em Portugal e destinado a pessoas sem-abrigo.
3. O significado do uso particular da vírgula e do ponto em muitos textos de José Saramago deu mote ao apontamento da professora Carla Marques, no programa Páginas de Português da Antena 2. O texto encontra-se disponível em O nosso idioma.
4. Os gentílicos estrangeiros, quando ouvidos por falantes de outras línguas, podem assumir formas deturpadas que ganham novos sentidos no processo de evolução da língua. Este processo de formação e evolução parece ter ocorrido com o nome briche, do qual terão derivado as formas brincheiro, bricheiro e talvez Brinches. Esta é uma explicação que integra a atualização do Consultório, onde se encontram ainda as respostas «Dêixis e o verbo saltar», «Dizimista e dizimador», «Formação e uso de compactuação», «Fazer uma pergunta» e «colocar uma questão», «A expressão "nacionalidade estrangeira"», «Corrigido (particípio passado) vs. correto (adjetivo)».
5. O Portugués Esquecido, de Xosé M. Sánchez Rei, é a nova obra apresentada na Montra de Livros. Trata-se de uma publicação que versa a questão da unidade linguística presente em muitos traços dos dialetos setentrionais portugueses e dos dialetos galegos.
6. A professora universitária e linguista Margarita Correia apresenta um balanço da presença da língua portuguesa na Internet. Com base numa perspetiva comparativa, analisa a posição do português entre as línguas usadas na Internet e identifica os conteúdos mais procurados em língua portuguesa (a partir do estudo associado ao projeto Presença da Língua Portuguesa na Internet). Num espaço em constante evolução e mutação, o português tem ainda muito que crescer no sentido da sua afirmação no espaço virtual. Texto transcrito, com a devida vénia, em O nosso idioma.
7. O ISCTE promove a 7 de dezembro de 2022, o Encontro Nacional Universidades: Chave para o Futuro, para assinalar a fundação do ensino superior contemporâneo em Portugal e debater os desafios para o futuro da ciência no Ensino Superior (cf. notícia).