O pretérito perfeito do indicativo é usado para localizar temporalmente uma situação anterior ao momento da enunciação, ao passo que o pretérito mais-que-perfeito simples do indicativo localiza uma situação no passado relativamente a outra situação também passada1.
Na frase «O pintor pintou um belo quadro», a situação descrita já aconteceu e encontra-se concluída no momento presente. Já o pretérito mais-que-perfeito simples é pouco comum na língua falada, surgindo mais na linguagem escrita, e usa-se para descrever situações que ocorrem antes de outras já passadas ou para descrever situações vagamente situadas no passado. Assim, na frase «O pintor pintara um belo quadro» pressupõe-se que a situação descrita foi concluída antes de uma outra (que não é referida na frase, mas pode ocorrer noutras frases do mesmo contexto).
Usualmente, o pretérito mais-que-perfeito simples ocorre em frases em que a situação precedida pela descrita pelo verbo neste tempo é tomada como tempo de referência, podendo ser dada de forma explícita, como acontece em (1), ou implícita, como se verifica em (2).
(1) O João afirmou que a Maria cantara muito bem.
(2) Dias antes, a Rita pedira desculpas.
Em (1) o ato de cantar precede temporalmente a afirmação do João, e em (2) o adjunto temporal «dias antes» aponta para um complemento implícito que alude ao tempo de referência.
Resta ainda assinalar que o pretérito mais-que-perfeito simples é equivalente ao pretérito mais-que-perfeito composto (usado com mais frequência e na linguagem corrente), por isso, em vez de «O pintor pintara um belo quadro» é possível «O pintor tinha pintado um belo quadro», visto que os dois tempos concorrem com o mesmo valor temporal.
1 «[O] pretérito perfeito apresenta as situações como estando localizadas temporalmente no passado em relação ao tempo da enunciação (estando, portanto, terminadas), pelo que veicula essencialmente informação temporal» – Oliveira, Fátima (2013), Tempo Verbal. In Raposo et al. (2013). Gramática do Português. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 514-524.