Na pronúncia padrão de Portugal, observa-se que o -s que termina uma palavra soa /z/ quando seguido de vogal que começa nova palavra:
(1) «os aviões» = /uzaviõich/ (numa pronúncia figurada)
Note-se que esse -s soa /j/ antes de consoante sonora em princípio de palavra:
(2) «os gatos» = /ujgatuch/
Finalmente, o mesmo -s final pronuncia-se "ch" (consoante surda) antes de consoante surda (sons como os das letras p, t, k, f) ou de pausa:
(3) «os cavalos» = /uchkavaluch/
(4) «cavalos» = /kavaluch/
É possível que a pronúncia descrita em (1) tenha que ver com os tempos em que o -s final não era chiado, tal como geralmente ocorre hoje, por exemplo, no português de S. Paulo, no Brasil, e noutras regiões deste país.1
Contudo, nem todos os falantes de Portugal, em diferentes territórios, têm seguido as regras ilustradas pelos exemplos (1), (2) e (3), e sabe-se que em diferentes regiões, de norte a sul, há muitas pessoas que pronunciam esse -s final como /j/ quando é seguido de vogal:
(5) /ujaviõich/
O que ocorre em (5) é a neutralização do contraste entre as pronúncia indicadas em (2) e (3), fazendo-as convergir num único som – /j/. Por outras palavras, trata-se de uma simplificação, que atualmente tem sido detetada mesmo em lugares e meios sociais onde não era habitual.2
Seja como for, pode afirmar-se que, em Portugal, continua a considerar-se que a boa pronúncia é pronunciar -s como /z/ antes de vogal – e é assim que se ensina a língua a estrangeiros.
1 Ver Paul Teyssier, Manual de Língua Portuguesa (Portugal-Brasil), Coimbra Editora, 1989, pp. 44-46.
2 «Alguns falantes, sobretudo os mais jovens, utilizam o alofone [ʒ], em vez de [z], antes de vogal: os amigos [uʒɐmíguʃ] – contrariamente à pronúncia mais cuidada do segmento fricativo /S/ típico da variedade culta: os amigos [uzɐmiguʃ] [...]» (Gramática do Português, Fundação Calouste Gulbenkian, 2013-2020, p. 3357). Os símbolos fonéticos [ʒ] e [ʃ] correspondem ao j de janela e ao ch de achar (ou ao x de baixo), respetivamente.