♦ A festa de São Martinho – «o São Martinho» –, em 11 de novembro, tem raízes profundas em Portugal. De norte a sul, as castanhas assadas mais o vinho novo ou a água-pé são a essência dos magustos, que ainda reúnem amigos e familiares para cumprir um ritual de tempos medievais, se não mesmo mais recuados. Entre lendas, distingue-se a figura histórica de Martinho de Tours (316-397), que, nascido em terras hoje húngaras, na antiga Panónia, se notabilizou como evangelizador da Gália, ou seja, a França dos nossos dias (mais pormenores sobre a origem da festa aqui e aqui). Retomemos, pois, alguns artigos e respostas em arquivo, direta ou indiretamente alusivos a um santo que, do meio da Europa, também ganhou a devoção das terras onde o português se criou*: "Barbela + capela + canela + caneta + ruela + tabela + viela+ oratório, etc.", "Castanha", "Água-pé", "A propósito de jeropiga", "Jeropiga, de novo", "Magusto".
* Em Portugal, vários topónimos correspondem à invocação de S. Martinho, embora alguns casos se refiram não ao bispo de Tours, mas, sim, a S. Martinho de Dume (518/25-579), igualmente nascido na antiga Panónia, só que radicado na região de Braga, capital da Galécia. Este foi bispo da diocese bracarense e interveio na conversão dos Suevos, povo germânico que dominou essa antiga província romana durante os séculos V e VI. Dume é atualmente uma freguesia do concelho de Braga.
♦ Do mesmo modo, vários são os provérbios que marcam estes dias de outono em Portugal: além do conhecidíssimo «no dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho», diz-se «dia de São Martinho, fura o teu pipinho», «dia de São Martinho, lume, castanhas e vinho», «pelo São Martinho, todo o mosto é bom vinho», «por São Martinho, semeia fava e linho», «se o inverno não erra caminho, tê-lo-ei pelo São Martinho», etc. (M.ª Alice Moreira dos Santos, Dicionário de Provérbios. Adágios, Ditados, Máximas, Aforismos e Frases Feitas, Porto Editora, 2000). Para rematar, uma adivinha que não terá grande mistério (há mais aqui):
Tenho camisa e casaco
Sem remendo nem buraco.
Estoiro como um foguete
Se alguém no lume me mete.**
** A castanha.
♦ O latim soube resistir aos tempos, também se cristalizando em palavras e locuções no discurso especializado de várias línguas de origem europeia, que assim criaram ou reforçaram afinidades. É o que evidencia o uso da palavra qua, no sentido de «na qualidade de», transmitido ao português provavelmente por via inglesa, conforme propõe uma nova resposta do consultório. Outras questões: como analisar o vocábulo filósofo? O que é um debrum? E que significa «deve andar aqui matrafia»?
♦ São temas dos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa:
– No Língua de Todos de sexta-feira, 11 de novembro (às 13h15***, na RDP África; com repetição no sábado, 12 de novembro, depois do noticiário das 9h00***), a professora Cristina Maria Flores fala sobre Português Língua não Materna: Investigação e Ensino, livro que coordenou com Maria Alfredo Moreira e Rosa Bizarro.
– O Páginas de Português de domingo, 13 de novembro, na Antena 2 (às 12h30***, com repetição no sábado seguinte, às 15h30***), entrevista Filipa Soares, a propósito das VIII Jornadas de Atualização de Docentes de Português, uma iniciativa do Centro Cultural Camões em Vigo e da Associação de Docentes de Português na Galiza, que decorre em 11 e 12 de novembro p. f., na Casa de Arines, em Vigo.
*** Hora oficial de Portugal continental.
♦ Próxima atualização do Ciberdúvidas: na segunda-feira, dia 14/11.