« (...) [Figura] tutelar e seguramente a maior entre os linguistas portugueses, conhecida também fora da esfera académica, pela intervenção social, a luta em favor de valores humanos e democráticos e na defesa e promoção dos direitos das mulheres. (...)»
No próximo dia 26 de outubro, pelas 18 horas, será inaugurada a Exposição de Homenagem à Professora Doutora Maria Helena Mira Mateus, no átrio principal da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), com entrada livre, para homenagear esta notável docente e investigadora, e rememorar a sua vida e obra.
Maria Helena Mateus (MHM) foi docente da FLUL desde 1965 até à sua jubilação, em 2002. Colaborou na configuração da Faculdade como instituição de ensino superior moderna e democrática, graças à sua inteligência, espírito de iniciativa, capacidade de execução e ao seu indelével e contagiante otimismo. Durante a sua carreira docente, MHM desempenhou os cargos de presidente do Conselho Pedagógico (1979-1981) e presidente do Conselho Diretivo da FLUL (1983-1985), Vice-Reitora (1986-1989) e membro da Comissão Científica do Senado da Universidade de Lisboa (1992-1994 e 1997-2001). Enquanto presidente do Conselho Científico da FLUL (1997-2000), com Luísa Leal de Faria, criou as licenciaturas de Estudos Europeus e de Estudos Africanos, esta única em Portugal. No Departamento de Linguística Geral e Românica, criado em 1975, contribuiu para o desenvolvimento das ciências da linguagem, em particular com a criação da primeira licenciatura em Linguística do país, em 1987; participou na formação de muitos mestres e doutores em linguística, de estudiosos da língua portuguesa, e, não menos importante, de milhares de licenciados em Letras.
Com um grupo de notáveis linguistas portuguesas, MHM coordenou a primeira grande gramática portuguesa, moderna e de matriz inteiramente descritiva, a Gramática da Língua Portuguesa (Caminho), que conheceu, além da primeira (1983), cinco edições, a última das quais (2003), revista e muito aumentada, se encontra há muito esgotada e indisponível. Em 1987, criou (e dirigiu até 2012) o Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC), associação de universidades (destacando-se a de Lisboa) e instituições ligadas à investigação científica (Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, JNICT / Fundação para a Ciência e a Tecnologia, FCT).
O ILTEC acolheu o primeiro grande projeto europeu de linguística em Portugal, o EUROTRA-P, que desempenhou papel decisivo na formação de toda uma geração de linguistas e linguistas computacionais em Portugal, muitos ainda no ativo, cujo trabalho foi determinante na descrição e digitalização da língua portuguesa.
Em 2018, MHM publicou a sua autobiografia (Uma vida cheia de palavras, Colibri), a cuja elaboração dedicou o maior cuidado e atenção, deixando-nos a história de alguém que viveu longa e intensamente como poucos, com alegria, otimismo e sem ressentimentos, pois os seus interesses estendiam-se muito além da vida académica.
A inauguração da Exposição, aberta até 12 de novembro, que tomou como guião a autobiografia, coincide com o 38.º Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, de que MHM foi sócia fundadora e primeira presidente, em 1984. O evento reunirá na FLUL, de 26 a 28 de outubro, muitos linguistas da língua portuguesa, constituindo um momento de confraternização em torno da querida Maria Helena, figura tutelar e seguramente a maior entre os linguistas portugueses, conhecida também fora da esfera académica, pela intervenção social, a luta em favor de valores humanos e democráticos e na defesa e promoção dos direitos das mulheres.
Cf. Recordando Maria Helena Mira Mateus + Maria Helena Mira Mateus (1931-2020) + In memoriam de Maria Helena Mira Mateus + Até sempre, professora Maria Helena Mira Mateus! + Um livro de linguística, com pertinência social e cultural