«O provérbio tem uma forma simples, concisa, equilibrada. Qual balança de pratos iguais, ele tem o seu momento de avaliação, o seu antes e o seu depois, a causa e a consequência. [É] rico em observação. Ele alerta; ele corrige; ele escarnece; ele faz sorrir.»
(do prefácio de Sabedoria Popular, Provérbios e Alguns Ditos, II Série )
Resultado do imenso material que «teve de ficar na gaveta», quando da publicação da sua primeira edição – conta-se no prefácio desta II Série de Sabedoria Popular, Provérbios e Alguns Ditos¹, igualmente da responsabilidade da professora Fernanda Costa Franco –, são mais de 100 registos recolhidos, ao todo.
Apresentados de A a Z, muitos dos provérbios, ditos e regionalismos compilados nesta obra, ou caíram em desuso ou apresentam formulações menos correntes, o que só valoriza o trabalho empreendido pela autora. Por exemplo, estes 20, bem sugestivos: «Amigo velho vale mais que dinheiro», «Boca que se beijou nunca mal se desejou», «Coração que suspira não tem o que deseja», «Discípulo com cuidado e mestre bem pago», «É perdida a palavra que não é escrita», «Fome e frio metem a pessoa com seu inimigo», «Grande prazer não escusa o comer», «Homem atrevido dura como vaso de vidro», «Inchado como um peru», «Jamais faças coisa que não possas fazer diante de todos», «Língua ajuizada é sempre moderada», «Mais honra a alma do que a barba», «Não provês* o amigo em coisas de interesse», «Obras falam, palavras calam», «Pão de trigo tremês* não o comas nem o dês», «Quem manga* também morre», «Ruim a ovelha, a lã lhe peja*», «São mais as vozes que as nozes», «Tanto agraz * que se despraz *», «Um arrátel * de preguiça pesa por uma arroba*», «Ver amansamentos* é uma coisa que apraz*», «Zurra o burro, deitam-lhe o cabresto».
Mais conhecidos e outros nem tanto, nomeadamente os ditos populares que integram regionalismos – assinalados com asterisco, remetendo para um precioso vocabulário apresentado no fim do livro. São os casos transcritos em cima: provês (não favorecer: postos, cargos, lugares), tremês (que amadurece em três meses), manga (troça), peja (estorva), agraz (agravo), despraz ( desgosta, desagrada), arrátel (peso antigo correspondente a 459 g), arroba (peso arredondado hoje para 15 kg), amansamentos (ato o efeito de amansar) e apraz agrada, dá prazer).
Outras curiosas abonações menos correntes insertas nesta II Série de Sabedoria Popular, Provérbios e Alguns Ditos, infelizmente já só disponível em alfarrabistas e em bibliotecas públicas: agraz (agravo), balseira (terra lamacenta), crido (acreditado), detrai (difama), enfreia (pôr freio, enfrear), fusada (porção de fio fino enrolado no fuso), guarda-te (evita), hão (têm), inteireza (honestidade), juntura (articulação), licranço (raça perigosa de réptil), malvar (campo de malvas), nogal (plantio de nogueiras), ornejador (o que zurra), postema (ferida), rocim (cavalo fraco), saramago (erva daninha comestível), tancha (coloca), unguento (medicamento), verdizela (planta que nasce espontânea) e zoa (soa).
* Sob a chacela da já encerrada editora Campo das Letras, Lisboa, 2002. Dsponível apenas em alfarrabistas e em bibliotecas públicas.
Cf. O que o provérbio diz, sabe e ensina + Dicionário aberto de calão e expressões idiomáticas
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