Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
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Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Ultimamente tem-se ouvido «vamos repercutir isso, vamos repercutir aquilo».

Quem repercute é o fato ou é a pessoa que fala sobre ele?

Obrigado.

Resposta:

O verbo repercutir tem, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa (DLPACL), como aceções possíveis: i) «causar a reflexão ou repercussão de alguma coisa, som, imagem, objeto em movimento, após embate; enviar para nova direção» em frases como «As paredes repercutiam os sons»; ii) «ser, um som, uma imagem, um objeto em movimento, refletido ou reenviado para nova direção» em frases como «O eco repercutia nas montanhas»; iii) «ter, alguma coisa, projeção, influência, repercussão sobre ou em; afetar indiretamente» em frases como «A redução nos custos repercute sobre a qualidade da mercadoria produzida». Com isto, pode-se concluir que o verbo repercutir é usado frequentemente em áreas como a física e a economia, sendo o seu sujeito um constituinte com traços não animados.

Pesquisando no corpus do português, de Mark Davies, é possível verificar que o verbo repercutir tem praticamente sempre como seu sujeito um constituinte com traços não animados, como em (1), ou que descreve uma situação que resulta da ação de alguém como em (2):

(1)    «Estes estragos físicos ...

A  sinonímia do termo <i>obsoleto</i>

A sinonímia do adjetivo obsoleto é o tema do apontamento gramatical da consultora Inês Gama (divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2, em 10/11/2024).

Pergunta:

Numa apresentação pessoal, gostaria de saber se é correto dizer «chamo-me Jaime» ou o melhor é dizer «chamam-me Jaime».

Este último caso é uma tese defendida por alguns, alegando que, por exemplo, eu não me chamo, mas as pessoas é que me chamam, porque me deram o nome, não eu. Então, para eles não é correto dizer «chamo-me», mas sim o correto é "chamam-me"

Aguardo a resposta. Obrigado.

Resposta:

A frase «Chamo-me Jaime» está correta e é aceite pela maioria dos falantes num contexto de apresentação pessoal.

Quando o verbo surge flexionado na primeira pessoa do singular como em chamo-me, o falante indica que se está a referir a si próprio. Para além disso, de acordo com os dicionários de referência da língua portuguesa, o verbo chamar-se utiliza-se com a aceção «ter determinado nome». Portanto, dizer «chamo-me Jaime» é o mesmo que dizer «tenho como nome Jaime».

Já a expressão «Chamam-me Jaime» é estranho usá-la num contexto em que nos estamos a apresentar a nós próprios, mas não deixa de ser possível. Note-se que o uso da terceira pessoa do plural neste caso pode ter como interpretação que o nome verdadeiro de quem se está a falar não é Jaime, mas este é frequentemente referido por outros através deste nome, por exemplo, «O meu nome é António, mas chamam-me Jaime por causa do meu avô».

Pergunta:

Dizia-me, por favor, qual é a forma correta nas seguintes frases:

1. (Num autocarro para oferecer a alguém o meu lugar) Quer sentar? ou Quer sentar-se?

2. (Num restaurante para pedir a permissão) Posso sentar aqui? ou Posso sentar-me aqui?

Obrigado.

Resposta:

Em ambos os contextos, qualquer uma das frases apresentadas está correta e é possível ocorrer.

Em registos informais de língua oral e na língua escrita corrente pouco formal, é possível, em português, ocorrerem enunciados em que o pronome reflexo pode estar omitido, como ilustram os exemplos (1) e (2).

(1)    Quer sentar?

(2)    Posso sentar aqui?

Note-se, contudo, que estas estruturas são só aceitáveis quando o contexto discursivo assim o permite, como são os contextos referidos pelo consulente, num autocarro para oferecer a alguém o meu lugar ou num restaurante para pedir permissão.

Num registo formal, quer oral quer escrito, é preferível o uso de estruturas em que o pronome está realizado como, por exemplo, em (3) e (4).

(3)    Quer sentar-se?

(4)    Posso sentar-me aqui?

Nestes dois exemplos, os pronomes se e me são pronominais reflexos. O pronome reflexo (ou recíproco) pode desempenhar a função sintática do argumento interno exigida pelos verbos transitivos diretos (complemento direto) ou pelos verbos transitivos indiretos (complemento indireto). Em português, é aceite, em determinadas situações, omitir estes complementos. Neste sentido, pode-se considerar que o português é uma língua de objeto nulo.

Falsos amigos entre o português e o espanhol
Alguns dos exemplos mais famosos

Neste apontamento, a consultora Inês Gama aborda os falsos amigos entre o português e o espanhol.