Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
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Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Dizia-me, por favor, qual é a forma correta nas seguintes frases:

1. (Num autocarro para oferecer a alguém o meu lugar) Quer sentar? ou Quer sentar-se?

2. (Num restaurante para pedir a permissão) Posso sentar aqui? ou Posso sentar-me aqui?

Obrigado.

Resposta:

Em ambos os contextos, qualquer uma das frases apresentadas está correta e é possível ocorrer.

Em registos informais de língua oral e na língua escrita corrente pouco formal, é possível, em português, ocorrerem enunciados em que o pronome reflexo pode estar omitido, como ilustram os exemplos (1) e (2).

(1)    Quer sentar?

(2)    Posso sentar aqui?

Note-se, contudo, que estas estruturas são só aceitáveis quando o contexto discursivo assim o permite, como são os contextos referidos pelo consulente, num autocarro para oferecer a alguém o meu lugar ou num restaurante para pedir permissão.

Num registo formal, quer oral quer escrito, é preferível o uso de estruturas em que o pronome está realizado como, por exemplo, em (3) e (4).

(3)    Quer sentar-se?

(4)    Posso sentar-me aqui?

Nestes dois exemplos, os pronomes se e me são pronominais reflexos. O pronome reflexo (ou recíproco) pode desempenhar a função sintática do argumento interno exigida pelos verbos transitivos diretos (complemento direto) ou pelos verbos transitivos indiretos (complemento indireto). Em português, é aceite, em determinadas situações, omitir estes complementos. Neste sentido, pode-se considerar que o português é uma língua de objeto nulo.

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Pergunta:

Na frase «Os alunos, indignados e revoltados, protestaram junto da direção da escola», podemos aceitar que a expressão «da escola» desempenhe a função sintática de modificador restritivo do nome?

Obrigada pelo esclarecimento!

Resposta:

Neste caso, deve-se considerar que o constituinte «da escola» desempenha a função sintática de complemento do nome.

No contexto da frase apresentada pelo consulente, o nome direção constitui um nome deverbal, isto é, um nome que se relaciona morfológica e semanticamente com um verbo, que é o verbo dirigir no exemplo em causa.

Etimologicamente, direção é o resultado do latim directione-, nome derivado de direct-, um dos radicais do verbo dirigo. Do ponto de vista do atual funcionamento do português, aceita-se que direção mantém relação morfológica, semântica e sintática com o infinitivo dirigir, herdando deste o complemento direto («dirigir alguma coisa»), o qual se transpõe como complemento do nome: «direção de alguma coisa».

Para mais casos como este, consulte esta resposta:  "Complemento do nome vs. modificador: 'o edifício da empresa'".

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Pergunta:

É correto dizer que uma pessoa de idade avançada é senil?

Ou a senilidade tem de ser associada a perda de capacidades mentais ou físicas?

Obrigado.

Resposta:

A frase «uma pessoa de idade avançada é senil» está, do ponto de vista estritamente linguístico, correta.

O adjetivo senil, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa (DLPACL), tem como sentidos possíveis «que é provocado pela velhice; que é próprio da velhice» ou «que apresenta sinais de degenerescência, decrepitude ou senilidade». Neste sentido, a frase apresentada pelo consulente pode ser interpretada como referindo alguém que devido à sua idade avançada apresenta um estado físico e mental enfraquecido. Não obstante, a construção mais comum para descrever esta situação será a que inclui o verbo estar («uma pessoa de idade avançada está senil») que, aspetualmente, contribui para a descrição de um estado que se adquiriu e não permanente (valor veiculado pelo verbo ser).

Note-se que a frase em questão pode também ser entendida como uma generalização, isto é, que todas as pessoas de idade avançada são senis, atendendo exatamente ao valor aspetual de estado veiculado pelo verbo ser. No entanto, isto não corresponde exatamente à realidade, uma vez que nem todos aqueles que são velhos apresentam enfraquecimento das suas faculdades físicas e psíquicas.

Por outro lado, vários dicionários como, por exemplo, o próprio DLPACL e a Infopédia, registam que senil tem como sinónimo o adjetivo