Neste apontamento, a consultora Inês Gama faz um pequena reflexão sobre os sentidos dos nomes próprios Advento e Natal.
Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.
Gostaria de saber se, referente aos bens pessoais, a palavra pertences está correta. Já ouvi pertences e pertenças. Qual deles está certo? no exemplo:
(1) «Relaxadamente, os estagiários recolheram os seus pertences e saíram da unidade de ginecologia.»
(2) «Relaxadamente, os estagiários recolheram as suas pertenças e saíram da unidade de ginecologia.»
Essa palavra pode ser alusiva a todos os bens em concreto, como roupas, bagagens, etc.?
Obrigada!
No caso de se estar a referir a objetos pessoais, a frase correta será «Relaxadamente, os estagiários recolheram os seus pertences e saíram da unidade de ginecologia».
O nome pertences tem, segundo a grande maioria dos dicionários de língua portuguesa como, por exemplo, o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa (DLPACL), a aceção de «objetos pessoais», tendo como seu sinónimo o nome haveres. Neste sentido, pertences utiliza-se em situações que descrevem todos os bens materiais que pertencem a alguém, como roupas, sapatos, livros, e que serão sobretudo de uso pessoal.
Por outro lado, o nome pertença tem como sentidos possíveis «o que faz parte de algo; parte acessória de algo; propriedade, domínio», tendo como sinónimo o nome domínio e sendo utilizado em situações como: «Antigamente, em certas comunidades rurais, o forno, o poço, eram pertença de todos» (DLPACL). Isto indica que o nome pertença se usa em contextos em que se refere o património ou a riqueza de alguém, como, por exemplo, casas, quintas ou terrenos.
Portanto, pertences e pertenças não são palavras sinónimas, embora ambas derivem por regressividade ou derivação não afixal do verbo pertencer. Pertences deve-se usar para descrever objetos pessoais, ao passo que pertenças se usa para mencionar bens patrimoniais.
Boa tarde. Na frase seguinte, podemos considerar o advérbio nunca (repetido) com função conetiva? Com valor conetivo?
«É música livre, porque imprevisível, nunca sabemos por onde irá seguir, mas nunca fica perdida, nunca abdica de se ancorar na estrutura.»
Obrigado pelo vosso excelente trabalho.
Na frase apresentada pelo consulente, o advérbio nunca não está a desempenhar uma função conetiva.
De acordo com o Dicionário Terminológico (DT), os conetores discursivos «são uma classe de marcadores discursivos, que ligam um enunciado a outro enunciado ou uma sequência de enunciados a outra sequência, estabelecendo uma relação semântica e pragmática entre os membros da cadeia discursiva (...), têm a mesma distribuição da classe de palavras a que pertencem e contribuem de modo relevante para a coesão textual, orientando o recetor na interpretação dos enunciados, na construção das inferências, no desenvolvimento dos argumentos e dos contra-argumentos». Neste sentido, na frase apresentada, identifica-se, logo de imediato, dois conetores: porque, com valor explicativo; mas, com valor adversativo.
Note-se que as omissões dos conetores de uma frase não afetam o valor dos nexos estabelecidos, pois este pode ser inferido. Deste modo, identifica-se na frase, entre a segunda e a terceira oração («porque imprevisível, nunca sabemos por onde irá seguir») e a penúltima oração e a última («nunca fica perdida, nunca abdica de se ancorar na estrutura»), uma conexão aditiva e que se recupera por inferência. Estas orações estabelecem entre si uma relação de coordenação, sendo consideradas coordenadas assindéticas, visto nenhuma delas ser introduzida por uma conjunção. Segundo Macário Lopes e Rio-Torto, em Semântica<...
A relação semântica entre as expressões «em vez de» e «ao invés de» é o tema do apontamento gramatical da consultora Inês Gama (divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2, em 08/12/2024).
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