Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
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Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora
A língua portuguesa em Cabo Verde
Entrevista à professora Goreti Freire - Parte I

De modo a compreender um pouco melhor a realidade linguística de Cabo Verde, nomeadamente o estatuto e papel que a língua portuguesa desempenha nos dias de hoje, o Ciberdúvidas conversou com a professora da Universidade de Cabo Verde Goreti Freire. Nesta conversa, publicada em duas partes, esta especialista explica-nos a relação da língua portuguesa com o crioulo cabo-verdiano, a forma como funciona a coexistência destes dois sistemas e como é que isto afeta o ensino neste país.

Pergunta:

A palavra off (desligado ou fora) leva itálico em se tratando de um estrangeirismo.

Mas e quando aparece como parte de um composto, como ocorre em: «narrador em off»?

O off como partícula composta precisa perder o itálico na realidade? O narrador em off é o narrador da história que não é «visto pessoalmente», só tem a voz dele mesmo.

Muitíssimo obrigado!

Resposta:

Com estrangeirismos não adaptados recomenda-se o itálico, embora este não seja um preceito expresso pelo Acordo Ortográfico.

De acordo com o verbete Aportuguesamentos e uso de estrangeirismo, utilizado como referência pelo governo brasileiro, as palavras híbridas (derivadas de estrangeirismos) são escritas sem itálico, mantendo-se a forma original do termo e acrescentando-se o prefixo ou sufixo da língua portuguesa como, por exemplo, darwinismo ou kantiano. Contudo, este não é o caso de off, por conseguinte, afigura-se adequado «em off» com o off em itálico. Verifica-se, no entanto, entidades que, na redação interna e nas suas publicações permitem margem de tolerância para a ausência do itálico em expressões como «em off».

O itálico deve apenas ser usado, segundo a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, em palavras ou expressões com grafia estranha ao sistema ortográfico português, como é o caso de estrangeirismos. Portanto, caso a palavra off seja usada de modo isolado, sem o acrescento de um segmento de palavra português, deve estar em itálico.

Note-se ainda que, no contexto da linguagem audiovisual, isto é, no cinema e na televisão, o termo usado para designar «a voz exterior à cena, que comenta ou narra os acontecimentos» (

Pergunta:

Deve dizer-se «voltaremos em 2 minutos», ou deve dizer-se «voltaremos dentro de 2 minutos»?

Resposta:

Ambas as frases estão corretas. Neste caso, pode-se assumir que o uso temporal das expressões «em 2 minutos» e «dentro de 2 minutos» tem nestas estruturas um sentido idêntico, assumindo ambas a função sintática de modificador de localização temporal.

Geralmente, para referir um intervalo de tempo compreendido entre o momento da enunciação e a situação seguinte, é comum o uso da locução «dentro de» seguido de uma expressão quantificadora de tempo: «volto dentro de 2 minutos», «o alarme vai soar dentro de um minuto», «chegam dentro de uma hora»1. De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, a locução «dentro de» tem como sentido «no espaço de tempo que medeia o momento de enunciação e o período de tempo referido». Quer isto dizer que «voltaremos dentro de 2 minutos» indica o momento em que a ausência do sujeito do enunciado (“nós”) acaba através do seu regresso ao local da enunciação.

Nestes casos, também se pode verificar o emprego da expressão «em x tempo». Verifique-se o exemplo seguinte:

(1) «Meus Senhores, tenho muita pena mas em poucos minutos tenho de fechar a casa.» (Rúben A., Páginas, 1988, in Corpus do Português)

Note-se, porém, que, em (1), «em poucos minutos tenho de fechar a casa» pode ter uma dupla leitura:<...

O ensino do português em Moçambique
Entrevista à professora Marta Sitoe – Parte II

De modo a tentar conhecer um pouco melhor o funcionamento do ensino do português em Moçambique, o Ciberdúvidas conversou com a professora e investigadora Marta Sitoe, da Universidade Eduardo Mondlane, sobre questões relacionados com o ensino neste país.

A língua portuguesa em Moçambique
Entrevista à professora Marta Sitoe – Parte I

No sentido de tentar perceber a situação linguística e o funcionamento do ensino do português em Moçambique, o Ciberdúvidas conversou com a professora Marta Sitoe, investigadora da Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique). No decurso da conversa, publicada em duas partes, esta especialista abordou os temas da complexa realidade linguística deste país africano e das características do ensino de línguas, nomeadamente o português.